Minha vida é meu caiaque


COSTA RICA: Roberta Borsari dropa onda na praia Hermossa

Por Roberta Borsari
Foto por Dominic Rodwell

UM PAÍS CONHECIDO PELA FORTE ENERGIA DA NATUREZA, com lindas praias, altas ondas, vulcões, rios, parques nacionais e o dizer popular que traduz tudo isso: pura vida! Assim é a Costa Rica, país escolhido para sediar o mundial de Kayaksurf 2005. A equipe brasileira era composta apenas por dois irmãos – essa que vos escreve e Fábio, meu irmão mais velho – e um sonho em comum: representar o Brasil num mundial de canoagem.

Para mim, foi uma viagem muito especial, pois a primeira vez que fui à Costa Rica, oito anos atrás, trabalhava como instrutora de rafting e fui fazer um estágio na companhia mais tradicional do país, a Rios Tropicales. Entre as descidas do rio Pacuare, considerado o 5º melhor rafting do mundo, tive o meu primeiro contato com a canoagem de águas brancas. Quando voltei ao Brasil, na semana seguinte já havia comprado o meu primeiro caiaque e não parei mais. Me desenvolvi nas várias modalidades da canoagem e há três anos me dedico ao kayaksurf.

São poucos os anos, mas a dedicação a um esporte pouco conhecido e sem incentivo é intensa. Sou pioneira e a única mulher no Brasil a participar desta modalidade, sem contar que moro numa cidade sem praia (São Paulo), tenho que viajar duas horas para surfar e faço 70% do meu treino em água parada. Do outro lado, americanos e europeus com duas décadas de experiência no kayaksurf, extremamente organizados com vários campeonatos nacionais e internacionais por ano, patrocínios incríveis, equipes numerosas, equipamentos de primeira e atletas que vivem do esporte. Eu era a única mulher da América Latina a participar do evento e tinha a sensação que um abismo separava as nossas realidades. Mesmo assim, nosso caiaque brasileiríssimo chamou a atenção dos gringos pelo design que por ser mais manobrável, permite fazer um desenho diferente na onda e obter uma performance próxima a de uma prancha de surf. Foi só elogios.

Tivemos dias de boas ondas durante a competição e conforme ia passando nas minhas baterias, foi crescendo a sensação de que algo mais ia acontecer. Cheguei às semi-finais, onde estavam apenas eu, uma escocesa e as americanas. As outras atletas, inglesas, irlandesas, espanholas etc. estavam todas fora da prova. De repente, na minha última bateria, vi que estava a apenas 20 minutos de participar da final do mundial.

Mas, naquele dia, as ondas estavam ruins e não se abriram pra mim. Acabei ficando com a 8ª colocação. Meu mundo caiu por alguns instantes, mas depois pensei que quando cheguei à Costa Rica estar entre as TOP 10 era muito mais do que podia imaginar, com todas as limitações que tenho, principalmente por não viver do esporte e surfar apenas nos fins de semana. Fui lá e competi de igual para igual com as californianas e outras atletas que tem ondas na porta de casa e só fazem isso.

Voltei pra casa com uma injeção de ânimo para batalhar pelo kayaksurf. Quero fazer o esporte mais competitivo no Brasil e isso é uma luta de uma vida.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2005)