Pé quente

Por Gabriel Fortes
Foto por Cristiano Quintino

Desde 2002, um gaúcho de 35 anos radicado em Campinas, interior de São Paulo, utiliza o asfalto para esquiar. Exótico? Os gringos também acham, mas isso fez dele um sucesso no Mundial da categoria, neste ano, na Alemanha. Hélio Freitas era o único competidor de um país tropical e acabou manchete de vários jornais e revistas européias. “Fiquei em penúltimo, mas as pessoas gritavam mais meu nome do que o dos favoritos”, conta ele, que leva o esporte a sério, com objetivos bem definidos e foca sob sol forte a gelada Olimpíada de Inverno de 2006, que será disputada em fevereiro, em Turim.

Hélio só descobriu que o esqui cross-country poderia render um futuro interessante quando teve contato real com a neve pela primeira vez, há três anos, em Ushuaia, capital da Terra do Fogo, na Patagônia Argentina. De lá para cá, o funcionário público federal não parou. Além do Mundial na Alemanha, ele agora sonha ser o representante tupiniquim na Itália. “Sou o único no Brasil com pontuação na federação internacional, portanto, embora ainda não seja oficial, eu devo representar o país na Olimpíada de Inverno”, afirma.

A Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) é o único órgão que apóia Freitas. Banca viagens para dar ritmo competitivo ao esquiador, mas está de mãos atadas no que se refere à oferta de condições para treinos. As atividades em Campinas são diárias e conciliadas com as obrigações de um fiscal da Receita Federal. Ele adquiriu há dois anos alguns equipamentos específicos para treinar no asfalto e na grama o que pratica na neve. “Um é o roller ski (mistura de esqui com patins para treinar no asfalto) e o outro é o classical all terrain ski (para qualquer tipo de terreno). Ambos permitem que eu literalmente esquie em qualquer lugar. Mas é bem diferente do que na neve”, diz. “No começo eu praticamente não conseguia sair do lugar. Agora domino o esporte, mas ainda não há como fugir das últimas colocações”.

As atividades de condicionamento físico, maior exigência deste esporte, são complementadas pelo “passado atleta” de Hélio. Há 12 anos ele participa de provas de triathlon e há quatro é figura certa nas principais maratonas do país. Em casa, o esquiador exótico corre na esteira da namorada Priscilla Kamada Higa, escritora amadora que produz um livro sobre as dificuldades de representar o Brasil em um esporte tão estranho para uma “pátria de chuteiras”. “Eu saio na rua aqui em Campinas para treinar com o equipamento e muitas vezes sou ofendido pelas pessoas, menosprezado. Resolvemos contar isso em um livro e mostrar que é um trabalho sério”.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2005)







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