Mais forte do que nunca


NOVIDADE: Nas ondas mexicanas, Picuruta testa prancha biquilha modelo retrô que levará seu nome

Por Cassio Waki
Fotos por Arquivo Pessoal

São 33 anos de surf. E, ainda assim, toda vez que Picuruta Salazar coloca os pés na água salgada, rende uma prece a Iemanjá, a rainha dos mares. “É minha maneira de demonstrar meu respeito pelo mar”, diz. Não é à toa que esse mesmo mar o recompensa a cada onda. No fim de novembro, o santista de 45 anos faturou seu nono título brasileiro no Circuito Brasileiro Petrobrás de Longboard, e o 154º de sua carreira. Além da conquista recente, há dez anos Picuruta é o melhor brasileiro rankeado no Circuito Mundial de Longboard. No ranking mundial, ele está hoje em 5º lugar. É um dos poucos privilegiados no mundo a ter surfado, por 37 minutos ininterruptos, os 12 quilômetros de uma única onda na Pororoca do Rio Amazonas, na fronteira com a Guiana – aventura que rendeu o documentário “Pororoca – Surfando o Amazonas”.


MARCANTE: O pai Alexandre Bigode entrega o troféu ao filho

Desde que se iniciou no surf, aos oito anos, Picuruta tem o apoio da família. “Foi meu irmão Lequinho que me colocou de pé numa prancha pela primeira vez e desde então minha vida é o surf. Na época o surf era visto com muito preconceito pela sociedade, mas meu pai sempre me deu uma força. Ele dizia: ‘Faz bem feito para não sofrer no futuro’”, lembra.

Falando em futuro, Picuruta já traça planos como treinador de surf. “Há muita molecada boa, mas que não tem uma orientação adequada. Minha intenção é identificar jovens talentos e encaminhá-los dentro do esporte, com ajuda de patrocinadores”, afirma. Mas o surfista não pretende encerrar sua carreira tão cedo. “Este ano vou com tudo para o meu décimo título. Vou buscá-lo com toda a minha garra. Por incrível que pareça, me sinto cada vez mais forte”, revela.

Parte dessa força vem dos três filhos surfistas e de sua esposa, Karin, que coordena a escola de surf que já tem 80 alunos (www.picuruta.com.br). “A derrota é algo que acompanha o atleta em qualquer modalidade. E nada melhor do que um ajudar o outro dentro de casa”, diz ele. “O surf é minha vida. Sofri bastante no começo, mas fiz do meu hobby minha profissão. Me sinto orgulhoso em ter construído uma família e uma carreira por meio do surf”, completa. Picuruta construiu também parte da história do surf brasileiro.


20 E POUCOS: Picuruta desbanca cariocas

Algumas manobras desse longo drop

Ralador de côco

No tempo em que as pranchas eram feitas de isopor, Picuruta virava-as ao contrário e colocava uma quilha de madeira para surfar. Com seu irmão, fazia shapes com ralador de côco, papel celofane, resina, entre outros materiais bem improvisados. “O longboard era feito de madeira e pesava uns 40 quilos. Todo mundo queria entrar no mar com ela, mas para sair…”.

Surf paulista

Foi em 1980 que Picuruta ajudou a colocar o surf paulista no cenário nacional. “Naquela época não havia um circuito brasileiro com várias etapas. Era um só campeonato no ano e os cariocas tinham a hegemonia”, diz. Porém, num torneio em Ubatuba, os paulistas Paulo Rabelo e Picuruta Salazar escreveram seu nome na história ao conquistarem primeiro e segundo lugares, respectivamente. “Depois disso, o surf virou febre em São Paulo”, revela.

Marcante

Uma das conquistas mais importantes do surfista aconteceu em 1988, no campeonato Niasi Tribuna, no Guarujá. “Vinha de um momento difícil na minha vida. Meu irmão Lequinho havia falecido e eu estava prestes a desistir do surf, mas encontrei forças para continuar. Ganhei esse campeonato pelo meu irmão e quem me entregou o troféu foi meu pai. Foi um momento marcante na minha vida”.

Memórias

Neste mês, a editora Gaia lança a biografia de Picuruta, com muitas histórias e imagens inéditas. Até o fechamento desta edição, o livro não tinha recebido um título.

Alto nível

Ganhar um campeonato brasileiro de longboard está cada vez mais difícil, pois a cada ano os surfistas estão mais preparados. “Tem uma molecada muito boa como Danilo Mulinha, Jaime Viúdes, Marcelo Freitas, Bahia. Não é mole ganhar deles, não”.

Dica

“Surf é o esporte mais fácil que tem. Mas para começar não é só comprar uma pranchinha e pular no mar. Procure uma orientação adequada e comece com longboards. São pranchas maiores, mais largas, que dão mais equilíbrio, estabilidade e te deixam mais à vontade”.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2006)







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