Pedais épicos


PEDALA: Ciclistas suam montanha acima no Cape Epic, na África do Sul

Por Gabriel Fortes

Primeiro foi na corrida: as distâncias foram crescendo, os desafios aumentando, até que provas como a Maratona de Sables, que percorre 250 km pelo deserto do Marrocos, virassem o sonho de quem treina todo dia nos parques da cidade. Mais recentemente tem acontecido no mountain bike: cresce o interesse por provas que chegam a mais de mil quilômetros, passando por países distintos e paisagens fascinantes, numa perfeita simbiose entre o atleta e a natureza, o homem comum e o mundo. E o grande barato é que não são só os profissionais que podem curtir uma aventura dessas – por serem divididas em etapas, essas provas possibilitam que ciclistas amadores dispostas a treinar também encarem um ultradesafio.

Eventos como o Cape Epic e o Transalp atraem cada vez mais gente em busca de uma experiência saudável e desafiante. “O cara vai para um lugar diferente de tudo o que já viu. É como se tirasse uma semana de férias para fazer o que mais gosta, que é pedalar e conhecer outros países. É muito mais interessante do que uma competição de um fim de semana, por exemplo”, conta Mário Roma, 43, português radicado no Brasil há oito anos. Mário participou do TransAlp em 2003 e do Cape Epic em 2005 – e vai repetir a dose deste último agora em abril. “É tão acessível para pessoas comuns quanto para os maiores nomes do MTB mundial. E é por isso que estas maratonas são tão populares hoje em dia”. Confira as principais competições do mundo e prepare as pernas.

Cape Epic, África do Sul (www.cape-epic.com)

Acontece anualmente em abril, com uma rota diferente a cada edição. A prova deste ano terá 950 quilômetros e um ganho de altura de 16.605 m – duas vezes a altitude do Everest. A largada acontece na cidade de Knysna; a cada dia os competidores pedalarão uma média de 120 km para, oito dias depois, receber a bandeirada nas proximidades da Cidade do Cabo. Ao fim de cada etapa, os ciclistas chegam num enorme acampamento transportado pela organização, onde tomam banho, comem e descansam para o dia seguinte. De amadores a profissionais, a organização do Cape Epic exige que todos os ciclistas sejam inscritos em equipes duplas. Existem quatro categorias: feminino, masculino, misto e master – a combinação das idades não pode passar dos 80 anos, enquanto a idade mínima é 18. As duplas devem pedalar juntas até o final da prova e completar as etapas diárias até as 17 horas.

Transalp, Alemanha (www.transalpchallenge.com)

A Transalp é considerada a maratona de bike mais técnica e impressionante do mundo. É também a prova mais tradicional e conhecida entre os aficionados por ultramaratonas de bike. A prova cruza os alpes europeus em 600 quilômetros de percurso pra lá de montanhoso, que são divididos em oito etapas. As inscrições para a edição deste ano, a nona da história, terminaram em cinco minutos. A largada acontece dia 15 de julho em Füssen, uma cidadezinha no sul da Alemanha, aos pés do castelo Neuschwanstein, a obra que inspirou Walt Disney a construir o chamariz de seu parque na Flórida. A partir dali são oito dias pela bela paisagem dos Alpes, passando pela Áustria, Suíça e chegando a Limone, na Itália, nas margens do lago Garda. Ao todo, 525 equipes de dois atletas encararão o desafio.


Cycle Epic, Austrália (www.cycleepic.com)

Acontece durante os três primeiros dias de setembro em Brisbane, capital de Queensland, numa localidade chamada Lockyer Valley. É uma prova dura que demanda preparo físico específico, força e habilidade. Neste ano a organização incrementou o evento com novas categorias, a fim de promover os profissionais e oferecer diversão às famílias. O “Flight Centre Classic” tem 100 quilômetros para homens e mulheres desafiarem a si mesmos numa corrida contra o relógio, com premiação em dinheiro. Já o “Pro Team Challenge Trophy” é voltado para equipes profissionais de quatro integrantes. O resultado é uma combinação dos tempos dos três melhores ciclistas. Existe também uma competição de duplas com 100 quilômetros, onde cada ciclista pedala por 50 quilômetros; outra de 50 quilômetros para homens e mulheres desafiarem o relógio por uma premiação em dinheiro; uma “escalada” de 400 metros que dá US$ 500 ao vencedor; e o desafio para crianças entre 5 e 13 anos de idade em um percurso de 5 quilômetros.

Tour da Afrique, Cairo (www.tourdafrique.com)

O desafio que corta a África é gigantesco – e por isso mesmo, menos concorrido. São quase 12 mil quilômetros de pedaladas do Cairo, no Egito, à Cidade do Cabo, na África do Sul. Desde 2003, a jornada começa nos meses de janeiro e passa ao todo por 10 países. É um teste tanto físico quanto mental, com 99 etapas com uma média de 120 quilômetros por dia, num total de até quatro meses no continente africano. A organização do evento transporta os equipamentos e bagagem dos participantes de acampamento para acampamento. As inscrições desta verdadeira expedição de MTB custam US$ 8 mil por pessoa. Os participantes podem escolher entre as diversas categorias para participar do Tour da Afrique, desde a que percorre todo o percurso individualmente até a que seleciona apenas um trecho da jornada.


La Ruta de Los Conquistadores, Costa Rica (www.adventurerace.com)

Maior competição de MTB da América Latina, a prova percorre 400 quilômetros e cruza a Costa Rica de costa a costa entre os dias 3 e 5 de novembro. O percurso costura a floresta chuvosa, montanhas e vulcões em todos os tipos de terrenos – asfalto, terra, areia, lama, areia vulcânica. O vencedor é aquele que somar o menor tempo nos três dias de prova.


Cerapió, Brasil (www.cerapio.com.br)

É a maior competição de MTB de longa distância do Brasil. A prova de bike acontece paralelamente a um rali. Este ano, ela vai do Ceará ao Piauí. No ano seguinte, o trajeto é invertido e a prova passa a ser chamada de Piocerá. As bikes largam no dia 24 de janeiro da cidade de Aquiraz para um percurso de 410 quilômetros que deve ser vencido em cinco dias. São cinco etapas até a chegada em Teresina, Piauí. Neste ano, a organização recebeu 150 inscrições. São duas categorias: velocidade, da qual participam mulheres de todas as idades, homens profissionais, atletas sub-20, 30, 40 e over 40 e 50; a outra é a Ecoturismo, em que se encaixam os demais interessados.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2006)