Por Piti Vieira A artista americana A. Laurie Palmer teve a idéia enquanto nadava na chiquérrima piscina do ginásio da Universidade de Harvard. Depois de 1.500 metros contínuos de braçadas, ela parou para descansar e ficou assistindo à horda de ciclistas e corredores que se extenuavam em bicicletas de spinning e esteiras ergométricas, respectivamente. “Por que não aproveitar a energia que eles estão gastando sem ir a lugar nenhum? Talvez reduza a dependência de petróleo que estamos vivendo”, pensou. Nasceu ali, na beira da piscina, o projeto de arte on line Notions of Expenditure (Noções de Gasto –www.uic.edu/aa/college/gallery400/notions/home.htm), que encoraja os participantes a pensar em maneiras de transformar exercícios físicos em geradores de energia.
A idéia de produzir energia utilizando a força humana não é nova. No século 19, pesquisadores americanos estudaram detentos da prisão de Bellevue, em Nova York, que como castigo empurravam uma roda que triturava grãos de milho para fazer pão. A energia produzida por cada um nesse processo punitivo era de 100 watts por dia. Ainda que a maioria das propostas inspiradas pelo projeto de Laurie fique na esfera conceitual e artística, algumas flertam com a realidade. O professor de engenharia elétrica Raj Pandian, da Universidade de Tulane, em New Orleans, por exemplo, criou um protótipo de uma gangorra que usa um sistema de molas e é movida a pressão do ar. A invenção cria de 15 a 30 watts, energia suficiente para acender uma lâmpada pequena.
Mas pesquisadores ainda são céticos quanto a tirar de um ser humano energia suficiente para acabar com nossos problemas ambientais. Exceto em casos extremos de atletas de elite supercondicionados, o limite de energia para bikes de spinning fica entre 75 watts e 150 watts. Se a vida imita a arte, é bom começarmos a levar mais a sério a idéia da senhorita Palmer e procurar outras fontes de energia, menos poluentes. Pra começar, que tal o Bus Bike – um ônibus colorido, com janelões panorâmicos e equipado com 15 bicicletas para aulas de spinning (www.busbike.com.br), que circula pelas ruas do Rio de Janeiro, começar a produzir sua própria energia e não poluir ainda mais o ar de uma cidade geograficamente privilegiada e ótima para se fazer exercícios ao ar livre?
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2006)
Ilustração por Mr. Guache