No ar rarefeito


REPETECO: A dupla Rodrigo Ranieri e Vitor Negrete volta ao Everest para terminar o que começou em 2005

Por Andréa Estevam
Foto por Guilherme Setani

LÁ VÃO ELES NOVAMENTE, encarar os 8.850 metros da montanha mais alta do mundo. Em junho de 2005, quando a primeira edição de Go Outside chegava às bancas, os alpinistas Vitor Negrete e Rodrigo Raineri voltavam de sua primeira expedição ao Everest, depois de enfrentarem uma das piores temporadas da história da montanha, com temperaturas baixíssimas e ventos excruciantes que não permitiram à dupla realizar o sonho de chegar ao cume sem usar oxigênio em cilindros – feito conseguido por somente 80 ocidentais até hoje. Os dois se separaram durante a subida e somente Vitor chegou ao cume, usando oxigênio suplementar. Rodrigo tomou a dura decisão de voltar, a apenas 50 metros do topo. “Voltei por uma série de razões pessoais, entre elas a certeza que voltaria para subir sem oxigênio. Com oxigênio, na minha atual situação física e psicológica, o cume é só uma questao de bom tempo. O desafio é subir sem”, diz.

Nove meses depois, os dois estão de novo no Tibet, na China, preparando-se para uma nova tentativa – juntos, sem oxigênio e com o patrocínio da Go Outside. “Pra mim foi traumático chegar ao topo sozinho, mesmo considerando os motivos que levaram a isso. Para mim é importante refazer a escalada com o Rodrigo, meu parceiro. Por isso estou ainda mais animado este ano”, diz Vitor Negrete. “Desta vez a ansiedade é bem menor porque estivemos lá no ano passado e mandamos bem. Já fui até 8.200 metros sem oxigênio”, completa Raineri. A subida será feita novamente pela face Norte, mais exposta e com maior dificuldade de resgate.

A dupla passou os últimos meses treinando e planejando os detalhes da Try On/ Go Outside Expedition Everest 2006, aproveitando a experiência do ano passado para mudar algumas estratégias. “Agora sabemos exatamente onde montar cada acampamento e contratamos os melhores sherpas que vimos na montanha no ano passado”, diz Vitor. “Também teremos uma ‘barraca escritório’ com aquecedor a gás no acampamento base avançado, a 6.400 metros, onde ficaremos mais tempo e de onde sairemos para as subidas de aclimatação. Assim, gastaremos menos energia para nos manter aquecidos e a espera pelo bom tempo será menos sofrida – afinal, são dois meses acampados em cima do gelo”, explica Rodrigo Raineri. O modelo de aclimatação (subidas e descidas para adaptar o corpo ao ar rarefeito) também será mais rápido, para desgastar menos os alpinistas.

Oxigênio em garrafas, só para os carregadores sherpas. “Vamos levar apenas um cilindro de quatro litros, suficiente para uma pessoa respirar durante oito horas, deitado, para uma emergência. Essa garrafa ficará no acampamento 3, a 8.300 metros, o último antes do cume, para usarmos na descida se estivermos passando mal”, explica Vitor. Os sherpas acompanharão toda a escalada para auxiliar os brasileiros, caso alguém tenha problemas. “Ter os sherpas conosco aumenta a segurança e as chances de sucesso”, diz Rodrigo.

Não há previsão quanto ao clima, mas os brasileiros esperam ter mais sorte este ano. “O clima da terra está cada vez mais imprevisível, mas ainda existem momentos de calma. Espero que isso aconteça este ano. Eu gostaria de fazer o cume na primeira quinzena de maio, na lua cheia”, diz Raineri.

Acompanharemos toda a jornada da dupla e, a partir da próxima edição, traremos fotos e emails enviados por Vitor e Rodrigo, direto da montanha. Enquanto isso, no nosso site (www.gooutside.com.br) você pode ver informações atualizadas sobre a expedição, ler as matérias já publicadas na Go Outside sobre os brasileiros e o Everest e ainda ver o mapa da montanha, com seus acampamentos e rotas.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2006)







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