Alçando vôo


GEOGRAFIA: As diversas formações rochosas da região proporcionam excelentes térmicass para os voadores da Copa do Mundo de Parapente

Por Caio Salles
Foto por Martin Scheel

Dezessete pilotos disputam os quilômetros finais da corrida, acelerando ao máximo para cruzarem a faixa final em primeiro lugar. No último dos 47,3 quilômetros de prova, um dos competidores acelera além dos limites pra garantir grande vantagem sobre os outros. A menos de 200 metros da chegada, o combustível acaba e o piloto vê diversos de seus oponentes o ultrapassarem segundos e até minutos depois. Emocionante? Agora, imagine tudo isso acontecendo no céu. Pois é exatamente essa a cena da primeira prova da Copa do Mundo de Parapente, que reuniu entre os dias 18 e 25 de março, na cidade de Castelo, no Espírito Santo, 128 voadores representando 27 diferentes nações.

No parapente, o combustível vem da natureza e é chamado de térmica. O sol aquece o solo, que transmite calor para o ar, que, aquecido, sobe até condesar-se formando uma nuvem. Mantendo-se dentro dessas “bolhas” de ar, o parapente chega a subir a mais de três mil metros de altitude. Com a altura é possível planar até uma próxima térmica e seguir voando por diversos quilômetros. Quando o piloto não consegue achar uma nova térmica pra “encher o tanque”, ele é obrigado a escolher um local seguro e pousar. Foi isso que aconteceu com o hexacampeão brasileiro, o capixaba Frank Brown, na primeira prova da mais disputada competição do parapente no mundo. Saiu da última térmica na frente e mais baixo que todos os que estavam com ele e acabou pousando a poucos metros da faixa final.

No dia seguinte, Frank mostrou porque há quatro anos está entre os cinco melhores pilotos do mundo. Dezenas de pessoas estão ao lado da linha de chegada olhando um grupo de 63 pilotos disputar os cinco quilômetros finais de uma prova com trajeto total de 57 quilômetros. Enquanto aproximam-se todos emparelhados, cerca de 200 metros acima de uma pequena montanha, Frank aparece à frente de todos, contornando o relevo a menos de 20 metros do chão. Desviando de árvores pelo caminho e com o “combustível” no limite, ele cruza a faixa final em primeiro, 15 segundos à frente do segundo colocado.

Vice-campeão mundial em 2003, Frank Brown foi o primeiro brasileiro a correr todo o circuito internacional de competições. Além de levar o nome do Brasil para todos os cantos do mundo, Frank levou também outros pilotos para formarem uma nova geração de bons voadores. O primeiro deles foi o atual vice-campeão brasileiro, o gaúcho Luciano Tcacenco, conhecido como Bafinho. Em 2005, em seu segundo ano competindo o circuito internacional, ele conquistou o terceiro lugar na Copa do Mundo na Sérvia e terminou o ano em 23º no ranking, mesmo sem participar de todas as competições. Além dele, competiram pela primeira vez em etapas da Copa do Mundo em 2005, os mineiros Rafael Carvalho e Cristiano Ricci, o carioca Rodrigo Monteiro, e a primeira mulher brasileira nesta competição, a também carioca Kamira Pereira.

Depois de levar novos competidores ao circuito mundial, Frank agora foi o grande responsável por trazer os diversos pilotos estrangeiros para voar no Brasil e mais precisamente em seu estado natal, o Espírito Santo. Esta é a segunda vez que a Copa do Mundo de Parapente vem ao Brasil – a cidade mineira de Governador Valadares sediou o evento em 2000 – e a primeira que um brasileiro completa à frente de todos os outros pilotos. Mais um ponto pra Frank Brown e seu trabalho pelo vôo livre brasileiro.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2006)







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