Lá em cima


PERDA: Roberta, em Bariloche, no começo deste ano

Por Piti Vieira

“A maior e mais corajosa escaladora de rocha que o Brasil já teve”. A frase de Eliseu Frechou, renomado escalador e montanhista brasileiro, responsável por várias conquistas de Big Walls com alto nível de dificuldade, reflete o que a Go Outside sempre achou de Roberta Nunes. A valentia dessa escaladora paranaense pode ser comprovada nas três edições da revista em que ela mostrou suas aventuras, sempre amarradona no esporte que mais amava.

Roberta embarcou para os Estados Unidos em junho para passar uma temporada de escalada de quatro meses no Parque Nacional de Yosemite – sede de algumas das vias de escalada mais famosas do mundo, como as do El Captain, um monolítico de granito de mil metros que ela já havia vencido no ano passado – e encontrar seu namorado, o escalador e fotógrafo norte-americano Sean Leary. O acidente aconteceu dentro do parque que ela tanto admirava e para onde ia há quatro anos. “O El Captain é como se fosse uma universidade de escalada”, dizia ela. Sean não se envolveu no acidente e até o fechamento desta edição trabalhava junto com a família e alguns patrocinadores para trazê-la de volta ao Brasil.

Roberta tinha começado a escalar há 10 anos e desde 1998 passava seis meses fora do Brasil, dependurada em alguma rocha. No restante do ano, ela montava base em seu ginásio de escalada em Curitiba, onde morava. Há dois anos, ela e a espanhola Cecília Buil abriram uma nova rota de escalada na maior falésia (parede de rocha) marinha do mundo, o Thumbnail, com 1.560 metros de verticalidade saindo diretamente da água, ao sul da Groelândia “Ficamos um mês na Groelândia. Realizamos uma travessia em caiaques marinhos individuais por 80 quilômetros em três dias, vendo focas, icebergs e baleias. Subimos o Thumbnail, mas como o tempo estava bom, decidimos escalar também o monte Maujit Gorgassiana (1.620 metros). Acabou se tornando a maior rota de escalada técnica (não caminhada) aberta por mulheres na história do alpinismo mundial”.

Além disso, a moça escalou o El Captain, pela via Lurking Fear — que leva de três a seis dias para ser completada —, em 15 horas, e se estabeleceu como a única não norte-americana a realizar o feito. No começo deste ano, Roberta decidiu tentar algo quase impossível para a Patagônia, outro lugar que idolatrava: escalar as agulhas Guillaumet (2.593 metros) e Mermoz (2.754 metros) em apenas 10 horas – e conseguiu. “Nunca fiquei preocupada em morrer. A escalada mudou meus valores de vida. Além de me modificar fisicamente, me fez deixar de lado valores materiais para continuar viajando. Esse esporte me completa”, dizia.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2006)







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