Aventureiros mirins

Por Erika Salum, Cassio Waki e Fernanda Franco

Nada mal ser criança nos dias de hoje. Em um passado recente, um garoto de sete anos não tinha muita escolha: se quisesse praticar algum esporte, suas opções ficavam entre o judô, a natação ou, com uma dose de sorte, a escolinha de futebol perto de casa. Às suas colegas do sexo feminino, restava seguir as coreografias das aulas de balé ou jazz. Sem falar nas mais “saidinhas”, relegadas a cursos de vôlei ou handebol. Não que essas modalidades não tenham sua graça, pelo contrário: com o judô, gerações e gerações aprenderam disciplina e, por meio dos esportes de quadra, se ligaram na importância do trabalho em equipe. O problema é que, naquela época, era isso ou ficar no playground do prédio jogando queimada.

Felizmente, os tempos mudaram. Do final da década de 1980 para cá, as atividades outdoor se popularizaram. Os chamados esportes de aventura caíram no gosto de milhões de pessoas espalhadas pelos continentes. Rapel, escalada, remo, mountain bike e muitas outras práticas saíram do seleto clube dos atletas profissionais e hoje encantam do mais descoordenado ex-sedentário ao mais adrenado viciado em adrenalina, passando pelo fissurado em perder calorias.

A garotada também está cada vez mais ligada ao mundo “lá fora”. Sorte delas, que agora podem se jogar morro abaixo em cima de bicicletas ultra-resistentes, escalar montanhas em cadeirinhas do seu tamanho, rechear suas minimochilas com apetrechos de trekking e sair por aí curtindo as maravilhas da natureza protegidas por equipamentos feitos especialmente para essa faixa etária. Com isso, surgem campeões e feras cada vez mais novos, que prometem expandir os limites atuais do esporte nas próximas décadas. E nasce também uma nova geração de aventureiros conscientes e preocupados com o meio ambiente. “Qualquer prática esportiva tem, obviamente, sua magia. Mas as atividades outdoor trazem um benefício a mais: elas fazem com que a criança estabeleça um outro tipo de relação com o meio ambiente. Em outras palavras, isso é qualidade de vida. Não há dúvidas de que quem começa cedo a interagir com os esportes e com a natureza se torna um adulto mais ativo e saudável”, diz Osvaldo Luiz Ferraz, professor de educação física escolar da Universidade de São Paulo.

ENFIAR O PÉ NA LAMA E SUJAR A ROUPA DE TERRA traz vantagens que se refletem não apenas no aspecto físico dos pequenos atletas. Há ganhos em inúmeros lados da vida, da melhora no desempenho escolar a uma maior desenvoltura no contato com os colegas. Antes de virar um mountain biker dedicado, Celso Figueira de Mello, de 10 anos, era um garoto tímido. Por incentivo do pai, começou a pedalar pelas trilhas de Petrópolis, no Rio, onde mora com a família. Aos poucos, foi conseguindo pular valas, fazer curvas complicadas e ultrapassar pirambeiras cheias de pedra. “Conforme o Celsinho vencia as dificuldades naturais das trilhas, sua personalidade se alterava. Ele está mais extrovertido, seguro de si, mais feliz mesmo”, diz o pai, que também se chama Celso.

Encarar desafios e saber lidar com os próprios limites são ensinamentos essenciais em todas as etapas da vida, principalmente para meninos e meninas de cidades grandes que vivem cercados de grades, vendo a violência na televisão. O velejador e octacampeão mundial na classe laser Robert Scheidt praticamente nasceu fazendo esporte. Antes da vela, treinou atletismo, natação e tênis. Traz consigo até hoje as lições que aprendeu nas pistas, piscinas e quadras. “Disciplina, determinação, foco e saber ganhar e perder. São valores importantes para qualquer criança”, diz o campeão olímpico.

Há dez anos, o pedagogo e psicólogo Oscar de Luca, do grupo Pró-Líder de São Paulo, organiza expedições com jovens entre 8 e 16 anos. Seu método de trabalho consiste em usar o montanhismo como ferramenta pedagógica, incentivando os participantes a escalar picos como o das Agulhas Negras, em Itatiaia, ou o da Bandeira, em Monte Verde. O objetivo, segundo ele, é fazer com que os alunos vivenciem, na prática, situações em que precisem raciocinar rápido, superar medos, organizar uma logística de atuação e trabalhar em grupo. “Oito dias no mato equivalem a seis meses de teoria dentro da sala de aula”, diz Oscar. “Ao conquistar o topo de uma montanha com seus próprios esforços, eles ganham autoconfiança, segurança e motivação. Ficar em uma redoma de vidro, preso na escola ou no apartamento, atrofia muitos dos talentos das crianças.”

Por conta do cada vez mais crescente interesse de pais e filhos por esportes outdoor, o mercado vem se agitando. Escolinhas de surfe pipocam no litoral brasileiro, atraindo surfistinhas-mirins cheios de atitude como o baiano Yagê Fernandes Araújo, de 12 anos. Revelação do esporte nos últimos tempos, ele subiu pela primeira vez em uma prancha com apenas três anos, supervisionado pelos instrutores da escola de sua família. Nunca mais parou de pegar ondas. Cabelinho parafinado, jeitão desencanado e pose de campeão, Yagê é a cara da nova safra de atletas brasileiros (leia sobre ele e outros futuros campeões nas páginas a seguir). “Ele foi criado solto, sem neuras. Isso foi muito importante para ele se largar no mar sem encanações maiores”, conta o irmão e também surfista Hongos Araújo. “Ele se joga em ondas nas quais muito cara grande não tem coragem. Sua alma é de surfista.”

O KITESURF TAMBÉM VEM CONQUISTANDO CORAJOSOS GURIS, que aproveitando a chegada do verão procuram escolas como as de Ilhabela, em São Paulo, e João Pessoa, na Paraíba. Outro esporte que faz sucesso entre a petizada é a corrida de aventura, principalmente por misturar bike, trekking, remo e técnicas verticais. Desde 2004, a organização da prova Adventure Camp oferece “corridinhas de aventura” para participantes entre 6 e 16 anos. Um dia antes das competições, instrutores especializados ensinam o bê-abá de cada modalidade. É emocionante ver a petizada em suas microbikes, felizes da vida, enquanto aguardam a largada da prova. “Queremos mostrar com esse tipo de evento que a corrida de aventura pode ser praticada em família”, diz Sérgio Zolino, organizador do Camp. “Numa corrida como essa, as crianças trabalham a integração e a sociabilização.”

Nem todas as crianças, no entanto, encaram um esporte de aventura da mesma maneira. Existem as mais atiradas, como o norte-americano Jordan Romero, filho do corredor de aventura Paul Romero, que com 10 anos acaba de escalar o Kilimanjaro, o ponto mais alto da África. “Primeiro checamos se ele realmente tinha vontade de se enveredar pelo esporte”, diz a mãe, Karen Lundgren. “É um desejo dele, e só dele. Damos o maior apoio, mas quem decide o que quer fazer é o Jordan.” Karen está mais do que certa. Mesmo que o pai ou a mãe sejam apaixonados por canoa havaiana ou triatlo, cabe ao filho escolher se quer praticar determinado esporte ou não. “As crianças têm se interessado muito por esportes que fogem dos tradicionais pelo maior acesso que têm às informações”, diz Ana Lúcia de Sá Pinto, pediatra e médica do esporte do Ambulatório de Medicina Esportiva do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Mas seus limites devem ser respeitados. É interessante também que pratiquem diversas modalidades, para que trabalhem várias partes do corpo.”

Confira abaixo quem são os novos talentos dos esportes de aventura e as histórias de infância dos campeões de hoje.

SURF

Nome: Yagê Fernandes Araújo

Idade: 12 anos

Altura: 1,55 m

Peso: 31 kgs

Cidade: Itacaré (Bahia)

Modalidade: surf

Primeiros passos: Não tinha muito como o moleque escapar. Dos cinco irmãos, quatro são surfistas. Há alguns anos, a família abriu uma escolinha de surf em Itacaré. Tiquinho de gente, Yagê subiu pela primeira vez em uma prancha aos 3 anos. Se tinha medo das ondas? “Claro, mas meus irmãos me empurravam para o mar assim mesmo”, conta, rindo. Criado solto em uma cidade perfeita para o esporte, o guri se jogou de cabeça no hobby que hoje está se transformando em uma profissão. Não, claro, sem levar uns capotes – já levou seis pontos na testa e outros seis no pé em acidentes leves na água. “É impressionante como Yagê ama o surf. Todo dia, ao sair para o mar, ele grita: ‘Mãe, tô indo trabalhar’”, diz Bia, a progenitora da prole de surfistas.

Rotina de campeão: “O quintal do Yagê é o mar”, afirma Bia. Como vive a poucos metros da praia, diariamente ele acorda por volta das 6h30 e meia hora depois já está pegando onda. O espuleta fica dentro da água até umas 11h30, quando vai para casa almoçar antes do colégio. Para agüentar os treinos puxados, faz muito alongamento e exercícios para fortalecer os músculos e evitar lesões. Uma nutricionista prepara seu cardápio, que precisa ser reforçado por causa dos exercícios. Mas, como toda criança, ele curte comer umas porcarias e às vezes escapa da dieta de atleta. Nada que prejudique sua performance.

Adrenalina: Ele nunca tinha saído do Brasil quando foi escalado por seu patrocinador para uma turnê pelas praias do Peru. Tinha 9 anos e ficou encantando com as ondas do país. “Foi uma viagem muito irada, era onda todo dia, cada vez num lugar novo”, relembra Yagê, todo empolgado.

Segunda opinião: “O Yagê detesta marola e é daqueles que, quanto maior o mar, melhor. É pequeno, mas tem muita atitude, é super atirado. Tem o instinto do surf no sangue.” Hongos Fernandes Araújo, irmão, surfista e um dos donos da escolinha de surf freqüentada por Yagê.


MOUNTAIN BIKE

Nome: Celso Figueira de Mello

Idade: 10 anos.

Altura: 1,41 m

Peso: 32,5 kgs

Cidade: Petrópolis (Rio de Janeiro)

Modalidade: mountain bike

Primeiros passos: Com 7 anos, Celsinho ganhou sua primeira bike de trilhas, de tanto pedir para acompanhar o pai em seus passeios ciclísticos pelo mato. Já que não havia uma magrela para sua idade nas lojas, o jeito foi improvisar: um antigo quadro GT tamanho 13,5 de um amigo da família ganhou suspensão e peças mais novas para suportar os barrancos. Descer as ribanceiras nunca foi problema para quem já estava habituado a ficar sobre duas rodas – antes de completar 5 anos, o danado praticava motocross em pistas do Rio. Equilíbrio e uma surpreendente facilidade para vencer as serras de Petrópolis são a marca registrada do moleque, que agora também conta com uma bike de estrada para melhorar sua performance.

Rotina de campeão: Quando está se preparando para provas curtas, ele treina cerca de 40 minutos por dia no arborizado condomínio onde mora, focando principalmente técnicas de mountain bike e tiros. Para competições mais extensas, a intensidade diminui e as pedaladas costumam ser de 1h. Duas vezes por semana, passam para 1h30 de duração. Aos sábados, vai para a estrada com sua bike de speed, onde percorre 40 quilômetros, ou se embrenha em uma trilha perto de casa, com 30 quilômetros.

Adrenalina: Este ano, na etapa da Copa Ametur que rolou em Araxá, em Minas Gerais, havia uma descida animal em que quase todos os competidores barbudos tiveram de “zerar” (colocar o pé no chão para não perder o equilíbrio). Celsinho se jogou morro abaixo. A galera que assistia ao evento naquele trecho só para acompanhar os piores chãos aplaudiu ao ver o malabarista-mirim.

Por que é promessa do esporte: Este ano venceu três das quatro etapas do Campeonato Carioca de Mountain Bike, sagrando-se campeão por antecipação, e ganhou três das quatro provas que compõem a Copa Ametur, uma das mais importantes do circuito brasileiro. A última etapa acontece neste mês. Aos 9 anos, ficou em quarto lugar no Iron Biker 2005, competindo com garotos de até 13 anos.

Segunda opinião: “O Celsinho tem um dom natural. Pedalei com ele e fiquei boquiaberto ao ver como alguém tão pequeno consegue subir bem trechos íngremes. Se continuar levando o esporte a sério, será sem dúvida uma grande revelação.” Albert Morgen, bicampeão pan-americano de mountain bike.

MONTANHISMO

Nome: Jordan Romero

Idade: 10 anos

Altura: 1,44 m

Peso: 38,5 kgs

Cidade: Big Bear Lake (Califórnia, Estados Unidos)

Modalidade: montanhismo

Primeiros passos: Tudo começou quando Jordan viu uma pintura dos sete cumes mais altos de cada continente. Ele tinha 9 anos e nunca mais tirou aquilo da cabeça. Até que um dia seu pai, Paul Romero, veterano corredor de aventura da equipe Team Sole, convidou o pequeno para um passeio, digamos, inusitado: subir o Kilimanjaro, o ponto mais alto da África, a 5.895 metros de altura. O garoto topou no ato. “Lógico que eu quero escalar o Kili, pai”, disse, decidido.

Rotina de campeão: Para vencer a montanha, Jordan ficou um ano se preparando. Seus pais o levavam para caminhadas em trilhas e subidas em pequenas montanhas. “Primeiro, fizemos com que Jordan tomasse gosto por atividades ao ar livre. Queríamos ter certeza de que ele realmente tinha vontade de sair pelo campo com uma mochila nas costas”, conta a mãe, Karen Lundgren. Seu dia se resumia a ir à escola das 9h às 15 horas, andar de bicicleta, caminhar e remar. À noite, ainda tinha de estar “animado” para fazer a lição de casa. A preparação para o Kilimanjaro deu-se principalmente durante as férias escolares, quando a família aproveitava para viajar para lugares onde Jordan pudesse ter um treino mais específico.

Adrenalina: Chegar ao cume do Kilimanjaro é uma conquista invejável, em qualquer idade. Se você tem apenas 10 anos, então, bota emoção nisso. O feito aconteceu em 22 de julho deste ano. “Foi o dia mais feliz da minha vida. Fui o mais jovem a atingir o topo e não me agüentava de felicidade. Só não deu para ficar muito tempo por lá, porque estava muito frio, uns –20ºC”, relembra.

Por que é promessa do esporte: Jordan tem um projeto de ser o mais jovem montanhista a atingir os sete cumes mais altos de cada continente. O recorde hoje pertence a Danielle Fischer, que completou o desafio aos 20 anos. Em se tratando do valente Jordan, filho de dois grandes nomes do esporte de aventura, o objetivo deve ser alcançado em breve. No próximo ano, ele planeja subir o Monte Elbrus, na Rússia. Cheio de tino comercial, colocou à venda camisetas com os dizeres em latim “ad alta” (“em direção ao cume”).

Segunda opinião: “Desde cedo, Jordan aprendeu os valores do esporte. Sabe que tudo deve ser planejado e que metas precisam ser estabelecidas. Assim a sensação de conquista e de dever cumprido vai permanecendo com ele a vida toda. É demais ver sua determinação em conquistar os sete cumes.” Karen Lundgren, mãe e corredora de aventura.

SKATE

Nome: Yuri Facchini

Idade: 10 anos

Altura: 1,47 m

Peso: 31 kgs

Cidade: Colombo (Paraná)

Modalidade: skate

Primeiros passos: Yuri cresceu vendo seus irmãos mais velhos fazendo altas bizarrices no skate. Com 4 anos, não agüentou de vontade e exigiu que o pai lhe desse um também. “O skate era maior do que ele. Mesmo assim o Yuri subia e ficava andando dentro de casa”, diverte-se o pai, Fernando Facchini. Dois anos depois, o diminuto skatista já mostrava que tinha talento para o negócio, conseguindo realizar várias manobras sensacionais. Aos 7 anos, disputou seu primeiro campeonato, ficando em quarto lugar. Ele fala pouco, é tímido, mas sabe direitinho o que quer: “O skate será minha profissão”.

Rotina de campeão: Yuri treina de duas a três vezes por semana, sempre na parte da tarde. Geralmente separa as terças, quintas e sábados, das 15h às 19h, para praticar no Drop Dead Skatepark, localizado em Curitiba, perto de sua cidade. Lá, conta com a orientação de professores. Quando não está em cima do skate, assiste a vídeos para se inspirar. Seu preferido é “The Kayo Corp It’s Official”, protagonizado pelos ídolos Wade Des Armo, Lenny Rivas e Jack Curtain. Pela manhã, vai para a escola, onde capricha nas aulas de inglês para, quem sabe um dia, poder conversar com outros atletas em campeonatos no exterior.

Adrenalina: A primeira vez que Yuri participou de um campeonato foi inesquecível. Com apenas 7 anos, conquistou o quarto lugar no Drop Dead de 2003. “Ganhar ou ficar entre os primeiros é muito bom, mas o que eu acho mais legal do skate é a amizade. Andar com meus amigos é maravilhoso.”

Por que é promessa do esporte: Aos 10 anos, Yuri já tem 26 troféus. Foi considerado revelação do ano em 2005, no Circuito Drop Dread, principal torneio no Paraná, e é o atual líder do ranking brasileiro na categoria amador mirim.

Segunda opinião: "O skate está no sangue dele. Nos campeonatos, sempre tira uma manobra nova da manga e deixa todo mundo iompressionado". Fernando Facchini, pai.

SURF

Nome: Ícaro Ronchi

Idade: 15 anos

Altura: 1,63 m

Peso: 59 kgs

Cidade: Florianópolis (Santa Catarina)

Modalidade: surf

Primeiros passos: Ícaro conheceu a sensação de subir em uma prancha no mar com 3 anos de idade, quando seu pai, Ledo, colocou-o de pé em seu longboard. Aos 8, ele teve um momento futebol, em que trocou o surf pela pelota. Mas a fase de jogador não durou muito. “Bateu aquela vontade de voltar para a água”, conta Ícaro. Aos 10 anos, o catarinense ganhou sua primeira prancha e começou a treinar com um amigo. De quebra, ainda pegava em casa altas dicas com o pai, seu treinador e principal incentivador.

Rotina de campeão: Ícaro começa o dia cedo e, às 7h, já está na escola. Mas aí é voltar para casa, almoçar e se preparar para cair no mar. Treina todos os dias até o fim da tarde e, duas vezes por semana, ainda faz aulas de natação. Para cuidar do lado emocional, freqüenta sessões com um psicólogo do esporte.

Adrenalina: Até no Havaí, o jovem surfista já experimentou as ondas. Foi lá que aconteceu um dos momentos de maior emoção de sua carreira. “Foi um tubo perfeito de dois metros que peguei em Rock Point, na ilha de Oahu. Irado! Era grande e meus amigos que estavam olhando de fora falaram que foi demais”.

Por que é promessa do esporte: Aos 15 anos, Ícaro disputa na categoria mirim, classificando-se para todas as finais do circuito catarinense. Este ano já ganhou uma das etapas e também já dá trabalho para os marmanjos, chegando a três finais na categoria junior (até 18 anos).

Segunda opinião: “O Ícaro é um batalhador nato, muito esforçado. Tem um belo repertório de manobras radicais. Além do biotipo bom para o surf, treina bastante para alcançar seu objetivo, que é ser um atleta profissional da elite do surf mundial. Outro fator interessante é que ele viaja para vários lugares para se aprimorar, como Costa Rica, Panamá e Galápagos”, diz Ledo Ronchi, o pai-treinador.

ESCALADA

Nome: Ana Paula de Mesquita Lobo Veloso

Idade: 12 anos

Altura: 1,45 m

Peso: 30 kgs

Cidade: São Paulo (São Paulo)

Modalidade: escalada

Primeiros passos: Filha de um geólogo e de uma chefe de escoteiros e irmã caçula de três escaladores, Ana Paula sempre esteve próxima aos esportes. Há cerca de quatro anos, ela assistiu à performance de dois de seus irmãos em um campeonato de escalada indoor, em São Paulo. Nesse evento, ficou encantada ao se pendurar, por pura farra, nas agarras de uma parede. O que era uma brincadeira se transformou em treino sério. Incentivada pela família, iniciou seu treinamento aos 8 anos de idade e, a desde os 10, participa de campeonatos na Liga Paulista de Escalada Escolar. De lá partiu para o Paulista e Brasileiro. Quase sempre competindo com atletas mais velhas, a mocinha não se intimidou e hoje é a atual campeã juvenil brasileira, na categoria até 17 anos.

Rotina de campeão: Em um ginásio de escalada, ela treina três vezes por semana durante uma hora. Os treinos são planilhados e intercalam exercícios em boulder e em paredes de escalada. Ocasionalmente nos finais de semana pratica boulder em rocha em Ubatuba. Também é escoteira e desenvolve atividades ao ar livre todos os sábados.

Adrenalina: Há pouco tempo participou do Campeonato Brasileiro de Escalada, concorrendo com pessoas de até 17 anos. “Achei a via muito alta e com alto grau de dificuldade. Passei o campeonato todo adrenada, mas consegui ganhar!”, conta Ana Paula, vibrando.

Por que é promessa do esporte: A garota já abocanhou vários títulos bacanas. É vice-campeã da Liga Escolar de Escalada 2004 , campeã da Liga Escolar 2005, campeã paulista 2005, campeã do Festival Boulder de Campinas 2005 e campeã Brasileira juvenil 2006. Essa vai longe.

Segunda opinião: “A Ana é uma escaladora excepcional, de nível internacional. Não tenho dúvidas de que, num futuro próximo, ela tem chances de ficar entre as melhores do mundo e trazer títulos para o Brasil” André Berezoski, 29,vice-campeão pan-americano de escalada e treinador de Ana Paula há 4 anos.


CORRIDA DE AVENTURA

Nome: Ana Sayeg Tranchesi

Idade: 14 anos

Altura: 1,70 m

Peso: 56 kgd

Cidade: São Paulo (São Paulo)

Modalidade: corrida de aventura

Primeiros passos: Ana é uma legítima exemplar da nova geração da aventura que começa a brilhar no Brasil. Levada ainda pequenininha para passeios de bike nas trilhas ao redor da fazenda da família, tomou gosto pela lama. Como já era fã de esportes, caiu de amores pela nova modalidade que se popularizava por estas bandas: a corrida de aventura. Desde o início, em 2004, participa do Adventure Camp Kids, o único circuito com um percurso mais curto especialmente voltado para a molecada. De lá pra cá, não perdeu uma etapa sequer. Semelhante ao que acontece no mundo dos adultos, as meninas ainda são minorias no esporte, e por isso sempre sobram convites para Ana integrar várias equipes. Hoje ela faz parte de um quarteto fixo.

Rotina de campeão: Não é moleza se preparar para provas de aventura, que incluem várias modalidades. Ana é dedicada: treina três vezes por semana, alternando remo, mountain bike e corrida, sendo que a intensidade varia de acordo com as competições. Duas vezes por semana também pratica futebol, outro esporte que ela ama de paixão.

Adrenalina: Numa das disputas mais acirradas que teve com a equipe líder do circuito do Camp, o quarteto de Ana travou um duelo pau a pau até a linha de chegada. “Ficamos a prova inteira num pega-pega e, mesmo fazendo muita força, no final eles ganharam. Ainda assim vi o 2º lugar como uma vitória.”

Por que é promessa do esporte: Das cerca de 10 provas que já participou, esteve no pódio em 5, uma delas como campeã. Já pode ser considerada “veterana”, por ter passado vários “perrengues” típicos da modalidade e, principalmente, por carregar o espírito do esporte. “Adoro fazer força. Se não cansar, não tem graça.”

Segunda opinião: “A Ana é nova e já tem mentalidade de atleta de corrida de aventura. Sabe o que significa equipe, sabe perder e ganhar. Apesar de menina, já navega e faz leme na canoagem, algo ainda raro entre mulheres adultas” Shubi Guimarães, treinadara de Ana e corredora de aventura

A INFÂNCIA DOS CAMPEÕES

Bob Burnquist, skatista quatro vezes medalha de ouro nos X Games, principal campeonato de esportes radicais do mundo

“Certa vez emprestei minha bola de futebol a um amigo. Quando fui buscá-la, ele a tinha perdido. Para se desculpar, ofereceu um skate velho em troca, e eu aceitei. Foi meu primeiro skate, com o qual comecei a freqüentar o Ultra Skatepark, em São Paulo, onde aprendi muito. Foi lá também que eu conheci meus colegas de profissão Sandro Dias, Lincoln Ueda e Cristiano Mateus. Nessa época, eu ainda jogava beisebol, influenciado pelo meu pai, que adorava esse jogo. Ele me levava sempre ao bairro do Bom Retiro para praticar em um campo que havia lá. Também era um bom goleiro de handebol na escola.”

Robert Scheidt, velejador e octacampeão mundial na classe laser, vencedor de duas medalhas de ouro e uma de prata em Jogos Olimpícos.

“Antes da vela, eu fazia atletismo, natação e tênis, que foi a modalidade para a qual eu mais me dediquei até então. Cheguei a participar de torneios intercolegiais, mas depois foquei na vela. Ainda hoje jogo tênis para descontrair. Ao longo da minha carreira, aprendi a importância de contar com o apoio dos pais. Isso nunca me faltou! A insistência e, principalmente, a determinação são fundamentais. Nunca me achei completo, por isso sempre treinei muito, a vida inteira.”

Digiácomo Dias, 24 anos, tricampeão mundial de sandboard

"Joguei futebol até os 12 anos e depois fui para o remo. Mas, aos 16 anos, conheci o sandboard, em Santa Catarina. Meus amigos e eu não sabíamos absolutamente nada, só achávamos legal. Então a gente treinava num lugar bem escondido, onde só ficava a nossa turma. Quando começamos a pegar o jeito, fomos para a Praia da Joaquina, onde os melhores do sand praticavam!”

Érika Gramiscelli, 23 anos, campeã brasileira de ciclismo estrada e atleta de mountain bike

"Aos 7 anos, em Belo Horizonte, minha turminha de amigos se encontrava na pracinha do bairro onde morava para brincar. Eu sempre pegava a bike de algum deles emprestada. Meu sonho era ter minha própria bicicleta e, aos 12 anos, ganhei uma Caloi Cruiser, sem marcha, verde metálico com amarelo degradê. Minha mãe tinha que trancá-la e colocar horários certo, senão eu andava com ela o dia todo.

Eu sempre dava voltas na Lagoa da Pampulha aos domingos. Em 1997, uma turma que pedalava por lá me convidou para participar dos treinos, mas eu precisava de uma bike melhor. Com a ajuda da minha mãe, juntamos 250 reais e compramos uma usada. Só depois soube que aquela bike custava uns 900 reais. Parece que era para ser minha mesmo.”

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Alguns cuidados que os pais devem tomar para proteger a saúde dos seus filhos durantes as práticas esportivas

Por Cassio Waki

Ver seu filho de sorriso aberto se divertindo em uma caminhada pelo mato com sua mochilinha nas costas ou encarando uma estrada de terra em cima de uma mountain bike é, sem dúvida, demais. Mas, como acontece em todas as práticas esportivas, alguns cuidados devem ser tomados para proteger a saúde da criançada.

Antes de sair por aí gastando dinheiro com roupas infantis tecnológicas ou escolinhas de esporte, a primeira grande pedida é se certificar se o pequeno tem realmente vontade de praticar esse tipo de atividade. Quem tem de estar a fim de se dedicar a determinado esporte é a criança, não o pai ou a mãe. Não é forçando a barra que se faz um menino ou menina se mexer. “Se seu filho demonstrar medo diante de alguma modalidade, é preciso descobrir o momento certo de colocá-lo frente a frente com ela”, diz a pediatra e médica dos esportes do Hospital das Clínicas Ana Lucia de Sá Pinto. “Analisar com a criança a segurança do exercício pode ser um caminho para que ela supere qualquer receio inicial.”

Aos seis anos, uma pessoa já possui capacidade motora semelhante a um adulto, mas ainda está desenvolve suas habilidades. Cada um cresce de maneira distinta e saber diferenciar as crianças, mesmo as de idade parecidas, é fundamental. “Não se pode esquecer que são os pais que devem acompanhar o ritmo do filho, e não o contrário”, afirma a pediatra.

Até atingirem a puberdade (meninas até os 12 anos e meninos até os 14 e 16 anos), é interessante que os jovens experimentem vários tipos de esportes, assim exercitando um maior número de músculos e articulações e desenvolvendo diferentes habilidades físicas. Se uma criança praticar somente um esporte desde cedo, há maiores chances de ela se lesionar. Por conta disso, mesmo que a garotada escolha uma modalidade favorita, somar outros exercícios aos seus treinos pode evitar que certos grupos musculares fiquem sobrecarregados.

A partir da puberdade, o corpo humano está pronto para se especializar com mais intensidade em um certo esporte. Em qualquer fase da vida de um jovem, no entanto, não se deve esquecer o lado lúdico da prática esportiva. Saber respeitar os limites do corpo de seu filho é mais do que um sinal de cuidado, é uma demonstração de responsabilidade e amor.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de outubro de 2006)