Por Cassio Waki
Primeiro fechei os olhos e respirei fundo. Em seguida procurei em minha mente algo que inspirasse meu lado atleta. Nada. Mas lá estava eu, nas ruas de Chicago, entre 10.429 malucos que resolveram correr oito quilômetros em uma quente noite de verão.
Pontualmente às 21h do dia 17 de agosto, uma multidão desembestou pelas principais vias da cidade para participar da divertida Nike Run Hit Mix. Como americano não tem mais o que inventar, a cada quilômetro uma banda ao vivo animava a galera – incluindo aí um estiloso Elvis Presley a disparar a canção “Hound Dog”, cheio de ginga. Não pude me conter e, ofegante, gritei “Elvis não morreu!”.
Apesar da distância não ser lá um grande desafio mesmo para mim, correr à noite não foi moleza. Isso porque tudo o que eu não deveria ter feito antes de uma corrida, obviamente, fiz. Dormi tarde na noite anterior e acordei de madrugada para encarar um vôo de quatro horas, sem contar o tempo que se perde em aeroportos. Quase não bebi água e a única refeição do dia foi um prato colossal de macarrão às 18 horas. Muito saudável.
Mas a noite prometia. Elvis e companhia me davam uma injeção de ânimo. Cada vez que alguém gritava “Good job!”, eu ficava mais alegre e determinado a dar minhas passadas noturnas. A infra ajudou. A corrida está no sangue dos norte-americanos há décadas e eles manjam do assunto, isso não se coloca em dúvida. Ao lado de obesos devorando hambúrgueres extra-large, sempre tem alguém correndo com um Ipod no ouvido. Para manter meu ritmo, dois grandes cronômetros marcavam nosso progresso.
Não posso negar que a impressionante quantidade de mulheres também foi essencial para meu rendimento. Fiquei, aliás, surpreso pelo fato de que mais de 60% dos participantes eram do sexo feminino. Uma linda noite em Chicago com música, esporte e mulheres… O que mais eu precisava? Nada, certamente. Porém o locutor da largada de repente desliga o som e faz um anúncio histórico: “Corredores, não se esqueçam de que vocês têm direito a duas cervejas gratuitas ao fim da corrida”. A multidão, eu no meio dela, vai ao delírio. Teve quem olhou para os céus e agradeceu a graça recebida.
Já nas últimas jardas, avistei umas caixas de som distribuídas ao longo de uma curva. Não passava pela minha cabeça aumentar o ritmo, mas aquela música foi demais para mim… O tema do filme Rocky, o Lutador! Senti-me como o próprio Rocky Balboa na antológica cena em que ele sobe uma escadaria, levanta os braços e dá aqueles soquinhos no ar. Empolgado, acelerei o passo rumo à linha de chegada. Emoção controlada e com a medalha no peito, observei, feliz da vida, a multidão que rebolava no show ao vivo da Banda De La Soul enquanto bebericava as cervas na faixa. Doce recompensa.
No dia 12 de novembro, a Nike promoverá um evento semelhante, com corrida e muita música, em nove capitais da América Latina. Em cidades como São Paulo, Buenos Aires e Bogotá, mais de 120 mil pessoas devem participar. Felizmente a balada acontecerá pela manhã, algo relevante em um continente onde a segurança não é lá das melhores. Pelo menos não terei problemas gástricos. Só que sentirei saudades do Elvis de Chicago…
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de outubro de 2006)
DE PARAR O TRÃNSITO: O evento causou congestionamento nas ruas de Chicago
RAVE SAUDÁVEL:Multidão corre 8km para terminar numa balada com som ao vivo