Por Marilin Novak
Fazia 40 dias que chovia ininterruptamente em Caraguatatuba, litoral paulista. Preparadas para enfrentar um aguaceiro, as 109 equipes competidoras da quarta e última etapa do Adventure Camp 2006, que aconteceu no dia 22 de outubro, muniram-se de capa, pneu para barro e outros equipamentos para se proteger da chuva e da lama. Mas parece que a organização do evento fez algum tipo de acordo com São Pedro: na noite anterior à largada, o céu ficou limpo, abrindo espaço para uma lua brilhante. A mudança de tempo animou os corredores da prova, vencida pelos integrantes da Motorola SOS Mata Atlântica, que completaram os 50 quilômetros de percurso em apenas 3h54min.
“Socação de bota total” foi a expressão mais usada pelos atletas para definir essa decisiva etapa do Camp. Em outras palavras, isso significa que o trajeto, curto e sem muitos obstáculos técnicos, permitiu aos participantes apertar o passo e dar todo o gás possível.
Cerca de 50 quilômetros quase livres – exceto pelo resquício de lama nas trilhas – para nadar, remar, correr e pedalar. O percurso só teve uma baixa: a etapa de vertical acabou cortada por falta de um lugar adequado e seguro, segundo explicações da organização.
Diferentemente dos dois últimos anos do Camp – quando os favoritos brasilienses da Oskalungas levaram a melhor sem dar chance aos adversários, em 2006 vinte equipes tinham condições de se sair bem na final, depois de seus bons resultados nas três primeiras etapas, que rolaram nas cidades paulistas de Santa Rita do Passa Quatro, São Pedro e Atibaia.
Alguns quilômetros depois da largada, três times formaram um pelotão de elite com ótimas chances de vitória: a SOS, a Mitsubishi Francis Hydratta QuasarLontra e a Selva NSK Kailash. Cerca de meia hora atrás, vinha a Try On Landscape.
A QuasarLontra caiu fora da disputa pela liderança um pouco antes do PC 6, durante o trekking. “As galeras da SOS e da Selva foram mais ousadas que a gente”, explicou Rafael Campos, capitão da equipe. Ser ousado, no caso, era arriscar um caminho alternativo de cerca de 300 metros, em vez de seguir por uma trilha demarcada de quase dois quilômetros. Pode parecer pouco, mas, em uma prova rápida como essa, os dez minutos ganhos pelas duas equipes foram decisivos — e acabaram deixando a QuasarLontra com o terceiro lugar. Já a Try On cometeu três erros de navegação e não conseguiu se aproximar das três primeiras, chegando 25 minutos depois da QuasarLontra.
A briga prosseguiu intensa até o fim entre as equipes SOS e Selva, com esta última chegando apenas quatro minutos depois da campeã. Comemoração em dobro: no mesmo dia 22, a SOS completou um ano de formação, aniversário que o experiente remador e capitão, Zé Pupo, relembrou com carinho no almoço de confraternização após a prova. “Formar esse time foi uma iniciativa acertadíssima. Além das conquistas, fortalecemos nossa amizade”, disse. Vitória merecida.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2006)
SPRINT FINAL: Com ousadia, força e trabalho de equipe, a SOS Mata Atlântica é campeã do circuito