Braços de ferro


SPRINT: Ao fundo, o four skiff marculino chega para o bronze nos jogos Pan-americanos de Santo Domingo, 2003

Por Mario Mele

Pouca gente se ligou, mas nos últimos cinco anos o remo brasileiro ganhou um espaço até então inédito nas competições internacionais. O primeiro grande flash foi em 2004, em Atenas, quando Fabiana Beltrame sagrou-se a primeira remadora brasileira a participar de uma olimpíada, chegando em 14º na classificação geral. Mais recentemente, o Brasil ainda se destacou do campeonato Sul-Americano em Mar Del Plata (Argentina), abarcando 11 medalhas no total, sendo três de ouro.

Claro que tudo isso é o reflexo da intensa dedicação dos atletas. No entanto, o investimento em condições básicas ao esporte certamente favoreceu a ascendência. “Hoje temos uma estrutura que nos permite o planejamento. Conseguimos oferecer os melhores equipamentos e boa infra-estrutura aos nossos remadores”, diz o diretor técnico da Confederação Brasileira de Remo, Júlio César de Noronha. Ele confessa que o remo foi um dos esportes beneficiados com a sanção da lei Agnelo/Piva (2002), que destina 2% das arrecadações das loterias federais ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Posteriormente, o COB repassa uma verba às confederações mais “pobres”.

Mas basta observar o “mapa” do remo brasileiro para perceber que a modalidade ainda tem muito território para se apossar. Hoje, apenas os estados do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo fabricam remadores.

Para os jogos Pan-americanos, os atletas estão confiantes. Além do elevado nível técnico e físico de que desfrutam, utilizarão barcos de ponta, produzidos pela marca italiana Filippi, importados pelo Comitê Olímpico Brasileiro e que já estão sendo utilizados nos treinamentos.

Preparação

Reunidos desde o início do ano em Porto Alegre, 38 remadores seguem firme na disputa por uma vaga no Pan. Segundo Noronha, eles ainda passarão por algumas avaliações físicas e técnicas até abril, quando serão definidos os 30 que seguirão com a delegação brasileira rumo ao Pan. Em maio deste ano, com as equipes já formadas, ainda disputarão duas etapas da Copa do Mundo, uma na Áustria e outra na Holanda. É a oportunidade que terão de entrar no clima competitivo e voltarem com fôlego total ao Rio de Janeiro, poucos dias antes do início dos jogos Pan-americanos.

Adversários

Para Allan Bittencourt, um de nossos atletas que vem se destacando em competições internacionais, hoje o Brasil tem remadores de ponta, compatíveis às grandes potências mundiais como Inglaterra, Alemanha e Itália. No Pan, ele acredita que os principais adversários serão os Estados Unidos, Canadá e Cuba. “Todos os países têm atletas com características individuais muito boas, mas o que conta muito no final é o entrosamento”. A rivalidade Brasil x Argentina também está presente no remo. Mesmo não sendo as grandes referências neste esporte, nossos hermanos costumam dar trabalho aos remadores brasileiros.


Medalha, medalha, medalha

Pensando em trazer o maior número de medalhas, a comissão técnica está analisando o desempenho de cada atleta e ainda estuda possíveis modificações nas guarnições (como eles chama a formação de cada barco). Para o feminino, a prioridade é deixar um time forte na categoria four skiff, que deverá ser composto por Fabiana Beltrame, Mariana Cadore, Mônica Anversa e Renata Gorgen. A intenção é trazer a primeira medalha feminina no remo em jogos Pan-americanos. No masculino, a dupla Anderson Nocetti/Allan Bittencourt (categoria dois sem pesado), que conquistou o ouro no último Campeonato Sul-Americano, é uma das guarnições com grandes chances de medalha. As duplas Thiago Gomes/José Carlos Sobral Jr. e Alex Arias/Ronaldo Vargas ainda disputam a vaga na categoria double skiff leve.

O remo no Brasil

Apesar de não ser um esporte tão difundido no Brasil, o remo é visto como modalidade de competição desde o final do século XIX, quando as equipes eram formadas por integrantes das escolas Naval e Militar. Oficialmente, a primeira regata foi realizada no dia 5 de junho de 1898, no Rio de Janeiro. As provas internacionais costumam seguir os padrões estabelecidos pela FISA (Fedération Internacionale des Sociétés D’Aviron), que desde 1892 é o órgão que regula as normas desse esporte. Cada torneio é dividido em sucessivas baterias de seis competidores, até os melhores qualificados se encontrarem na grande final. Tanto no masculino quanto no feminino, a divisão é feita em duas categorias, leve e pesado (sênior). O peso limite para competir na leve feminino é de 59kg; no masculino é de 72kg.

Para remar dentro de casa

A marca americana Concept 2 é a única no mundo que fabrica remos ergométricos capazes de simular movimentos idênticos aos do remo de competição. O recém-lançado modelo “E” é o que oferece mais recursos, como monitor cardíaco, bateria recarregável e ainda um sistema wireless que permite disputas contra outras máquinas similares. Algumas academias pelo Brasil já oferecem aulas especiais neste aparelho.

Preço: R$7.500; www.concept2.com.br


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2007)







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