Sem os pés no chão


EM CASA: O escalador e base jumper brasileiro Nicola Martinez
(FOTO: Fred Pompermayer)

Na edição de setembro da revista Go Outside (Ed. 111), publicamos a reportagem "Profissão Perigo", que apresenta a história de pessoas que, apesar de não serem atletas outdoor, encaram expedientes que exigem altas doses de coragem, ótimo preparo físico e muito espírito aventureiro. Leia abaixo, o perfil de um destes personagens, o escalador brasileiro Nicola Martinez, que optou por estar onde mais ama: a metros e metros de altura

Por Nina Rahe

NO FINAL DE JULHO, o paulistano Nicola Martinez voltou para casa mais cedo – era meio-dia e ele já havia sido dispensado do trabalho. Na rotina desse escalador de 36 anos, isso não é incomum. Toda vez que cai um raio a menos de 80 quilômetros, a ordem é encerrar o expediente. Brasileiro radicado na Califórnia, Nicola trabalha desde março deste ano fazendo reparos em torres eólicas em uma fazenda com 44 turbinas, em Shasta County.

A manutenção das torres se dá a uma altura que varia de 80 a 100 metros. Nicola sobe nelas por meio de um elevador interno, desliga a eletricidade das máquinas, realiza os procedimentos de ancoragem das cordas que o sustentarão e, então, se pendura lá em cima para consertar e instalar componentes nas três pás de cada uma das hélices. As normas de segurança são bastante severas: nada de trabalho quando venta muito ou há chuva intensa e raios.

Antes da Califórnia, onde mora desde 2004, Nicola passou os últimos três anos na Dinamarca, como integrante de um projeto de manutenção de turbinas eólicas em outra fazenda de vento. Seu trabalho era basicamente o mesmo, com a diferença de que as 92 turbinas dinamarquesas ficavam no meio do Mar do Norte. Para chegar ao local, a cerca de 40 quilômetros da cidade litorânea de Esbjerg, era preciso andar de barco por 1h30 – a equipe, no entanto, não saia com tempo ruim ou com ondas acima dos dois metros.

Os reparos são realizados sempre em dupla, caso seja necessário resgatar um dos escaladores. Felizmente, desde que se especializou nessa área, o brasileiro nunca presenciou nenhuma tragédia. “Corro mais riscos quando salto de paraquedas ou estou escalando”, diz Nicola, que também é base jumper.


(FOTO: Nicola Martinez)


TRAMPO: Nas duas fotos acima, o paulistano em torres eólicas
(FOTO: Patrick Murphy)

Quando não está trabalhando, o dia-a-dia do paulistano prossegue nas alturas. Em seu extenso currículo de aventura, estão mais de 250 saltos de base jump, alguns em montanhas de 1.200 metros de altura, além de escaladas em picos históricos, como o El Capitan, renomadíssimo paredão rochoso do Parque Nacional do Yosemite, um dos mais famosos destinos de escalada dos Estados Unidos.

Essa experiência em esportes outdoor foi essencial Nicola ser contratado, em 2011, pela empresa onde trabalha hoje, assim que concluiu o curso de alpinismo industrial (exigido para trabalhos realizados em altura). “Na escalada, estou sempre desafiando os limites. Há riscos, mas estou ali porque escolhi. Já na manutenção das torres, existe uma empresa envolvida e toda uma estrutura de segurança, porém sinto muito prazer em ter um trabalho como esse”, diz.

Com a liberdade na empresa para definir seu próprio calendário, optando por uma vida na qual os desafios esportivos não ocupam menos tempo que a profissão – ele tenta trabalhar seis meses e folgar os outros seis –, Nicola costuma passar o ano em viagens de aventura pela Europa, Estados Unidos e Brasil. Sempre, claro, a muitos e muitos metros do chão.

(Trecho de reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2014)







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