Corrida do ouro


ÁGUA NOS OLHOS: E ouro na cabeça. A Bozo D’água, equipe de Brotas, vencendo o brasileiro, na cidade natal

Por Juliana Lopes

Não por acaso, os meninos da Alaya Bozo D’Água – ironicamente apelidados de “Garotos de Ipanema” na gringa – são também membros da equipe vencedora do campeonato brasileiro de rafting, que aconteceu mês passado. Além de todos eles terem nascido na cidade paulista de Brotas e treinado desde sempre nas corredeiras de classe II a IV do rio Jacaré Pepira, onde foi disputada a competição, a equipe é a grande estrela do rafting nacional.

A Bozo D’Água iniciou sua carreira em 2002, já com um 4o lugar no sétimo Campeonato Brasileiro, o que deixou os competidores com ânimo para treinar e buscar mais resultados. Depois de tanto esforço e determinação, em 2003 levaram ouro no mundial de rafting na República Tcheca, e foram os campeões brasileiros de 2004 e 2006. E ainda estão com o gosto da vitória do pan-americano de setembro do ano passado, no rio Pacuare, na Costa Rica.

De Ipanema eles não têm nada, e a próxima corrida pelo ouro já está bem próxima: em junho, os brotenses voam para a Coréia do Sul, onde disputam – como uma das equipes favoritas – o mundial de 2007 com a vaga que conseguiram ao vencerem o último brasileiro. “Essa conquista do tetracampeonato brasileiro foi especialmente importante porque nenhuma equipe havia chegado nessa marca e porque abre as portas para o mundial”, diz Fábio Lourenção, membro da equipe. O capitão do grupo, Lucas Paulino Coré, já está de olho na questão que sempre embaça a vida dos atletas brasileiros: o dinheiro. “Por hora estamos concentrados na busca de patrocinadores, que é a condição para podermos disputar o Mundial. Neste campo, qualquer ajuda está bem-vinda”, disse.

Será a primeira vez que a Coréia do Sul hospedará o campeonato mundial e bienal de rafting, batendo o Japão com 8 votos contra 2 na decisão do local. As provas acontecerão no rio Naerinchon, na região montanhosa de Gangwon Province, a 170 km de Seul, já mais perto da Coréia do Norte. De acordo com a IRF (International Rafting Federation), a região foi escolhida pela limpeza da água e o fácil acesso, entre outros requisitos básicos para a prática do esporte. O Naerinchon é um rio de montanha usualmente de baixo volume, mas na estação chuvosa, em fim de junho, quando rola o campeonato, os níveis tendem a aumentar bastante.

Os favoritos tradicionais no esporte são os europeus, e agora os japoneses também – mas a equipe brasuca prefere nem pensar nisso. “Não gostamos de falar em favoritos. No campeonato mundial de 2003, quando participamos pela primeira vez, vencemos na categoria sprint e ficamos em 3o do mundo, coisa que nunca uma equipe de toda a América Latina havia conseguido”, conta Paulo Sérgio Silveira, 36, um dos atletas da equipe e também coordenador do preparo indoor da Bozo D’Água, que em 2005 não conseguiu ir pro mundial. Paulo, que é personal trainer, fazia o preparo físico da galera em 2002, quando começaram. Em 2005, quando César Rodrigues se machucou, foi convidado a remar no lugar dele e acabou virando parte do time que hoje tem oito integrantes. Para a Coréia, só sete poderão ir. Seis competirão e o reserva terá de ser um “coringa”, que saiba remar dos dois lados para substituir qualquer um da equipe.

Os brasileiros ainda estão buscando informações sobre como será o Mundial. “A gente só sabe que o rio é nível III e IV, mas essa classificação é subjetiva e depende muito da análise de cada país. O nosso maior medo, depois da questão do patrocínio, é a alimentação”, confessa. “Comemos de tudo, mas inseto e carne de cachorro não dá, né?”, diz o atleta, pensando nas esquisitíssimas iguarias coreanas. Para se alimentarem na Costa Rica, onde venceram o Pan-americano, a equipe levou nada menos que 40 quilos de miojo, com medo dos pratos típicos calientes demais que poderiam recepcioná-los.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2007)