Na edição de setembro da revista Go Outside (Ed. 111), publicamos a reportagem "Profissão: Perigo", que apresenta a história de pessoas que, apesar de não serem atletas outdoor, encaram expedientes que exigem altas doses de coragem, ótimo preparo físico e muito espírito aventureiro. Leia abaixo, o perfil de um destes personagens, o geólogo italiano Matteo Roverato
Por Nina Rahe
O GEÓLOGO ITALIANO Matteo Roverato se mudou para o Brasil há pouco mais de um ano. A decisão surgiu de uma enorme vontade de conhecer nosso país. Mesmo assim, o moço morre de saudade dos vulcões, foco de suas pesquisas e a quem tem dedicado a carreira.
A memória de uma das primeiras vezes que escalou um deles, ainda como estudante de geologia, não sai de sua cabeça até hoje: em uma viagem informal, acompanhado por um professor, ele e mais dez alunos saíram de Pisa, na região da Toscana, e dirigiram cerca de dez horas até o vulcão Etna, na Sicília. Sem autorização do governo, o grupo entrou no local à noite e chegou a uma distância de um quilômetro da boca do Etna. Ali pertinho, era possível sentir o calor daquela maravilha da natureza. No caminho de volta para casa, desceram ao lado de rios de lava. Desde então, nunca mais saiu de perto dos vulcões. “Fiquei completamente apaixonado, é uma experiência difícil de descrever”, diz o geólogo de 32 anos.
Para esse vulcanólogo, não é incomum ter que guardar os instrumentos correndo e interromper a coleta de amostras por questões de segurança – afinal, as atividades de um vulcão são imprevisíveis. Em 2013, durante um trabalho de campo no mexicano Colima, considerado o segundo vulcão mais ativo da América do Sul, Matteo e um grupo de pesquisadores precisaram abortar a missão logo que começaram as análises, assim que ouviram explosões ensurdecedoras. “Nessas horas, a sensação é de total impotência, porque se trata de uma força muito superior a todos nós”, conta. “Graças a Deus, a erupção foi pequena, caso contrário não estaria vivo.” Outro perigo são as muitas pedras que se desprenderem da montanha ou são expelidas junto com gases e lava.
No Brasil, Matteo desembarcou para participar de uma pesquisa realizada pelo professor Caetano Juliani, da Universidade de São Paulo (USP), sobre formações vulcânicas no território amazônico. Em julho do ano passado, os dois passaram cerca de 15 dias na região de Tapajós, no Pará, percorrendo um total de 10 mil quilômetros. Embrenharam-se na mata, abriram caminhos em áreas isoladíssimas e dormiram em vilarejos longínquos. As dificuldades, nesse caso, ficavam por conta das serpentes, aranhas e carrapatos. Em um local onde garimpo e tráfico de madeira imperam, novos perrengues se fizeram presentes: ao atravessarem a cerca de uma propriedade para pesquisar uma pedra, os estudiosos entraram no alvo do fuzil de dois capangas da fazenda. Foi preciso muita lábia para convencê-los de que a dupla estava ali em nome da ciência. Achados extraordinários, como rochas perfeitamente preservadas de uma atividade vulcânica de 1,9 bilhões de anos, impressionaram tanto que, recentemente, Matteo e Caetano realizaram uma nova viagem – desta vez, de 45 dias.
Para o geólogo, as atividades em campo são a parte mais sensacional de seu trabalho. “Adoro embarcar em expedições nas quais posso fazer pesquisas e conhecer novos lugares”, diz. Ainda melhor quando essas aventuras desembocam em vulcões enormes e cheios de mistérios.
(Trecho de reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2014)
PELA CIÊNCIA: O vulcanólogo Matteo em sala da Universidade de São Paulo
(FOTO: Alex Batista)
FÚRIA NATURAL: O vulcão Colima, durante erupção de vapor, no México