Os olhos do céu


PARÁ: Praia em Conceição do Araguaia

Por Mario Mele

O engenheiro e piloto Gérard Moss e a esposa Margi Moss passaram grande parte dos anos de 2003 e 2004 a bordo de um hidroavião, colhendo 1160 amostras de água de rios e lagos do Brasil inteiro. O objetivo desse projeto, batizado de Brasil das Águas, era traçar um panorama pontual da qualidade das águas doces brasileiras, uma espécie de instantâneo dos recursos hídricos do país.

Na época, Gérard, um inglês criado na Suíça e naturalizado brasileiro, já tinha no currículo, entre sobrevôos por mais de cem países, duas grandes aventuras: uma volta ao mundo em um avião monomotor e uma outra, inédita, a bordo de um motoplanador, espécie de planador dotado de motor. Os vôos eram feitos a uma altitude baixa o suficiente para se compreender as interferências humanas, mas alta o bastante para se ter uma visão panorâmica de tudo isso. Esse ponto de vista privilegiado lhe trouxe uma constatação: com exceção de poucas regiões, como a Amazônia e a Groelândia, a marca do homem está em todos os lugares. “A partir daí, fazer alguma coisa pelo planeta tornou-se quase uma obrigação para mim”, conta.

BRASIL CENTRAL: Irrigação

Quando o casal Moss explodiu na mídia com o Brasil das Águas, patrocinado pela Petrobrás, houve quem torcesse o nariz, questionando a validade científica do trabalho. Polêmicas à parte, é inegável o poder que a empreitada teve de divulgar o patrimônio hídrico brasileiro, seus potenciais e problemas. E é esse resultado que Gérard mais se empolga em computar: “Ajudamos a fazer ‘cair a ficha’ das pessoas que o Brasil não é só do futebol e do carnaval, mas também das águas”.

Além da exposição na mídia, outro belo produto do projeto foi um impressionante mosaico de fotos aéreas do país – com foco nos rios, obviamente – que virou um livro e está cumprindo um precioso papel educativo no novo projeto da dupla, o Sete Rios, em andamento neste momento. A meta agora é percorrer sete rios brasileiros, de lancha (sempre que é possível) ou jipe, aprofundando as coletas e educando a população ribeirinha. Foram escolhidos rios razoavelmente preservados, mas que se localizam em zonas de risco ambiental. São eles: Araguaia, que corta o Brasil Central; Grande, na Bahia; Ribeira, entre Paraná e São Paulo; Miranda, no Mato Grosso do Sul; Ibicuí, no Rio Grande do Sul; Guaporé, entre Mato Grosso e Rondônia; e Verde, no Mato Grosso.


RIO GRANDE DO SUL: Rio Cacegui

Em cada parada nas cidades e vilarejos, a equipe monta um telão e apresenta imagens aéreas do rio em questão, da nascente à foz. “Isso mexe com as pessoas e provoca discussões”, conta a queniana Margi. “A esperança é que alguns saiam dali mobilizados”. Em outra parte da palestra, é mostrado um panorama da situação da água no Brasil, o que leva a situações curiosas. “Como vamos falar de escassez de água no Pantanal?”, indaga Margi. Ou traz revelações, quando, por exemplo, um ribeirinho do Araguaia vê uma imagem do rio Tietê na metrópole paulistana.

Após a chegada à foz, a expedição é dada como encerrada e um relatório com os resultados é enviado às prefeituras e comunidades. “O objetivo é contribuir na formulação de estratégias e políticas para a questão hídrica”, explica Gérard. Juntando o útil ao agradável, os Moss fizeram do modo de vida aventureiro uma forma de contribuir para a causa que acreditam. “É um pequeno impacto positivo que procuramos legar ao mundo”, conclui.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2007)







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