Homem ao mar


QUE FRIO: Betão (de gorro escuro) e Felipe Whitaker na Rota Boeral 2005, 90 dias sobre o Atlântico, de Nova York à Groelândia

Por Debora Rocha
Fotos por Maristela Colucci

DEPOIS DE ENFRENTAR AS ÁGUAS TURBULENTAS do Cabo Horn e do Estreito do Drake, no extremo sul do continente americano, o brasileiro Beto Pandiani se prepara para içar mais uma vez as velas do seu catamarã. Em setembro, Betão, como é conhecido, e o velejador francês Igor Belly, de apenas 23 anos, enfrentarão o Pacífico por longos e árduos 120 dias na “Expedição Travessia do Pacífico”. É a sexta megatrip do velejador profissional, que já foi até ao Ushuaia e à Antártica navegando, entre outras expedições.

Dessa vez o barco passará mais tempo sem ancorar na costa – serão cerca de 15 dias ininterruptos em alto mar. E, pela primeira vez, Betão fará uma rota no sentido leste-oeste. A dupla parte em setembro de Valparaíso, na região central do Chile e aporta, se tudo der certo, na costa australiana em abril do ano que vem. A Go Outside, apoiadora oficial da expedição, acompanhará toda a aventura.

Ao contrário do que muitos pensam, fazer expedições a vela não é viver mais no mar do que em terra firme. “Meus amigos se espantam quando me encontram. Eles acham que eu só viajo. Na verdade, eu trabalho duro dois, três anos para passar apenas seis meses viajando”, explica Betão. Até a hora do embarque, rola muito tempo de planejamento e preparação. Para esquentar as velas, Betão nos “liberou” um guia esperto de tudo o que ele faz – e você pode fazer, caso decida concretizar sua viagem – para planejar uma aventura desse porte.

SONHE

Viabilidade da viagem

Não adianta apenas sonhar com um roteiro. Cheque se a rota desejada é possível de ser feita e se oferece segurança, acima de tudo. Também tenha certeza de que a expedição pode ser feita com os recursos que você tem disponíveis.

Ineditismo do roteiro

Não existem mais lugares nunca visitados pelo homem. Mesmo assim, busque um roteiro pouco explorado, que ainda desperte interesse nas pessoas. Isso garante visibilidade a sua aventura e interesse do público – o que, por sua vez, facilita a captação de patrocínios.

Ir como quase ninguém vai

Escolhido o local, opte por um meio de transporte diferenciado. Betão viaja a bordo de um catamarã – um tipo de veleiro formado por dois cascos paralelos, interligados na transversal – porque ele é extremamente versátil: pequeno e sem quilha, o barco chega facilmente à costa e pára direto na areia. “Se eu escolhesse um modelo maior, eu não exploraria tantos pontos da costa e não conheceria tantas culturas quanto conheci nas cinco expedições anteriores”, explica.


EXPEDIÇÃO: Betão "toca o barco" enquanto Felipe checa a navegação

PREPARE

Planejar a vida no barco e fora dele

É importante ter alguém em terra firme, encarregado das obrigações rotineiras, como pagar as contas da casa. “Enquanto você está no mar, a vida em terra firme precisa continuar organizada”, explica. Já a vida dentro do barco também precisa de uma rotina. É importante escrever um diário de bordo e captar material fotográfico para a divulgação à mídia durante e depois da viagem.

Preparação física

Para passar meses cruzando oceanos, Betão começa a prepararão física um ano antes da expedição. Ele costuma velejar duas vezes por semana e completa o treino com pedal, musculação e alongamento quatro vezes por semana.

Preparação mental

“Traço o roteiro da viagem num atlas, que mantenho aberto no meu escritório”, diz Betão. Para ele, é importante sonhar com a viagem antes de realizá-la. “Fico horas imaginando o que vou sentir quando chegar à Ilha de Páscoa, o que vou fazer na Indonésia… O exercício de mentalizar aquilo que você deseja te deixa mais perceptivo e aberto ao que está a sua volta. Faz com que as coisas aconteçam”, explica.

DIVULGUE

Divulgação na mídia

Uma expedição como a do Betão exige um investimento financeiro considerável: cerca de 500 mil reais. A não ser que você seja milionário, vai precisar de um patrocinador que banque os gastos. Inclua no orçamento que você apresentará às empresas uma verba para o período de pós-viagem, fase na qual você gastará tempo divulgando o seu projeto na mídia. Sugira pautas sobre a sua expedição para revistas, jornais e emissoras de televisão.

Crie um portfolio do projeto

Monte um portfolio com as principais informações da expedição. Deixe óbvio como os patrocinadores poderão relacionar suas marcas à viagem. “Na maioria das vezes, as marcas que apoiarão serão aquelas que compartilham do mesmo estilo de vida e proposta da viagem”, diz Betão. “Quando um patrocinador está no meu barco, ele quer agregar a marca dele ao espírito de aventura, bem-estar e saúde que as minhas expedições representam”, conta.

Aprenda a ouvir não

Prepare-se para bater de porta em porta para vendê-lo. Betão conta que a preparação psicológica para a viagem começa já antes dela: de 80 tentativas de venda, serão 76 respostas “não” e quatro “sim”. “Se você não tem estrutura para agüentar esse tipo de pressão, não vai agüentar a pressão de meses dentro de um barco”, reforça.

Documente a expedição

Como você conseguirá colocar a sua expedição na mídia se não tiver boas imagens e fotos? “Poucos viajantes no Brasil têm a preocupação de documentar a viagem como eu tenho. Faço questão de contratar bons cinegrafistas e fotógrafos, que me acompanham o tempo todo”, conta Betão.


O BARQUINHO VIROU: Mas não tombou. A manobra é supercomum durante a navegação do catamarã

ZARPE

Equipamentos mínimos de segurança

Balsa e coletes salva-vidas, GPS, bússola digital, telefone via satélite, rádio de curto alcance, ferramentas de reparo do barco, peças reservas para o caso de alguma peça do barco quebrar, kit médico, rastreador via satélite, lanternas, equipamento de mergulho (para consertos na parte de baixo do barco) e piloto automático (o barco não possui, é preciso comprar a parte).

Equipamentos úteis

Laptop à prova d’água com internet, câmera de vídeo e câmera fotográfica digitais; dessalinizador manual.

Roupas e outros acessórios

Roupas náuticas impermeabilizadas, lycras para usar por baixo das roupas e outras roupas de uso comum, para serem usadas por baixo das impermeáveis, nécessaire, protetor solar, livros, tocador de MP3.

Sugestão de comida

Leite, cereais, frutas secas, biscoitos, queijos, salame, presunto cru, docinhos do tipo “bananinhas”, castanhas, laranja e maçã, comida desidratada, bebidas energéticas, barras de cereais, gel energético, água e isotônico em pó. Bebidas alcoólicas devem ficar de fora da lista

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2007)







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