Por Cassio Waki
Não é pra qualquer um
Correr uma maratona no Himalaia não é para qualquer um; por isso a organização da prova estabelece pré-requisitos para selecionar os atletas. Antes de efetuar a inscrição, o interessado deve preencher uma aplicação e listar seu currículo de maratonas, corridas em montanhas e provas de resistência com distâncias, tipo de terreno, tempo e colocação. A partir desses dados, os diretores de prova selecionam os 75 felizardos no início de maio.
Se você só correu em asfalto, esquece. Há trechos muito sinuosos por terrenos acidentados e cheios de gelo. Portanto, é melhor providenciar um tênis especial para trilhas, começar a subir montanhas e incrementar seu currículo.
Tudo em grupo
É uma das regiões mais belas e procuradas por aventureiros do mundo todo e você terá 22 dias para aclimatar-se, de acordo com a programação. A organização divide competidores e seus apoios em três grupos para subir até 5.623 metros, em Kala Pattar, e estabelecer-se em Gorak Shep, há 5184 metros, o local da largada.
A subida é feita com apoio médico e de montanhistas. Você sobe 500 metros, desce 1.000 metros, sobe 500, desce 1.000 e por aí vai. Qualquer sinal de mal-estar, a equipe médica está pronta para socorrer os corredores com seus balões de oxigênio.
Toda sua bagagem e a estrutura da prova é carregada pelos sherpas. Mas na hora da corrida, não tem sherpa e sua mochila pode chegar até 30 quilos, devido ao equipamento de segurança obrigatório, comida, hidratação e roupas.
Todo corredor pode levar uma pessoa para fazer o apoio, não só nos pontos oficiais de atendimento, mas também durante a corrida, por exemplo, pegando os agasalhos que vão ficando no caminho.
Percurso
Olhando o mapa, a impressão é de que a corrida é só descida, dos 5.184 metros, em Gorak Shep, aos 3.446 metros, em Namche Bazaar. Mas não se engane: você estará em uma das cadeias montanhosas mais acidentadas do mundo.
Faltando cerca de 1h30 para o final, o terreno sai de 4.500 metros, desce até 3.500, volta a 4.500 e desce novamente, judiando dos pulmões e das pernas.
O terreno também dificulta a corrida, pois você pode encontrar neve no caminho. Até 4 mil metros é possível correr por trilhas mais verdes, mas acima disso, tome cuidado com as pedras.
O que vestir pode ser uma grande dúvida. A dica é levar vestimentas para três tipos de temperatura: -30ºC, -20ºC e -10ºC. Você pode tirá-las ao longo do caminho e seu apoio recolhê-las. É bom certificar-se de que não fique nada nas trilhas.
Durante os 42 quilômetros de prova, há oito postos de atendimentos aos corredores, sempre localizados nos vilarejos do Himalaia.
PALAVRA DE QUEM CORREU
“Disputo triplos, quíntuplos Ironmans. Ano passado participei de um deca Ironman, mas a Maratona do Everest foi a prova mais diferente e louca de toda a minha vida. Nas minhas provas, sei o que vai ou o que pode acontecer, consigo controlar as dificuldades, mas numa corrida no Everest, você nunca sabe o que pode acontecer, até porque sua vida está em jogo. Por isso, a preparação é muito importante. Tive de mudar minha rotina e aprender a escalar. Tive treinamento com um montanhista e fomos para o Parque Nacional do Itatiaia, no Rio de Janeiro, e também subi o Aconcágua, na Argentina, para sentir as dificuldades da altitude alta e da temperatura baixa. No Everest, a 6 mil metros, cheguei a enfrentar -30ºC e correr só com os olhos de fora. Quando me inscrevi para a prova, pensei que era mais uma corrida de 42 quilômetros, mas não. Você tem de esquecer seu lado super-atleta e ter humildade suficiente para respeitar as dificuldades da montanha. Hoje, me dou ao luxo de dizer que sou o único brasileiro a correr numa altitude de 6 mil metros e que descobri um novo mundo no Everest”.
Sérgio Cordeiro, 53 anos, é ultra triatleta, foi líder do ranking em 2005, já disputou duplos, triplos, quíntuplos e deca ironmans e é o único brasileiro a correr a Maratona do Everest, em 1999, terminando na sétima posição.
É pra lá que eu vou
Acesse o site da prova (www.everestmarathon.org.uk) para preencher a ficha de seleção e aguardar aprovação da direção da maratona. O pacote inclui hospedagem, alimentação e toda a estrutura necessária para os 25 dias. Com passagens inclusas, partindo de Londres, Inglaterra, você terá de desembolsar cerca de R$ 8 mil (sem contar o trecho Brasil-Inglaterra). Há um pacote mais em conta (cerca de R$ 5,6 mil) se você optar por um vôo direto para Kathmandu, Nepal. Prepare para ficar enlatado por um bom tempo nos aviões, pois são duas escalas no mínimo. Consulte companhias como Swiss Air, British Airways, South African, Qatar Airways e Thais Airways. Os preços giram em torno dos R$5 mil.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2007)