Maratona da Trilha Inca para Machu Picchu

Por Cassio Waki

Preparo

Apesar da prova ter um desnível de dois mil metros de altura, ninguém sai correndo assim que chega ao Peru. A organização oferece um pacote de 11 dias, que inclui, além de se acostumar com o ar rarefeito, conhecer a cultura inca, correr, relaxar, comer e se divertir. As atividades são realizadas em grupo de, no máximo, 16 corredores.

O primeiro dia é em Lima, capital do país. No dia seguinte, os corredores seguem de avião até Cusco, a antiga capital do Império Inca. Há as boas-vindas com o chá de folhas de coca, que ajuda na adaptação aos 3.400 metros de altitude. Depois há um passeio pela cidade e à noite um jantar.

O terceiro dia começa com um tour-aclimatação nas cercanias de Cusco, atingindo os 3.700 metros, no forte e templo de Sacsayhuaman. É para ficar encafifado ao imaginar como o ser humano conseguiu transportar rochas de até 125 toneladas até aquela altitude.

No quarto dia a aclimatação acontece a 3.765 metros, em Yucay. Para não cansar os músculos, dá para optar por percursos de 8 a 13 quilômetros, sem subidas ou descidas.

O período de aclimatação termina com mais dez quilômetros ao longo do rio Urubamba até o acampamento montado em Llactapata. A organização disponibiliza carregadores e guias andinos que aliviam o peso nas costas dos corredores e montam um acampamento cinco estrelas, com barraca individual, tendas para refeitório e cozinha, mesas e banheiros químicos.

Percurso

A largada é às 5 horas da manhã do quinto dia e os 13 quilômetros iniciais dão o tom da prova: o corredor sai de 2.560 metros e vai até a impronunciável vila de Warmiwañusq’a, a 4.200 metros, na passagem da Mulher Morta.

A oito quilômetros da temida passagem está o ponto mais crítico da prova, quando o aclive chega a quase 200 metros por quilômetro percorrido. Prepare o seu coração e segure-o firme, caso ele insista em sair boca afora.

A melhor opção aqui é não desperdiçar energia nos desníveis mais acentuados, caminhando nas passagens mais largas. E cuide-se quando entrar nas descidas da trilha Inca, onde o solo é cheio de pedras irregulares e degraus sem nenhuma simetria. Qualquer pisada em falso pode prejudicar os 31 quilômetros restantes.

Há ainda mais dois picos a serem vencidos: as ruínas de Runkuraqay, a 3.993 metros, e a Phuyupatamarca, a 3.639 metros. A partir daí, o altímetro diminui a marca até a chegada em Machu Picchu, que está a 2.400 metros.

Durante os 44 quilômetros, há cinco acampamentos para se hidratar, comer frutas e sanduíches e reabastecer as caramanholas ou reservatórios de águas.

PALAVRA DE QUEM CORREU

“Após uma pequena escalada nos degraus do Portal do Sol, surge uma das paisagens mais espetaculares que eu já vi, a cidade de Machu Picchu, que espera lá embaixo os corredores da trilha inca. E nada melhor, após árduos quilômetros de subidas, uma grande descida para as pernas já pesadas e sem mais nenhuma gota de energia. A estratégia que armei antes de largar foi puxar o ritmo desde o começo e tentar quebrar a barreira das seis horas de prova. Mas não demorou muito para perceber que esta não era uma boa tática. Antes da metade dos 44 quilômetros você já passa por altas altitudes, com inclinações realmente anormais, daquelas de precisar incorporar o Homem-Aranha. Mais do que uma corrida, conhecer os Andes e o Império Inca foi uma experiência enriquecedora.”

Richard Donovan é ultramaratonista irlandês e diretor de prova da Maratona do Ártico. Ele conquistou seu objetivo ao finalizar a corrida em 5h50min.


É pra lá que eu vou

Acesse o site andesadventures.com para inscrição, detalhes do roteiro e mapa da prova. São pouquíssimas as vagas, que acabam cerca de quatro meses antes. A Andes Andventures é a organizadora do evento. Ela cobra 2.150 dólares pelo pacote de 11 dias no Peru, mas você deve chegar a Lima. As companhias Lan Chile, Avianca e TAM voam para lá e uma passagem partindo de São Paulo custa cerca de 1.500 reais.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2007)