Por Roberta Borsari
FOI-SE O TEMPO DOS 360o. Hoje, manobras agressivas como os aéreos estão cada vez mais presentes nos campeonatos de caiaque surf. Aliás, o esporte se aproxima cada vez mais do surf, tanto em técnica quanto em desenvolvimento.
Os grandes fabricantes vêm lançando novos shapes de caiaque e testando as possibilidades de hidrodinâmica e performance. Os atuais modelos são produzidos em fibra ou carbono e podem ser usados com diferentes quilhas, para adequar o equipamento às condições do mar. Com eles dá para surfar ondas rápidas e cavadas, entubar, dar aéreos e dropar ondas de tamanhos consideráveis. Dá até para disputar um mundial na mesma praia em que rola uma etapa do circuito profissional de surf, como aconteceu em outubro em Mundaka, na Espanha.
Os mundiais de caiaque surf acontecem a cada dois anos e definem o ranking do esporte. Países com tradição na modalidade enviam equipes completas, com atletas nas categorias junior, masculino, feminino, master e sênior. O mundial de 2005, na Costa Rica, ficou na memória dos participantes: sol, ondas e os melhores canoístas de diversos países. E quando foi anunciado que mundial de 2007 se realizaria em Mundaka, a comunidade internacional comemorou: essa praia tem uma das ondas mais famosas da Europa – forte, rápida e podendo superar os 10 pés.
A grande maioria dos atletas do circuito internacional são canoístas de rio que migraram para o mar. Os primeiros campeonatos aconteceram na década de 60 na Inglaterra, organizados pela British Canoe Union. É por isso que vários países da Europa são potências desse esporte. Os Estados Unidos, com grande número de praticantes de canoagem e surf, também são destaques nas competições. Abaixo do Equador, alguns países participam com número reduzido de atletas. Entre eles o Brasil, que este ano foi representado por mim e meu irmão Maurício.
OS RESULTADOS QUE OBTIVE NA COPA DE 2005 (4o lugar) e no Festival Internacional de Santa Cruz, em que fui finalista, me deram gás para seguir nas provas, mas uma lesão no ombro me deixou quatro meses sem surfar e atrapalhou meus planos para o mundial deste ano. Para compensar a falta de treinos, cheguei 10 dias antes em Mundaka para literalmente "mergulhar" no surf de caiaque.
Os melhores dias de onda, com swell de dois metros, aconteceram antes das provas e nas finais. Durante boa parte competição, porém, as ondas foram de até um metro na série, com ventos fortes e mar balançando. As baterias corriam velozmente – afinal, 170 atletas se inscreveram nas duas classes, high performance e internacional (caiaques com 3 metros e sem quilhas, o longboard do surf de caiaque).
Os vencedores foram os donos da casa, com uma equipe cheia de novos talentos. Nas provas individuais, o ouro feminino foi para uma canadense,Valerie Bertrand, seguida pelas norte-americanas Treesa Barker e Alisa McDougal. No masculino, ouro e prata ficaram com os Estados Unidos (Rusty Sage e Sean Morley, respectivamente), seguidos pela Inglaterra. Cheguei até as semifinais e mantive minha 7ª colocação no ranking. O Maurício saiu nas eliminatórias, mas impressionou pelo seu estilo de surf.
Pouca gente sabe, mas o Brasil já sediou um mundial de caiaque surf em 1999. O evento foi um sucesso, mas não deixou sementes para o desenvolvimento da modalidade. Até hoje, muita gente ainda se surpreende ao ver um caiaque dropando uma onda de 2 metros – tudo isso num país com 8.500 quilômetros de litoral e altas ondas. Temos um potencial incrível e os gringos gostam muito do estilo dos brasileiros na água. Ou seja: ainda temos muito o que remar pela frente.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2007)
SPRAY: Aéreos nas ondas de Mundaka, na Espanha
REALIZAÇÃO: Borsari felizona depois de mais uma onda