Boleiros do pedal


RIVALIDADE: Áustria e Bélgica costumam protagonizar jogos acirrados no cycle-ball

Por Mario Mele

E, por mais insólito que pareça, não é novidade: o cycle-ball nasceu no final do século 19 nos Estados Unidos

A SÉTIMA E PENÚLTIMA ETAPA da copa do mundo de Cycle-Ball 2007 rolou no dia 8 de dezembro em Höchst, na Áustria. Se você nunca ouviu falar desse esporte, o mais difícil ainda é acreditar que atletas de diversos países dedicam suas vidas a ele, a ponto do órgão máximo do ciclismo mundial – a União Ciclística Internacional (UCI) – incluí-lo no seu calendário anual de eventos em 1930.

O cycle-ball, uma mistura de futebol com ciclismo, é disputado entre duas duplas. Mas em vez de acertar a bola com um taco como no pólo sobre bikes – outra modalidade que já existe –, no cycle-ball ela é “chutada” com a roda da frente da magrela, chegando a alcançar 60 km/h. O objetivo, como no futebol, é fazer o gol numa trave de dois por dois metros sem tirar os pés do pedal.

Pode-se dizer que o cycle-ball é um esporte descoberto e não inventado. Tudo começou quando um pequeno cão da raça pug cruzou o caminho do ciclista artístico (um esporte parecido com a patinação artística) Nicholas Edward Kaufmann, que apesar de ter nascido nos Estados Unidos, tem sangue alemão nas veias. Instintivamente, Nicholas empinou a roda da frente e deu um totozinho no bicho para jogá-lo de canto. Na época, disse que fez isso porque não queria machucar o cachorro, mas também não estava a fim de cair da bicicleta. Alguns meses depois, Nicholas apresentou a nova modalidade no pequeno, mas lotado, estádio de Rochester, nos Estados Unidos. No lugar do cãozinho, ele e seu amigo John Featherly usaram uma bola de madeira emprestada do pólo. Isso foi em 14 de setembro de 1883.

Mas apesar de ser norte-americano, hoje o esporte é mais forte na Europa e Ásia, onde ainda se propaga com força. Além do formato mais popular (duas duplas com disputas em quadras), rolam embates em campos abertos, com cinco jogadores de cada lado. Esse formato é mais praticado na Alemanha e nele acontecem passes longos, cruzamentos e defesas que lembram jogadas do futebol de campo.

Os irmãos tchecos Jindřich e Jan Pospíšil formaram a dupla mais vitoriosa de toda a história do cycle-ball. Entre as décadas de 1960 e 80 os dois foram vinte vezes campeões do mundo, marca imbatível até hoje.

Em 2007, trinta equipes participaram da copa do mundo, sendo que a Suíça foi o país mais representativo, com sete times na competição. Outras nações européias também marcaram presença, como França, Bélgica, República Tcheca e Alemanha, dos atletas Thomas Abel e Christian Hess, da equipe Hechtsheim. A dupla joga junta desde 2005 e vem mostrando superioridade pelo segundo ano consecutivo. Eles, que são os atuais campeões mundiais, golearam duas equipes locais nas primeiras rodadas em Höchst. Depois, na semifinal, venceram por 9 a 2 a RV Dornbirn e na finalíssima colocaram 4 a 1 em cima da RC Höchst I.

A última etapa da copa acontece dia 8 de março de 2008 e Thomas e Christian já abriram uma vantagem de 35 pontos em cima da vice RC Höchst I. Agora, só um milagre faz o ouro escapar das mãos dos habilidosos ciclo-boleiros alemães. “Muita gente diz que não entende por que eu invisto tanto tempo e dinheiro no cycle-ball. Mas ele é um esporte que só acrescenta coisas boas à minha vida, me completa como pessoa. E por isso que me esforço tanto”, disse Thomas, que além de ser atleta contratado da federação alemã de ciclismo, bate cartão diariamente no departamento de pesquisa da instituição.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2008)