Por Frefrik Olmqvist
CORRER EM TRILHA, para mim, é celebrar a beleza da natureza. Considero um privilégio passar um ou mais dias flutuando em trilhas novas, lindas e desafiadoras – trilhas que você dificilmente poderia curtir sozinho, e que são possíveis em ultramaratonas. Por isso comecei a participar dessas provas em 2001. Já corri ”pedreiras” como a Gore-Tex Transrockies, a Gore-Tex Transalpine, a The North Face Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB) e a Jungle Marathon. Mas estava ”guardando” a Marathon Des Sables para uma ocasião especial. Cobri a Des Sables em 1999, como repórter, e achei que seria legal voltar como competidor, 10 anos depois.
Eu já estava numa onda de alimentação saudável, pesquisando sobre comida orgânica e superalimentos – aqueles que são considerados especialmente nutritivos e benéficos para a saúde, oferecendo não só energia mas também antioxidantes e vitaminas – e resolvi aplicar minhas descobertas a uma prova extrema como a Des Sables. São 250 quilômetros de percurso divididos em seis etapas, disputadas em autossuficiência (cada corredor carrega tudo o que vai precisar para se alimentar e vestir durante os sete dias).
Mochilas pesadas, areia fofa, pedras pequenas e afiadas, pernas cansadas, problemas de estômago, bolhas, dores nos joelhos, vento e calor tornam a Des Sables uma das corridas mais duras do mundo. Será que daria para me sentir bem e forte sem apelar para géis de carboidrato e refeições liofilizadas? Seria possível ter uma boa performance sem tomar isotônicos? Eu acreditava que sim.
Contratei um nutricionista que me ajudou a planejar o cardápio para que eu levasse para o deserto os melhores carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas e minerais, levando em conta peso e volume. Ingerir muitos antioxidantes era uma de minhas principais preocupações, para ajudar o corpo a lidar com a oxidação de correr uma maratona por dia. Outro cuidado era levar e ingerir calorias suficientes (tínhamos que levar um mínimo de 2 mil calorias por dia). Passei as semanas antes da prova testando suplementos e experimentando diferentes pós e superalimentos.
É DIFÍCIL DECIDIR se aquele monte de areia e pedras do deserto é bonito ou feio. Mas depois de um tempo você descobre nele outras belezas: o silêncio e a vastidão. Conheci muitos competidores bacanas na Des Sables e tive a honra de correr ao lado do italiano Marco Olmo, 61 anos, bicampeão da UTMB. Ele parece uma máquina: um ritmo super constante e pés muito leves.
Por sorte, não estava tão quente quanto eu temia – talvez 30o C, no máximo. Minha mochila na largada era bem leve: tinha cerca de 7,5 quilos, sendo que 4 deles eram comida. Enquanto alguns corredores chegavam ao extremo de não carregar escovas de dente ou roupas de frio para economizar peso, o corredor de montanha esloveno Anton Vencelj chegou em 4o lugar, mesmo sendo um novato nas corridas em estágio e largando com uma mochila de 12 quilos. O vencedor foi o marroquino Mohamad Ahansal, com o tempo de 16h27min26 (uma média de 12,19 quilômetros por hora nos 200 quilômetros de prova).
Apesar de eu estar entre os corredores mais velozes (fiquei em 27o entre 812 competidores), sofri com dores nas pernas. Somente 37 corredores abandonaram a prova; considerando quantos deles eu vi mancando, com pés destruídos, depois de apenas dois dias de competição, acho que houve muita dor durante a prova. Mas como a proposta aqui é falar da nutrição, não detalharei o sofrimento, meu ou alheio, durante as quatro etapas da prova (felizmente, duas delas foram cortadas: a primeira devido a uma chuva torrencial que alagou o local que serviria de acampamento, e a segunda por problemas logísticos).
A dieta funcionou muito bem. Me senti mais forte do que com comida “normal” de competição. E o melhor: comer foi divertido. Beber somente água, em vez de isotônicos, foi refrescante. Não usei nenhum produto com açúcar – em vez disso, comi frutas desidratadas, castanhas e minhas “bolas de energia” (veja receita abaixo) durante as etapas. Meu petisco favorito eram as frutas desidratas, principalmente as vermelhas, que tinham um sabor fresco. Mas também gostei dos pós supernutritivos para vitaminas (chocolate, frutas vermelhas, açaí), por saber que eles me forneciam muitas vitaminas, proteínas e também gordura boa (principalmente o açaí).
Não tive fome nem perdi peso, apesar da dieta ser bem magra. Com certeza usaria essa estratégia novamente numa prova longa, mas capricharia mais no sabor do mingau e das bolas de energia, evitando alguns pós e grãos de quinoa, que não eram muito gostosos. E levaria mais calorias “ruins”, como batatas fritas. Mas a fórmula que usei, e que acho que vale ser experimentada, está a seguir. Bom apetite.
NO CAFÉ DA MANHÃ
>> Granola com frutas desidratadas: bagas de goji (também conhecidas como goji berris ou wolfberries, ricas em vitamina C), amoras e outras frutas vermelhas.
>> Diferentes misturas de sementes e castanhas. Comprei uma da Raw Living [rawliving.eu, oferece compra online e entrega no mundo inteiro) com grãos de cacau, riquíssimos em magnésio, e azeitonas secas, muito gostoso.
>> Uma ou duas “bolas de energia” (do tamanho de um morango).
>> Vitamina com pó de açaí desidratado e ou pó de frutas vermelhas
misturados com o Boku Super Chi, da Boku Superfood (bokusuperfood.com), um superpó que mistura desde algas marinhas a cristais de sal do Himalaia).
>> Pílulas de suplementos nutricionais com antioxidantes para fortalecer o sistema imunológico.
DURANTE A CORRIDA
Em vez de géis e barras de carboidrato, me alimentei somente com as “bolas de energia”, fáceis de fazer e de carregar, e 100% orgânicas:
>> Pique um ou dois punhados de gojis, uvas passas, tâmaras, figos, pêssegos (ou outras frutas desidratas, escolha as suas preferidas) orgânicos. >> Adicione sementes de abóbora moídas ou picadas, sementes de girassol, gergelim, castanhas de caju ou amendoins.
>> Adicione óleo de côco, um pouco de água, sal marinho, proteína em pó, pó de maca (uma raiz que é conhecida como “ginseng dos andes”) ou farinha de aveia para dar liga. Opcional: pó de açaí ou frutas vermelhas para mais antioxidantes e energia. Você também pode colocar pós verdes como o BoKU ou spirulina.
>> Tempere com pó de cacau ou canela e adoce com mel se você gosta de coisas mais doces.
>> Misture tudo até virar uma massa macia. Enrole pequenas bolas, do tamanho de morangos. São muito gostosos e super energéticos.
DEPOIS DE CADA ETAPA
>> Vitaminas que eu fazia com diferentes pós: pó de açaí, pó de espirulina, Green Magma (pó verde feito de suco de folhas de cevada, da Green Food; greenfoods.com), proteína em pó. Esses pós são misturas de vários superalimentos. Experimentei diferentes opções, de diversas empresas de superalimentos orgânicos, e testei antes de ir pra prova.
À NOITE
>> Sopa ou mingau de quinoa (quinoa é muito bom para acalmar o estômago) com algas, caldo orgânico, temperado com ervas, cogumelos porcini e sal marinho (muito rico em minerais).
>> Pólen de abelha (possui mais de 20 tipos de aminoácidos, sendo uma excelente fonte de proteína, além de fornecer minerais e vitaminas), carne de rena defumada desidratada e mix de frutas secas.
>> Azeite de oliva (como suplemento calórico)
MEU TRAIL MIX:
•Lascas de coco
•Bagas goji
•Flocos de quinoa
•Sementes de gergelim
•Amoras
•Amendoins
•Uvas passas
•Sementes de girassol
•Sementes de abóbora
•Castanhas de caju
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2009)
QUE BELEZA: Corredores cara a cara com o deserto do Sahara na primeira etapa da Marathon Des Sables 2009
(Foto: Marc Louboutin)
SUPERCORREDOR: O autor desta reportagem, movido a superalimentos
(Foto: Marc Louboutin)
MIX: Frutas vermelhas desidratadas