Arte em movimento

Por Mario Mele

ESPORTES MEXEM com os sentidos humanos – não só de quem pratica, mas também de quem fica na beira da estrada, vendo o pelotão de ciclistas passar, ou sente as mãos transpirando apenas de assistir a um vídeo de montanhismo. E não é difícil a plasticidade desses momentos se transformar num quadro ou numa escultura. A seguir, alguns artistas que transformam as emoções do ciclismo, do montanhismo e dos esportes com pranchas em alimento para os olhos.

Jim Denevan
(Califórnia, EUA)

O desapego que Jim, 47, tem pela arte é assustador. Mas não tinha como ser diferente, já que ele imprime seu trabalho na areia da praia. “O que me inspira é o desejo de criar estando em contato direto com a natureza”, explica. Jim usa superfícies planas e extensas, e leva entre três e cinco horas para concluir um desenho, que começa com idéias rabiscadas num papel. Ele já fez mais de duas mil dessas “obras efêmeras”, o que lhe acumulou uma distância de mais de 32 mil quilômetros caminhados – quase um volta ao mundo pela linha do Equador, que tem 40 mil quilômetros. “Não me prendo aos resultados porque sei que o desenho será lavado pelas ondas ou apagado pelo vento”, diz. Mesmo assim, Jim acredita que, num futuro próximo, outros artistas também se interessarão por intervenções em praias ou outras superfícies “desenháveis” do planeta.

Renan Ozturk

(Colorado, EUA)

Aos 29 anos, o norte-americano é escalador reconhecido, tendo em seu currículo vias nos Estados Unidos (como a Freerider, de graduação 9a, no El Capitan, parque nacional de Yosemite, Califórnia) e em países como o México, Brasil e Paquistão. Habituado a ficar suspenso em cordas e porta-ledges a mais de 5 mil metros de altura, ele transforma esses lugares hipnóticos em seu ateliê pessoal, pintando quando está pendurado num lugar seguro. “Quanto mais tempo gastamos expressando nossos pensamentos e ações, mais grandiosa se torna a vida”, acredita. Com a convicção de que escalada e arte são os dois veículos que o manterão nesse caminho, ele registra as rochas de uma maneira psicodélica, quase sempre utilizando todas as cores disponíveis em seu estojo. Os originais de seus trabalhos valem entre US$ 1.500 e US$ 8 mil. (rockmonkeyart.com)

Mark Fonser

(Porto Alegre, RS)

O gaúcho Mark Fonser, de 37 anos, é conhecido na surf-arte. “Eu ainda era criança quando entrei na casa de cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, e vi uma estátua de bronze de um índio empunhando um arco-e-flecha”, conta. “Imediatamente me senti atraído por esse tipo de arte”. Hoje faz 16 anos que Mark vai até ferros-velhos resgatar chapas de ferro e aço para, em porte do maçarico, transformá-las em imponentes esculturas de skatistas, surfistas e mergulhadores, que custam a partir de R$ 1.000 (markfonser.com)

Jay Alders

(Nova Jersey, EUA)

“Acho que todas as modalidades esportivas são guiadas pelas mesmas emoções: paixão e desafio”, diz Jay Alders, artista plástico de 36 anos. Jay não se prende a proporções exatas, e por isso dá formas surreais a ondas, surfistas, skatistas e snowboarders. Esse estilo faz com que Jay tenha admiradores pelo mundo. “Acho fascinante quando recebo a foto de um quadro que pintei na casa de um colecionador”, conta o artista, que já vendeu uma pintura por US$ 25 mil. Colaborador de causas humanitárias e naturais, recentemente ele doou dois trabalhos ao Art Gala 2009, festival anual de música e arte que acontece na Califórnia (EUA). A verba adquirida com a venda de ingressos e das obras é revertida à Surfrider Foundation, organização mundial que luta pela preservação dos ecossistemas marinhos e costeiros (jayalders.com).

Terri Saul

(Califórnia, EUA)

“Esporte é um tema rico e motivador, independente da modalidade”, conta Terri Saul, pintora norte-americana de 37 anos, que há quatro desenvolve trabalhos inspirados em ciclistas e suas máquinas. “Sempre achei fascinante as invenções que permitem às pessoas se locomoverem sem tocar os pés no chão”, explica. Ela, que se recorda da primeira vez que se equilibrou sobre duas rodas, também pinta índios – influência do avô, o também pintor Chief Terry Saul, que gostava de retratar os índios americanos choctaw, e que morreu quando ela tinha apenas cinco anos. “Quando pinto, ignoro os limites da vida real. Portanto, não estranhe uma pintura de um índio usando um grande cocar, pedalando uma bicicleta speed”, diverte-se Terri, que vende cada tela por cerca de US$ 1.500. (terrisaul.com)

Wolfgang Bloch

(Guayaquil, Equador)

Apesar do nome germânico, Wolfgang nasceu e foi criado em Guayaquil, no Equador. Ele começou a surfar quando tinha 12 anos e nunca mais parou. Hoje tem 45, mas não se considera um esportista. “O oceano e a natureza são minhas principais inspirações”, diz. “Quanto mais longe da civilização eu estiver, melhor”. Wolfgang não inclui figuras humanas em seus trabalhos, e prefere pintar sobre superfícies velhas, de metal ou madeira, que já foram bastante desgastadas pelo tempo. “Minhas pinturas são orgânicas, é como dar vida a materiais que são considerados lixo”, explica. Com sua “arte reciclada”, o equatoriano coleciona admiradores em todos os continentes, e já chegou a vender uma obra por US$ 35 mil. (wolfgangbloch.com)

Daniele Henning

(Curitiba, Paraná)

Com traços menos realistas e bem pessoais, a artista plástica de 41 anos cria visões diferentes para as bicicletas. Adoradora incondicional deste veículo “pela liberdade que ele proporciona”, Dani passou a se inspirar nas bikes depois que ficou grávida, há quase seis anos, período no qual teve que dar um tempo das pedaladas. “Minha técnica de pintura foi desenvolvida em cima de erros e acertos. Trabalhei com estamparia artesanal durante um tempo, o que me deu agilidade no traçado”, explica. De forma quase abstrata, com cores que parecem saltar da tela, suas obras sugerem velocidade. Cada tela está avaliada em torno de R$ 2.000. (danihenning.art.br.com)

Miguel Doura

(Aconcágua, Argentina)

“Eu gosto dos pós-modernistas, como Paul Gauguin e Van Gogh, mas fiquei extasiado quando me deparei com o trabalho do [artista russo] Nikolai Roerich”, diz o argentino Miguel Doura, 47, que começou a estudar artes plásticas em 1985, em Buenos Aires. Miguel pinta no acampamento base Plaza de Mulas, no monte Aconcágua, a 4.300 metros de altitude, único lugar onde já expôs suas obras até hoje. “Sentir a neve e o vento por perto me faz lembrar quanto somos pequenos em relação à natureza, e é isso que me deixa livre para criar”, explica. Por também ser escalador, Miguel já vendeu telas – por até US$ 3 mil – para seus colegas de montanha da Suíça, Grécia, Rússia, Polônia, Itália, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra. Portanto, se você estiver de passagem pelo Aconcágua, não deixe de visitá-lo em sua galeria Nautilus. (aconcaguanow.com)

Luigia Zilli

(Columbia Britânica, Canadá)

A italiana radicada no Canadá começou a pintar competições de bicicletas em 2005, inspirada pela sétima vitória consecutiva de Lance Armstrong no Tour de France. “Logo depois, o organizador do Giro de Burnaby, competição que acontece anualmente na cidade onde moro, gostou de um quadro meu e o utilizou como divulgação para a prova de 2006”, conta. A partir disso, o tema é frequente para a artista, que pedalava na época em que competições femininas ainda eram raras. “Adorava a sensação de pedalar velozmente dentro de pelotões, quase tocando roda com roda, ou a de encarar uma longa subida”. Hoje com 43 anos e longe das pistas, Luigia transmite essas emoções pintando ciclistas em sprints finais e cruzando a linha de chegada. Ela já vendeu quadros para Austrália, Coreia do Sul, Japão, China e Brasil, e em maio deste ano expôs seus trabalhos na comemoração do centenário do Giro d’Itália. O dinheiro arrecadado com a venda de suas obras – suas telas podem variar de US$ 2.500 a US$ 3.000 – durante o evento será revertido para a LiveStrong, fundação de Lance contra o câncer. (luigiazilli.com)

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2009)







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