De virada


OS MELHORES: O vice-campeão Kelly Slater (à esquerda), que perdeu o primeiro lugar nos últimos instantes, divide uma onda com Reef Macintosh, que terminou em 13º

Por Steven Allain*
Fotos por James Thisted

É UMA QUESTÃO DE TAMANHO. O Quiksilver in Memory Of Eddie Aikau, um dos mais míticos campeonatos de onda grande do mundo, só é disputado quando, dentro do período de espera que vai de dezembro a março, as ondas de Waimea erguem-se acima dos 25 pés ou 8 metros. Nos 25 anos desde a criação do evento, isso havia acontecido somente seis vezes – até que, no dia 08 de dezembro do ano passado, a baía de Waimea, na costa norte da ilha de Oahu, no Havaí, acordou para um swell gigantesco, com ondas de 30 pés (e algumas séries ainda maiores).

Milhares de pessoas amontoaram-se desde as primeiras horas da madrugada nas encostas da praia para acompanhar o show de surf protagonizado pelos competidores, escolhidos a dedo para integrar a concorrida lista de 28 convidados. E eles não decepcionaram, atirando-se nas montanhas d’água sem medo das consequências.

O eneacampeão mundial Kelly Slater saiu na frente com um drop gigante logo no começo do dia e, para surpresa geral, tentou surfar um tubo em sua segunda onda – algo pouco aconselhável na imperdoável onda de Waimea. Mas, quando todos já davam a vitória de Slater como certa, o californiano Greg Long pegou uma das maiores ondas do dia nos minutos finais da disputa e surfou até a areia – recebendo a pontuação máxima dos juízes e garantindo assim o caneco e um cheque de 55 mil dólares.

Uma semana após a histórica vitória, Greg conversou com a Go Outside, por telefone, depois de uma sessão de treino em Maverick’s, outro pico de ondas gigantes, dessa vez na Califórnia (EUA).

GO OUTSIDE Os juízes não anunciaram sua nota na hora, como sempre fazem. Você sabia, ao sair do mar, que tinha vencido?

GREG LONG Quando saí da água não tinha ideia da nota, de nada. Só fiquei sabendo mesmo quando uns amigos que estavam acompanhando o campeonato online viram a nota e avisaram outros amigos que eu havia ultrapassado o Kelly em pontos.

O que passava pela sua cabeça enquanto esperava que anunciassem a nota?

Naquele momento eu estava meio confuso, mas foi muito legal. Ganhar o Eddie Aikau era um sonho de criança. Já tinha sido convidado por quatro anos, mas nunca tinha rolado ondulação suficiente pro campeonato ser disputado. Tive muita sorte de pegar uma série boa. O que posso dizer é que foi um dos melhores dias da minha vida.


MULTIDÃO: A multidão paralisada, assistindo à onda do campeão Greg Long


Somente seis surfistas venceram um Eddie Aikau antes de você. Qual a importância desse título para a sua carreira?

É o mais importante campeonato do mundo. E é muito mais do que um campeonato. Por trás dessa prova tem toda uma tradição, um respeito. Para mim representa muita coisa. É o Eddie Aikau. É difícil colocar em palavras como me sinto, ainda estou meio “passado”.

Seu irmão [Rusty Long] também surfa ondas grandes. Qual a influência dele nessa vitória?

Quando começamos eu tinha 15 anos e ele 17. Progredimos no surf ao mesmo tempo. Um sempre puxa mais e o outro vai na cola. Em resumo, tiramos inspiração um do outro.

O que vai fazer com o prêmio de 55 mil dólares?

Quero comprar uma casa no lugar onde cresci, agora que meu pai se mudou de lá [Steve, o pai de Greg, era salva-vidas em San Onofre State Beach, no município de San Diego]

Depois do swell em Waimea, as outras ondas parecem menores e mais fáceis?

De maneira alguma. Foi muito difícil surfar aquela onda em Waimea. É muito interessante quando você surfa ondas muito grandes, porque sua relação com o medo muda, mas o respeito pelo mar continua, sempre.

E agora, o que mais você pretende fazer nessa temporada?

Hoje surfei Mavericks o dia todo, para treinar para o Maverick’s Surf Contest [que ele já venceu uma vez ao dropar uma onda de 20 pés ou 7 metros]. Parece que um swell ainda maior vai entrar nos próximos dias. É o que pretendo fazer, por enquanto.

* Steven Allain é diretor de redação da HARDCORE, revista especializada em surf que também é publicada pela Rocky Mountain


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2010)