Pode comer sem grilo

A próxima moda da nutrição esportiva são os alimentos à base de insetos

Por Adam Fisher


(FOTO: USGS Native Bee Inventory Laboratory)

O CONTEÚDO DO PACOTE ESTAVA FALANDO ALTO – quase como se estivesse reclamando – e os colegas de quarto Gabi Lewis e Greg Sewitz, ambos alunos do último ano na Universidade Brown, nos Estados Unidos, começaram a questionar seu plano. Mas, depois de terem encomendado 2.000 grilos de uma loja de comida de animais on-line, eles já tinham ido longe demais para desistir. Naquela noite, Gabi e Greg congelaram os insetos e depois os tostaram em um forno a 105 °C antes de os colocarem em um liquidificador. O processo resultou em 230 gramas de farinha fina – e sem antenas – de grilo. Em seguida, Gabi e Greg misturaram mel e frutas secas à farinha e moldaram a pasta na forma de barras de proteína, que por sua vez foram levadas à academia de CrossFit local. O veredito? As barras, que continham cerca de 40 grilos em farelo cada, tinham um gosto surpreendentemente bom. “Parece manteiga de amêndoa”, disse uma das cobaias. Em maio passado, depois de se formarem na faculdade, Gabi e Greg se mudaram para o Brooklyn, em Nova York, onde, inspirados pelo teste que fizeram, criaram uma empresa de alimentos à base de farinha de grilo chamada Exo (de “exoesqueleto”). Neste ano vão lançar seu primeiro lote de barras energéticas, com sabores como manteiga de amendoim com geleia, caju com gengibre e cacau com nozes.

Por mais incrível que pareça, a Exo não é a primeira empresa de alimentos à base de grilos. Essa honra vai para a Chapul, de Salt Lake City (EUA), que começou a produzir sua barra energética caseira, a Original Cricket Energy Bar, em 2012 (agora já há três sabores para escolher: Aztec, Thai e Chaco). Tem também a Bitty Foods, fundada em maio de 2013 em São Francisco, na Califórnia, que vai lançar uma linha de produtos neste ano.

Provavelmente ainda vai demorar um pouco até você ver qualquer um desses produtos na loja de alimentos saudáveis perto da sua casa, mas em uma época em que comer insetos se torna cada vez menos nojento, a ideia de uma barra de alta nutrição feita de artrópodes pode ganhar, por assim dizer, pernas.


GOURMETS MAIS AVENTUREIROS vêm comendo insetos já há algum tempo. Grilos, lagartas e larvas fritos entraram em muitos cardápios de alguns dos restaurantes mais sofisticados do mundo, incluindo o pan-asiático Typhoon, de Santa Monica (EUA). A ideia de se comer insetos ganhou mais força em maio de 2013, quando a ONU publicou um relatório que alegava que essa prática, cientificamente chamada de entomofagia, gera uma “pegada ambiental pequena”. Uma onda de artigos se seguiu na mídia, incluindo uma matéria de capa na revista Sierra Magazine, proclamando que “no que tange fontes de proteína, os insetos podem ser mais sustentáveis que quase tudo em nossas dietas”.

Até agora, a segurança alimentar e os benefícios ambientais não foram suficientes para fazer os norte-americanos médios comerem insetos, mas as mesmas hordas de atletas que adotaram a dieta paleolítica – que substitui grãos e laticínios por carnes e frutas – podem estar prontas para eles. “As pessoas comem inseto há eras”, diz John Durant, autor do The Paleo Manifesto, a bíblia alimentar de muitos devotos do CrossFit. Proteína de inseto, argumenta John, é um alimento comum para coletores-caçadores em todo o mundo, uma excelente fonte de proteínas e uma comida integral. “Ela tem todas as vantagens”, diz.


COMA DE TUDO: Megan Miller, fundadora da Bitty Foods, que usa farinha de grilo em suas receitas
(FOTO: Jonathan Snyder)

Realmente, refeições feitas de inseto se dão bem na comparação com todos os outros superalimentos. Têm mais proteína que o salmão, com um conjunto completo de aminoácidos. A carne de grilo tem mais ferro que a carne bovina, mais cálcio que o leite e muitas das vitaminas B ausentes em fontes de proteínas vegetais como o cânhamo e a soja.

Mas a verdadeira vantagem, pode acreditar, é o gosto. Farinha de inseto é relativamente fácil de disfarçar em comparação com pó de soja e de soro (whey), por isso as barras feitas com ela não precisam de tanto açúcar. Enquanto barrinhas energéticas como Power-Bar e Clif Bar chegam a conter 26 gramas de açúcar, as barras da Exo podem ter apenas 13, e todas elas oferecem mais ou menos a mesma quantidade de proteína.

O desafio, é claro, é superar o fator “nojinho”, principalmente quando intrépidos comedores profissionais como Anthony Bourdain declararam que insetos são “asquerosos”. É por isso que a Exo e outras marcas de barras de insetos que estão surgindo moem os insetos até virarem farinha: você consegue a mesma nutrição, mas sem os obstáculos visuais ou de textura que podem causar até ânsia de vômito.

“Nós combinamos grilos com manteiga de amêndoas, um pouco de frutas secas e um toque de mel, e não fica com o menor gosto de grilo – seja lá qual for o gosto de grilo”, explica Gabi, da Exo. A fundadora da Bitty Foods, Megan Miller (para constar: ela é uma antiga editora e colaboradora da Outside norte-americana), diz que está mais interessada em fazer comidas como bolinhos, bolachas e até cookies com farinha de grilo como base.

Os números iniciais sugerem que os consumidores estão abertos à ideia. As barras da Chapul estão agora em mais de 70 lojas de alimentos saudáveis em 15 estados dos EUA, e a campanha no Kickstater (plataforma virtual de financiamento coletivo) de julho de 2013 da Exo alcançou sua meta de US$ 20 mil em apenas três dias. O primeiro lote da empresa: 20 mil barras.

Nesse meio tempo, histórias passadas no boca-a-boca sobre a energia da farinha de grilos só podem ajudar. Quando pressionado, Gabi conta uma vivida por ele próprio. Depois que ele e Greg experimentaram sua receita, os dois se participaram de um encontro regional de levantamento de peso. Gabi ergueu 224,5 quilos, quase o triplo do seu peso corporal. O magrinho Greg não conseguiu levantar tanto, mas obteve uma proporção similar. Ambos acabaram ganhando em suas categorias. “Eu nunca afirmaria que há uma relação de causa, é claro”, diz Gabi. “Mas você pode tirar suas próprias conclusões.”

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2014)







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