Novo circuito mundial de ultramaratonas estreia em 2014 com uma seleção de dez provas míticas e altamente desafiadoras que reunirão alguns dos melhores atletas da corrida em trilha do planeta A RUSTICIDADE DAS TRILHAS tem atraído, a cada ano, uma legião cada vez maior de corredores oriundos dos percursos de asfalto para os treinos e as competições em terrenos off road. O crescimento da modalidade e a profissionalização dos atletas pediam um circuito mundial que rodasse o mundo, descentralizando as competições do continente europeu, que ainda sedia boa parte das provas mais importantes do calendário oficial. Assim surgiu o Ultra-Trail World Tour (UTWT), um circuito de ultramaratonas que estreia este ano e que será composto de dez provas, com mais de 100 quilômetros cada, que passará pelas Américas, Ásia, África, Europa e Oceania. “Nossa missão é promover essas ultramaratonas tão diferentes entre si, encorajando atletas e corredores de várias nacionalidades a desafiar seus limites em lugares espetaculares, com diversas características de terreno”, explica Fabrice Perrin, integrante do time de organizadores do circuito, que teve início em janeiro com a Vibram Hong Kong 100 Ultra Trail Race.
Para montar a seleção de provas que compõem o circuito (veja a lista completa no quadro da pág. XX), os organizadores optaram por escolher competições já “maduras”, de mais de dois anos de existência e com bom número de inscritos todos os anos – acima de 500 pessoas. Além disso, preocuparam-se em selecionar ao menos uma prova em cada continente, para promover a diversidade cultural e aproveitar os desafios geográficos de cada região do mundo. Passaram no teste, por exemplo, as tradicionais The North Face Ultra-Trail du Mont-Blanc (na região alpina que engloba Itália, França e Suíça) e a Western States 100-Mile Endurance Run (na Califórnia, EUA), primeira ultramaratona do mundo, nascida em 1973. A Marathon des Sables (no Marrocos), em pleno deserto do Saara, entrou para a lista apesar de ter um formato diferente das outras, com seus 240 quilômetros percorridos em seis etapas auto-suficientes, ou seja, com cada corredor levando sua própria comida e equipamento.
As três provas citadas acima e a Ultra-Trail Mt. Fuji, no Japão, têm pontuação superior às outras. Para participar das disputas pelo título mundial, os atletas precisam competir ao menos em duas dessas provas “estreladas”, além de mais uma das outras seis. Os três melhores resultados de cada atleta definem sua posição no ranking.
A brasileira Fernanda Maciel já escolheu suas provas para o Tour 2014: a The North Face Transgrancanaria, na Espanha, a Ultra-Trail Mt. Fuji, a The North Face 100 Australia e a The North Face Ultra-Trail du Mont-Blanc. “E, dependendo de como eu estiver no circuito e se tiver pernas ainda, correrei a La Diagonale des Fous, na francesa Ilha Reunião, no Oceano Índico. Correr uma ultramaratona provoca um enorme desgaste físico, mental e emocional, sem falar nas longas horas de voo e nos fusos horários malucos”, diz Fernanda, que estreou no circuito com excelente performance nos 125 quilômetros e mais de 8.000 metros de desnível acumulado da Transgrancanaria, disputada em março. Fernanda ficou em terceiro lugar no pódio, ao lado de duas atletas de peso: a catalã Núria Picas (vencedora da etapa e campeã mundial de ultramaratona) e a italiana Francesca Canepa, segunda colocada.
Atletas como Fernanda estão comemorando a chegada do novo circuito, que em nada se parece com o Skyrunner World Series, um dos principais circuitos mundiais de corrida de montanha. “Esses dois eventos são muito diferentes, e cada um tem seu papel”, diz Fabrice Perrin. “O Skyrunner é focado em distâncias mais curtas, entre 42 e 80 quilômetros, enquanto no Ultra-Trail World Tour só entram provas de ultradistâncias que ultrapassam os 100 quilômetros. Além disso, nossas competições não acontecem apenas em montanhas, que é a especialidade do circuito Skyrunner”, explica. Além da diversidade de terrenos, contextos culturais e níveis técnicos do UTWT, os corredores também aplaudem a oferta da organização em custear as viagens, inscrições e hospedagem dos atletas que ocupam as melhores posições no ranking da International Trail Running Association (ITRA), a associação que coordena os eventos da modalidade.
Aos ultracorredores recreativos – se é que o termo se aplica quando o “recreio” tem mais de 100 quilômetros –, resta a divertida missão de tentar concluir, no prazo de uma vida inteira, os dez desafios propostos pelo UTWT, que disponibiliza uma espécie de passaporte para se colecionar os carimbos de cada competição. O sistema de pontuação, bastante debatido por misturar tempo de prova com pontos de cada etapa, bônus e outras contas complexas, divide os inscritos em diferentes categorias de acordo com o nível de competitividade, como forma de estabelecer uma disputa saudável (e razoável) entre atletas de todos os níveis.
A estratégia para conjugar as expectativas de nomes consagrados como os do norte-americano Scott Jurek e do britânico Jez Bragg às de entusiasmados corredores (quase) comuns não é tão complexa e, para isso, a organização do circuito aposta no alto ní¬vel dos eventos. “Estamos propondo um circuito altamente competitivo, no qual amadores poderão correr ao lado de profissionais, o que já acontecia isoladamente nessa provas que elegemos e unificamos. Vamos dar estrutura àqueles que vivem do esporte e levar entusiastas aos mais emblemáticos eventos dessa modalidade no mundo”, conclui Fabrice.
Agenda cheia 19 de janeiro
1º de março
15 de março 4 a 14 abril
27 de abril 18 de maio 28 de junho 29 de junho 31 de agosto 26 de outubro (Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2014)
Por Maria Clara Vergueiro
NA SECURA: Cenas da Marathon des Sables, que acontece no
Deserto do Saara e agora faz parte do Ultra-Trail World Tour
NA SECURA: Cenas da Marathon des Sables, que acontece no
Deserto do Saara e agora faz parte do Ultra-Trail World Tour
MEMORÁVEL: Atletas participando da Transgrancanaria, na Espanha, em março deste ano
Confira o calendário deste ano das dez provas do Ultra-Trail World Tour
Vibram Hong Kong 100
Hong Kong, China
100 quilômetros, 4.500 metros de desnível positivo
The North Face Transgrancanaria
Ilhas Canárias, Espanha
125 quilômetros, 8.500 metros de desnível positivo
The Vibram Tarawera Ultra Marathon
Nova Zelândia
100 quilômetros, 2.776 metros de desnível positivo
Marathon des Sables
Marrocos
240 quilômetros, em seis estágios
Ultra-Trail Mt. Fuji
Japão
100 quilômetros, 9.000 metros de desnível positivo
The North Face 100
Austrália
100 quilômetros, desnível acumulado não informado
The North Face Lavaredo Ultra-Trail
Itália
119 quilômetros, 5.850 metros de desnível positivo
The Western States 100-Mile Endurance Run
Califórnia, EUA
161 quilômetros, 5.486 metros de desnível positivo
The North Face Ultra-Trail du Mont-Blanc
França, Itália, Suíça
168 quilômetros, 9.600 metros de desnível positivo
La Diagonale des Fous
Ilha Reunião, França
164 quilômetros, 9.000 metros de desnível positivo