De volta para a estrada

Com o fim do inverno na Europa, começam as provas mais maravilhosas do ciclismo de estrada – veja aqui as novidades deste ano para as Grandes Voltas da modalidade

Por Leandro Bittar


BELÍSSIMA: Montanhas e campos verdejantes marcam as paisagens do Giro d’ Italia
(Foto: Tim de Waele/Corbis)


GIRO D’ITALIA

Quando >> De 9 de maio a 1º de junho


A prova >>
Depois de uma edição épica em 2013, com muita neve e frio, a primeira grande volta ciclística do ano apresenta um percurso mais “humano” e um dia a mais de descanso (três, no total) ao longo de suas 21 etapas. A disputa da maglia rosa (camisa rosa de primeiro colocado) vai começar em uma sexta-feira, com um contrarrelógio por equipes em Belfast, na Irlanda do Norte, e termina 3.450 quilômetros depois, em Trieste, no nordeste da Itália. O traçado atende a todo tipo de ciclista, com oito etapas planas para os velocistas, três contrarrelógios (um por equipes, um individual e uma crono-escalada) e nove chegadas em subida. Mesmo assim, o campeão será um grande escalador. O temido Monte Zoncolan, com trechos de 25% de inclinação, na penúltima etapa, será o auge da disputa.


Os caras >>
O atual campeão Vincenzo Nibali (da equipe Astana) abdicou de defender o título para lutar pela camisa amarela do Tour de France (TdF). Assim a grande estrela do Giro deste ano é o escalador colombiano Nairo Quintana (da Movistar), vice-campeão do TdF e um dos mais empolgantes ciclistas da atualidade. Dois rivais na disputa pela camisa rosa são o colombiano Rigoberto Urán (da Omega Pharma Quick-Step) e o australiano Richie Porte (do Team Sky), que lutarão em benefício próprio depois de anos trabalhando para a dupla de britânicos Bradley Wiggins e Chris Froome (ambos vencedores do TdF). Correm por fora os veteranos Joaquim Rodriguez (da Katusha), Cadel Evans (da BMC) e Ivan Basso (da Cannondale).


Por que assistir >>
Più bella, più dura. A linda paisagem italiana, favorecida pela época do ano, ainda com neve nas montanhas, torna o Giro d’Italia uma das Voltas mais interessantes de se acompanhar, mesmo para quem não entende nada de ciclismo. As duras montanhas garantem embates acirrados até o final. Não à toa, a organização define esta prova como a mais dura e mais bela da modalidade. Se você só tiver uma chance para confirmar isso, assista à 18ª etapa (dia 29 de maio), que percorrerá os míticos Passo di Gavia e Passo dello Stelvio, antes da escalada final, no Val Martello.


Marco Pantani >>
Este ano, a prova homenageia os dez anos da morte do ciclista Marco Pantani, o maior ídolo da história recente do país. O poderoso escalador será lembrado em duas montanhas duríssimas que brilhou: a Oropa (14ª etapa) e o Montecampione (15ª).


Barolo >>
A volta italiana possui inúmeras referências da cultura italiana, e poucas coisas revelam tanto do país quanto sua gastronomia. O decisivo contrarrelógio individual na 12ª etapa selecionará quem está apto ao título deste ano; o vencedor dessa etapa será recebido na cidade de Barolo com um belo brinde do vinho mundialmente reconhecido pelo mesmo nome.


Novo ídolo >>
Entre os melhores ciclistas do mundo, existem alguns ainda mais especiais. Um deles é Nairo Quintana. O jovem colombiano de 24 anos pode fazer história ao levar seu país ao topo do Giro pela primeira vez. Com uma grande equipe para ajudá-lo (a Movistar), Quintana pode surpreender. Um título em uma grande volta é um passo importante para ele se firmar como um dos grandes nomes do esporte – e, ele vencendo ou não, com Quintana o espetáculo é garantido.


Onde assistir >>
ESPN, Gazzetta.it e RAI

Site oficial >>
www.giroditalia.it



INCROYABLE: Os melhores ciclistas do planeta te aguardam no Tour de France
(Foto: A.S.O.)


TOUR DE FRANCE

Quando >> De 5 a 27 de julho


A prova >>
A mais famosa volta ciclística do planeta começa na Inglaterra, em Yorkshire, e roda pela Grã-Bretanha até a terceira etapa, que terá final em Londres. Depois do enorme sucesso de 2007, quando três milhões de espectadores acompanharam o Tour na terra da Rainha, espera-se novamente um grande público graças ao sucesso recente dos “locais” Bradley Wiggins e Chris Froome, campeões em 2012 e 2013, respectivamente. Froome, aliás, é o grande favorito. O percurso lhe favorece, principalmente o crono individual de 54 quilômetros, na penúltima etapa. A grande preocupação será sustentar esse favoritismo durante três semanas (3.656 quilômetros totais), incluindo alguns dias críticos, como o quinto, que percorrerá trechos de paralelepípedos da prova Paris-Roubaix, e a 18ª etapa, que passa pelo mítico Col du Tourmalet e termina na escalada do Hautacam, montanha famosa por ter decretado o fim do domínio do espanhol Miguel Indurain no Tour de France, no ano 1990.


Os caras >>
O britânico Chris Froome (Team Sky) é o grande favorito, porém o Tour de France reúne sempre os melhores ciclistas da temporada, e neste ano não será diferente. A ausência mais sentida será do vice-campeão de 2013, o colombiano Nairo Quintana (da Movistar). Joaquim Rodriguez (da Katusha), que completou o pódio em 2013, também não estará na disputa. Campeão do Giro no ano passado, Vincenzo Nibali (da Astana) é considerado o principal rival, seguido dos espanhois Alberto Contador (da Tinkoff) e Alejandro Valverde (da Movistar). Há ainda novos nomes que rejuvenesceram a lista dos “top 10” do evento, como os norte-americanos TJ Van Garderen (da BMC) e Andrew Talansky (da Garmin), que correm por fora na disputa por um lugar entre os melhores.


Por que assistir >>
Não existe evento mais importante para ciclistas, equipes, patrocinadores ou qualquer outra pessoa ligada ao ciclismo de estrada. Só para se entender a dimensão desta volta, o campeão do Tour do ano passado recebeu da organização uma premiação cinco vezes maior do que o campeão do Giro (450 mil euros contra 90 mil euros), e todos os ganhos indiretos acompanharam aproximadamente a mesma proporção. O nível da disputa é altíssimo, o que, inevitavelmente, transforma a competição em um jogo de xadrez cheio de estratégias para ver quem é o melhor.


Pavés >>
Vários trechos de paralelepípedo do percurso da mítica prova Paris-Roubaix, como o Carrefour d’Arbre, estarão no traçado da 5ª etapa deste ano, somando 15,4 quilômetros de trepidações e pânico para os líderes. Eles sabem que esse tipo de terreno aumenta os riscos de queda e pode tirá-los da disputa pelo título, como aconteceu em 2010, quando o luxemburguês Frank Schleck quebrou a clavícula e Lance Armstrong teve um pneu furado.


Mulheres >>
Atendendo aos pedidos das ciclistas profissionais, a organização do Tour realizará uma disputa feminina antes da última etapa da volta francesa, na avenida Champs-Élysées, em Paris. Uma grande conquista para elas e um aquecimento mais do que especial para o encerramento da competição.


Onde assistir >>
ESPN, TV5 e na internet (links em www.steephill.tv)


Site oficial >>
www.letour.com


GUAPA: Em meio às belezas da Espanha, a Vuelta
apresenta jovens talentos da estrada
(Foto: Tim de Waele/Corbis)

VUELTA A ESPAÑA

Quando >> De 23 de agosto a 14 de setembro


A prova >>
Última grande volta da temporada, a Vuelta é a “prima pobre” entre as três. Na maioria das vezes com menos estrelas e mais jovens promessas, a competição tem um menor nível técnico. Porém se trata de um evento repleto de surpresas, ataques e reviravoltas. A edição de 2014 será a mais curta das grandes voltas, com 3.181 quilômetros e toda disputada em solo espanhol, com largada no Sul, em Jerez de la Frontera, e final no norte, em Santiago de Compostela. Sua característica mais marcante na história recente são as duras montanhas. Neste ano, por exemplo, serão 40 escaladas categorizadas e oito finais em subida. A última etapa será um contrarrelógio individual com dez quilômetros de extensão. Talvez seja pouco para alterar algo na classificação geral, no entanto vale lembrar que o campeão de 2013, o norte-americano Chris Horner, tinha apenas três segundos de vantagem para o rival Vincenzo Nibali no último dia de disputa pela camisa vermelha.


Os caras >>
Com o percurso selecionado e a agenda dos rivais definida, o grande favorito para a Vuelta 2014 é Joaquim Rodriguez (da Katusha). Aos 35 anos, ele tem a melhor oportunidade de sua carreira para realizar o feito, que escapou de suas mãos em 2012. Os compatriotas Alejandro Valverde e Alberto Contador despontam como principais rivais, porém a briga pelo título da Vuelta sempre guarda surpresas, como ocorreram durante as vitórias recentes de Juan José Cobo (2011) e Chris Horner (2013).


Por que assistir >>
Por pura emoção. Nos três últimos anos, foi sem dúvida a grande volta mais emocionante na disputa pelo título, como o embate entre Froome e Cobo, em 2011, o ataque surreal de Contador em 2012 e a milimétrica guerra entre Nibali e Horner na última edição.


Ataques >>
Uma série de fatores torna a Vuelta menos tensa que suas co-irmãs. Algumas equipes já cumpriram seus principais objetivos, outras já estão fisicamente no limite e várias estão pensando na temporada seguinte. Jovens nomes, atletas que tiveram imprevistos durante o ano (um acidente, por exemplo) e veteranos em busca de um último contrato disputam a competição de peito aberto, e o que se vê é uma briga mais acirrada do que nos demais eventos.


Revelações >>
Leopold König, Warren Barguil e Kenny Elissonde foram alguns dos jovens que venceram etapas na última edição, mostrando que a Vuelta tem se tornado um palco de promissores talentos.


Ancares >>
A Vuelta sempre reserva uma subida colossal para a penúltima etapa. Este ano será Ancares, uma montanha com 17 quilômetros de extensão e 7% de inclinação média. Porém, como sempre dá para apimentar um pouco mais, a subida final será precedida de outras seis (!) montanhas categorizadas (geralmente são quatro categorias de dificuldade, além das ‘hors catégorie’, as mais longas e difíceis de uma competição).


Onde Assistir >>
ESPN e na internet (links em www.steephill.tv)


Site oficial >>
www.lavuelta.com


Tempo de primavera

A partir deste mês, fique ligado nas curtas e míticas provas “clássicas” do ciclismo


QUEM CONTA OS DIAS para os grandes eventos do ciclismo profissional já sabe: abril é o mês das clássicas. Claro que há provas de um dia durante toda a temporada, mas nada se compara com o que acontece neste mês, incluindo três das cinco Monumentais: Volta de Flandres (dia 6), Paris-Roubaix (dia 13) e Liège-Bastogne-Liège (dia 27) – a título de curiosidade, as outras duas Monumentais são as italianas Milão-São Remo (23 de março) e a Volta da Lombardia (5 de outubro).


Para quem não acompanha o ciclismo tão de perto, as provas de abril são tão aguardadas pelos fãs como as grandes voltas. É recorrente alguns campeões do Tour de France brilharem nessa época também, mas, atualmente, os ciclistas capazes de se destacar nesse tipo de competição estão cada vez mais especializados. Elas acontecem, principalmente, na Bélgica e na França e podem ser subdivididas em dois blocos. As Clássicas de Primavera – capitaneadas pelas provas Gent-Wevelgem (que este ano será no último dia de março), a Volta de Flandres e a Paris-Roubaix – têm como principal atrativo os desafiadores trechos de paralelepípedo. Nelas brilham nomes como o do belga Tom Boonen e o suíço Fabian Cancellara. Nos dois finais de semana seguintes acontecem as Clássicas das Ardenas, geralmente disputadas por outros tipos de ciclistas, como o belga Philippe Gilbert e o espanhol Joaquim Rodriguez, mais aptos a superar as curtas e duras subidas da Amstel Gold Race, da Flèche-Wallone e da Liège–Bastogne–Liège.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2014)