Alex Honnold contra-ataca

Depois de subir, sem qualquer equipamento de segurança, os paredões rochosos mais famosos do mundo, o escalador agora encara um dos maiores arranha-céus do planeta – e tudo isso ao vivo pela TV


Por Grayson Schaffer


EM OUTUBRO DE 2012, os norte-americanos Alex Honnold, renomado escalador de 28 anos, e o cinegrafista Peter Mortimer, de 39, sentaram para conversar sobre a vontade mútua de realizar um novo tipo de filme de escalada – desta vez, um que mostrasse Alex subindo um imenso arranha-céu de cidade grande. “A gente pensou: ‘Não seria uma coisa radical fazer uma escalada freesolo em um prédio imenso?”, lembra Peter, fundador da produtora Sender Films. Para quem não sabe, escalada freesolo é aquela em que não se usa nenhum tipo de equipamento de segurança. Ou seja, o famoso “escorregou, morreu”. Na mesma época, o base jumper austríaco Felix Baumgartner saltou da estratosfera em uma roupa especial da Red Bull, ao vivo na televisão, e a dupla levou a ideia um passo adiante. Começaram a ligar discretamente para emissoras de TV com uma oferta ousada: Alex queria fazer, ao vivo na frente das câmeras, uma escalada freesolo em um dos maiores arranha-céus do mundo.

O canal National Geographic mordeu a isca e, em julho de 2013, anunciou que Alex iria escalar os 508 metros do Taipei 101, em Taiwan. A escalada, originalmente marcada para novembro passado, foi adiada para que a equipe pudesse ajustar todos os detalhes e agora está agendada para acontecer este mês de março. O plano é seguir a mesma rotina que Alex e Peter aperfeiçoaram no Parque Nacional de Yosemite, nos EUA, onde a dupla já realizou escaladas históricas: Alex começa do chão com quase nada além de seus tênis de escalada e uma bolsinha de pó de magnésio para ajudar a secar o suor das mãos. Enquanto isso, Peter e Nick Rosen, cofundador da Sender, e uma equipe de cameramen atletas registram cada movimento de Alex enquanto escalam com cordas usando ascensores conhecidos como jumar.

Alex é o maior expoente de um seleto grupo de atletas de aventura que estão protagonizando, ao vivo para milhares de espectadores de TV ou de sites na internet, façanhas arriscadíssimas que geralmente envolvem perigo de morte, muita técnica e doses cavalares de coragem. Primeiro veio o salto estratosférico de Felix, em seu projeto Stratos, da Red Bull. Depois, em junho passado, o equilibrista Nik Wallenda caminhou por uma fita de 400 metros esticada sobre o rio Little Colorado, nos EUA, enquanto 13 milhões de pessoas assistiam a tudo no Discovery Channel – foi a maior audiência dos últimos 13 anos do canal. Em setembro, o base jumper norte-americano Miles Daisher anunciou que iria tentar saltar de moto no cânion do rio Snake, em Idaho (EUA). Enquanto isso, “Sketchy” Andy Lewis – o slackliner norte-americano que ganhou fama ao se apresentar em um show da Madonna em 2012 – caminhou por uma corda de 110 metros esticada entre duas torres do resort Mandalay Bay, em Las Vegas, também em 2013.

Em muitos aspectos, esses espetáculos midiáticos representam um retorno a uma antiga forma de entretenimento. “A ideia de realizar proezas arriscadas na frente das pessoas remonta à era dos circos e é bem consistente com as necessidades da mídia digital contemporânea”, analisa Robert Thompson, professor de comunicação da Universidade de Siracusa, em Nova York. Em uma época de audiência cada vez mais reduzida e um público atenção fragmentada entre incontáveis sites e redes sociais, o que poderia ser mais empolgante que uma proeza atlética apimentada por uma possibilidade real de tragédia televisionada? “Quando você mostra alguém que está realmente forçando os limites mais extremos da capacidade humana, isso toca muito profundamente nossos telespectadores”, diz Howard Schwartz, produtor-executivo do Discovery Channel que esteve por trás do projeto de Nick Wallenda. “E, para ser muito franco, tem aquele apelo irresistível do ‘será que ele vai conseguir?’.”


NINGUÉM ESTÁ MAIS BEM PREPARADO para esse tipo de conquista esportiva de alta visibilidade que Alex, um cara meio desengonçado de olhos grandes e inocentes que despontou no cenário do escalada em 2008 ao fazer uma ascensão freesolo do icônico Half Dome, um dos paredões mais míticos entre os escaladores do Yosemite. Depois disso, ele invadiu a mídia tradicional ao estrelar uma propaganda do Citibank filmada no deserto de Moab, em Utah (EUA), e protagonizar um especial do tradicional programa de TV norte-americano 60 Minutes, que usou imagens da Sender Films. “Ele é maior que o esporte de escalar”, conta Peter. “Alex está fazendo coisas que não acontecerão novamente por, pelo menos, uma geração. Isso se não for para sempre.”

Alex, como é típico dele, tenta não contar vantagem sobre a escalada que fará no arranha-céu. “É uma simples coincidência o fato de eu ser apaixonado por fazer algo que é também extremamente fotogênico”, diz. Mas ele tem consciência de que o edifício Taipei pode ser sua festa de debutante no cenário internacional. Alex não fala de cifras específicas, mas reconhece que, pela façanha, receberá “muito mais grana que qualquer coisa que já fiz no mundo da escalada”.

Assim que Alex e Peter venderam a ideia para a National Geographic, tiveram que se envolver em um complexo e longo processo de convencer os proprietários dos maiores arranha-céus do mundo a permitir o evento. Foram primeiro bater na porta do maior prédio do planeta, o Burj Khalifa, em Dubai, que Alex examinou de perto no ano passado. “Só essa fase inicial de planejamento já foi uma experiência para se contar aos netos. Afinal, tive que fazer rapel no maior prédio da Terra.” Finalmente ele e Peter decidiram pelo segundo prédio mais alto do mundo, o Taipei 101. “O Burj era hardcore demais para mim”, explica Alex. “É o El Capitan [outro mítico e duríssimo paredão do Yosemite] dos arranha-céus.”

No início da empreitada, a equipe da Sender Films manteve segredo sobre o projeto taiwanês, já que não queriam atrair a atenção de curiosos. Para preservar a surpresa, Alex fez o reconhecimento das paredes sempre nas primeiras horas do dia. “Você precisa tocar tudo, já que não dá para saber como é a construção durante todo o caminho – se há um espaço insuperável de dois metros e meio sem apoio, 500 metros prédio acima, por exemplo”, explica.

Alex diz que a escalada em si não é tão difícil e que o risco maior seria um pedaço do prédio se soltar de repente. Como na empreitada na corda bamba sobre o rio Colorado de Nick Wallenda, a transmissão de TV ocorreria com um atraso de dez segundos, para dar tempo de os produtores cortarem o sinal se algo der errado (muitos dos melhores escaladores de freesolo morreram em acidentes de escaladas). Embora os organizadores do projeto tenham tentado convencer Alex a usar algum dispositivo de segurança, como um paraquedas, por exemplo, o escalador bateu o pé e disse que tem tudo sob controle.

“Não se segue adiante com um projeto como esse se você pensa que existe uma chance de 15% de não conseguir realizá-lo”, diz Alex. “A chance de eu conseguir chegar ao topo do edifício é de 100%”. Ou talvez ele não consiga. Mas você vai ter que assistir para saber.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2014)







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