A luz das pequenas coisas

O fotógrafo russo Alexey Kljatov foca suas lentes nas fantásticas formas dos flocos de neve que caem na varanda de sua casa e revela imagens de um mundo diminuto que parece de mentira

Por Maria Clara Vergueiro


Qualquer que seja a influência invisível (e talvez mágica) que cobre a natureza de cores e formas precisas, esse trabalho misterioso fica ainda mais impressionante quando a escala é mínima. Fascinado pelas imagens desse universo paralelo, o russo Alexey Kljatov, de 38 anos, está se tornando um perito em fotografias de minúsculos flocos de neve, seu objeto de estudo há seis invernos. Existem dezenas de tipos conhecidos desses fragmentos. Os mais complexos são formados em condições específicas de pressão e temperatura que permitem um encontro único entre as moléculas. “Quanto menor o cristal, maior a quantidade de detalhes gráficos revelados na imagem”, explica o fotógrafo. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o projeto.

GO OUTSIDE Como você começou a se interessar por flocos de neve?

ALEXEY KLJATOV Desde quando comprei minha primeira câmera digital, há cerca de dez anos, eu já ficava entusiasmado com as “macropossibilidades” das lentes, que permitem registrar detalhes tão legais e invisíveis a olho nu. Como muitos iniciantes, comecei fotografando flores, borboletas e outros pequenos insetos e passei anos sem experimentar outra coisa. Um dia vi na internet uma imagem de floco de neve, cujo autor eu infelizmente desconheço. Além de esses cristais serem, na minha opinião, incrivelmente lindos, eu poderia fotografá-los com uma câmera simples. No inverno seguinte comecei a registrá-los, porém cometi uma série de erros: escolhia pontos escuros, fazia sombra sobre os flocos, usava aberturas muito altas do diafragma e, assim, as imagens acabavam tremidas. Aperfeiçoei meu método e minha técnica e passei a fotografar com tripé e com uma luz melhor.


Como é seu processo de trabalho? Que tipo de equipamentos e pós-produção você usa?

No começo eu fotografava sem nada além da câmera, uma Canon Powershot A650 que tem 12 megapixels e trabalha muito bem no modo macro, com capacidade de focar objetos a partir de um centímetro de distância da lente. Isso é o suficiente para tirar boas fotos de flocos de neve em baixa resolução, o que me permitia usá-las na internet ou fazer montagens, mas não imprimi-las. Meu “estúdio” é a minha varanda, em Moscou, onde posso trabalhar sem ser incomodado e correr para dentro de casa antes de congelar. Tenho dois métodos diferentes: em um deles, uso a superfície escura de um corte de lã onde os flocos pousam e a iluminação é a luz natural de dias nublados. No outro método, os flocos são colocados em uma superfície de vidro, que eu ilumino atrás com uma lâmpada de led. O mais difícil não é tirar a foto, mas todo o processo anterior e posterior. Na pós-produção, prefiro acentuar tons de azul aos tons de cinza.


Quantos tipos de flocos de neve diferentes você já fotografou?

Eu já captei 15 ou 16 tipos diferentes, mas nem todos com qualidade satisfatória, infelizmente.


Faz seis anos que você trabalha sobre um mesmo tópico. O que você aprendeu com esse projeto?

Quando comecei a fotografar flocos de neve, eu não tinha ideia da quantidade de formatos e desenhos que existem. A olho nu, só conseguimos enxergar alguns tipos, os maiores e mais estelares, de aproximadamente quatro ou cinco milímetros (no último inverno vi alguns cristais de um centímetro). Os maiores são mais monótonos —se é que se pode dizer isso —, por isso ter a chance de observar médios e pequenos cristais com todos os seus detalhes, suas figuras internas e centrais, é algo incrível.


Qual é seu próximo trabalho ou tema?

Eu tenho um trabalho paralelo com fotos em superexposição (com o diafragma aberto por muito tempo de forma que as imagens ganham muitas texturas e movimentos), e outro de pintura sobre fotografias de objetos e natureza morta, que terá bastante pós-produção. Tanto um quanto o outro são bem mais complexos que o trabalho com os cristais.


As pessoas já duvidaram das suas fotos?

Sim, muitas pessoas já duvidaram das minhas imagens porque estão acostumadas a ver os flocos de neve clássicos, maiores do que os que eu registro. Os menores, como eu disse, são carregados de outras informações que realmente parecem de outro mundo. As pessoas duvidam mesmo do que não conhecem, é normal.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2014)







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