Sangue salgado

Aos 13 anos, o paulista Samuel Pupo, irmão do surfista profissional Miguel Pupo, tem tudo para continuar a “tempestade brasileira” que vem assolando esse esporte


Por Mario Mele
Fotos: Alexandre Gennari


SABE MUITO: Samuel dando um aéreo cheio de classe em Maresias, no litoral de São Paulo


NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS, o surf brasileiro tem vivido momentos inéditos. Nomes como Bruno Santos, Adriano de Souza, Jadson André e Gabriel Medina se revezam para colocar o país no topo da hierarquia do esporte competitivo. A chamada Brazilian Storm (Tempestade Brasileira) foi noticiada pela mídia especializada como um time formado não somente por moleques radicais, mas por uma geração que também aprendeu a competir e vencer. No que depender da família Pupo, a tempestade ainda está longe de dar trégua.

Aos 13 anos, Samuel é o caçula de um clã que respira surf. Seu irmão mais velho, Miguel, tem apenas 22 anos e foi o brasileiro mais bem colocado no Pipe Masters de 2013, no Havaí. Com isso, garantiu uma vaga no circuito mundial deste ano. Seu pai, Wagner, foi surfista profissional entre 1989 e 2008 e, nesse tempo, integrou a elite mundial do esporte e beliscou um título brasileiro. Hoje, com a marca Ohana Pupo, Wagner produz as pranchas que os dois filhos usam para se divertir e competir.

Ter nascido em São Sebastião (SP) e morar próximo à praia, dividindo o teto com surfistas tão envolvidos com o esporte, bastou para que Samuel não pensasse em outra coisa. Recentemente seus vídeos – produzidos pela mãe, Jeane, que às vezes também se arrisca nas ondas – foram parar em sites internacionais e chamaram a atenção para uma criança que surfa como adulto. Samuel tem uma linha fluida e um rol de manobras que vai das rasgadas aos aéreos rodados. E faz tudo parecer fácil. “Esta sequência de batidas mereceria nota dez em qualquer campeonato”, comentou um espectador virtual.

Samuel não se intimida com rivalidades, baterias ou juízes. Em 2013, ele foi campeão por antecipação do Hang Loose Surf Attack – circuito que é porta de entrada para competições de alto nível – na categoria iniciante. A seguir ele mostra que, apesar de extremamente focado no surf de alta performance, é uma criança normal.


UM MENINO: O surfista em foto tirada em sua casa, em Maresias


Surf em família

“Meu pai é o cara que tem uma linha de surf que eu admiro. Ele me acompanha nos eventos e me dá toques sobre competição. Já meu irmão tem um surf bem radical, com manobras fortes e sempre pega altos tubos. É Miguel quem me dá dicas de manobras aéreas e me ensina sobre posicionamento dentro do tubo. Quando ele está no Brasil, costumamos surfar em Paúba (SP) e, entre uma onda e outra, conversamos sobre o circuito mundial.”


Evolução

“Além de treinar muito, estou toda hora vendo filmes de surf. Muitos! E sempre que possível meu irmão me leva às etapas do WCT (a elite do circuito mundial). Miro minha evolução em tentar fazer um surf de linha com manobras radicais.”


Referências

“Meu maior ídolo é meu irmão, lógico. Ele surfa muito, é um dos melhores do mundo. Meu pai também sempre fala do [norte-americano] Tom Curren, porque o cara tem um surf animal. Já assisti a alguns filmes dele e curto o estilo, principalmente as curvas que ele faz nas ondas.”


Skate

“Eu usava fraldas e já andava de skate, dava umas batidas. Isso me ajudou a evoluir no surf. Hoje ando de skate mais para aprimorar minhas manobras aéreas, porém de leve para não me machucar.”


Viagens

“No Brasil, costumo viajar para Saquarema [RJ], Florianópolis [SC] e Garopaba [SC] para competir. Já fiz viagens ao exterior para surfar também: fui à Austrália, Califórnia [EUA], Peru, El Salvador, Mentawai [Indonésia] e Havaí. Meu foco é viajar cada vez mais e surfar ondas boas, para um dia entrar mais bem preparado no WCT. Isso faz a diferença na hora de enfrentar os gringos, que viajam e pegam ondas perfeitas desde pequenos. Por fazer parte da equipe de groms [surfistas jovens] da Hurley, todo ano viajo com bons atletas, e isso me dá mais vontade de melhorar. Quero mostrar por que estou ali.”


Auto-imagem

“Eu gosto de me ver surfando e tenho a sorte de ter uma mãe que é diretora e produtora de filmes. Assisto aos vídeos com minha família com a intenção de corrigir as manobras que mais gosto, como aéreos e rasgadas de frontside.”


Escola

“Estou no oitavo ano e, como viajo muito, tenho sempre que correr atrás do prejuízo. Meus pais ficam no meu pé para eu estudar e ter boas notas. O Miguel teve que terminar o colégio antes de ir para o circuito, e eu sempre tomo isso como exemplo.”


Rivalidade em família

“Não existe. O Miguel é meu amigo, sempre fomos muito unidos e isso nunca vai mudar. Meus pais nos dão bons conselhos em relação a isso, e meu irmão fica feliz em me ver seguindo seus passos. Quero que ele seja campeão mundial, e caso nos encontremos em alguma bateria do WCT, daqui a uns anos, vamos curtir demais porque será um momento só nosso.”


Se não fosse o surf…

“Não consigo me imaginar sem o surf. Meu pai já foi profissional e hoje meu irmão integra a elite do circuito mundial. Minha família é puro surf, vivemos na praia e respiramos esse esporte.”


Planos futuros

“Meu pai é quem cuida da minha agenda: a cada ano pensamos em eventos e viagens para lugares onde o circuito mundial passa. Meu foco são as competições: gosto desse lance de ter que virar uma bateria no último instante e da adrenalina de cair em mares grandes e tubulares. Meu sonho é entrar no WCT e ser campeão do mundo. Estou me preparando para esse dia.”

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2014)







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