Ter contato desde cedo com a natureza e os esportes outdoor não proporciona apenas diversão, mas lições importantes que acompanham as crianças até bem depois da infância
Por Maria Clara Vergueiro
NOS ÚLTIMOS MESES, a mãe de Lucas Mariutti, de 13 anos, tem tido alguma dificuldade em tirar da cabeça do menino a ideia de passar metade do dia em cima da sua bike de BMX, treinando em uma pista da zona oeste de São Paulo. Lucas é o filho mais novo do casal Ana Paula e Alexandre Mariutti – também apaixonados por tudo o que envolve natureza, viagem e bicicleta – e está fissurado pelos treinos semanais de terça a sexta-feira no Bike Park Cancioneiro (R$ 20 por mês; cdcarenaradical@gmail.com). “Ele quer chegar sempre duas horas antes do início da aula e só não vai às segundas porque a pista não abre”, conta a educadora Ana Paula, que neste ano viu o filho mais velho, Thomas, de 15 anos, embarcar sozinho para os Estados Unidos, onde vai estudar, treinar e morar, por pelo menos um ano, em uma escola particular que o recebeu como atleta da equipe de mountain bike de lá. Os dois meninos herdaram dos pais o gosto pelas trilhas e pelos equipamentos, e desde pequenos acompanharam – muitas vezes puxados por uma cordinha ou mesmo dentro de algum carro de apoio – os passeios e competições de fim de semana de Ana Paula e Alexandre, que não queriam ficar longe dos filhos, muito menos abrir mão dos esportes. Logo os dois meninos estavam fazendo aulas de remo, bike e corrida com uma assessoria esportiva especializada na iniciação de crianças no universo da aventura, a Núcleo 16 (contato@nucleoaventura.com.br). E só deixaram o grupo quando o mais velho passou a querer se aproximar mais das competições e dos treinos “sérios”. Antes de ganhar o mundo, porém, Thomas participou, ao lado do irmão, de três edições do Acampamento de Aventura Go Outside, espécie de colônia de férias que acontece em uma fazenda em Juquitiba (SP) e é voltada a pais interessados em proporcionar aos filhos de 6 a 14 anos experiências reais junto à natureza e aos esportes ao ar livre. No acampamento, é comum ver os pequenos paramentados com lanternas de cabeça, mochilas de hidratação e bússolas ou arrumando a bagunça de suas barracas de camping, montadas perto de uma antiga casa rancheira, onde estão a cozinha, os banheiros, a mesa de refeição e o grande fogão a lenha responsável por secar à noite as dezenas de tênis enlameados durante o dia nas trilhas e na represa da região. As atividades combinam momentos de descontração – brincadeiras livres no gramado, cineminha, slackline e papo na fogueira – com camping selvagem, pequenas expedições de mountain bike e trekking, remadas na represa e até uma miniprova de aventura no penúltimo dos cinco dias de acampamento, com direito a equipes mistas formadas por crianças de diferentes idades e, claro, medalhas no final. O acampamento não tem data definida para acontecer, mas costuma rolar durante as férias escolares de verão e de inverno (mais informações em acampamentodeaventura@nucleoaventura.com.br; tel. 11 3051-2237).
SE AS ATIVIDADES FÍSICAS são, de modo geral, capazes de promover autoestima e confiança, aquelas que combinam esporte, trabalho em equipe e vida outdoor podem ter impacto ainda maior. “As situações vividas pelas crianças junto à natureza trazem desafios e problemas que exigem uma boa análise das soluções possíveis, desenvolvendo a criatividade e ajudando na construção da identidade e das diferentes capacidades de cada um”, diz Silvia Guimarães, ex-atleta de aventura formada em pedagogia e uma das responsáveis pelo projeto do acampamento, que reúne as habilidades de diferentes empresas e profissionais ligados à vida ao ar livre: a assessoria esportiva Núcleo Aventura, as empresas Ecomotion e Canoar – de corrida de aventura e rafting, respectivamente – e Caco Alzugaray, publisher da revista Go Outside. No Rio de Janeiro, cidade brasileira que mais bem concilia a vida da metrópole com a exuberância natural da sua geografia, a Crux Ecoaventura (cruxecoaventura.com.br) oferece aulas regulares de escalada no bairro da Urca e, eventualmente, em vias no Morro Dois Irmãos e na Floresta da Tijuca. Além dos cursos fixos, é possível comprar roteiros de um dia pelo site (R$ 120 cada, em média) para que pequenos turistas ou locais desbravem, por exemplo, as grutas do Parque Nacional da Tijuca. Sócia da Crux há 15 anos e fundadora do projeto social Centro de Montanha Vidigal – que ensina escalada e slackline para jovens da comunidade de mesmo nome –, Christina Murad já arrebatou pais e filhos com as experiências que promove. “As crianças são naturalmente curiosas e não costumam ter muitos medos. Sempre nos surpreendem com sua atitude e coragem, por isso é bom desafiá-las desde cedo.”
(Trecho da reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro 2013/janeiro 2014)
Lucas, 13, treina BMX no Bike Park Cancioneiro, em SP
Momento no Acampamento de Aventura Go Outside, em SP