Show de talento

Os ótimos resultados da carioca Manu Vilaseca em provas importantes de corrida de montanha confirmam a atleta como um dos grandes nomes da modalidade no Brasil

Por Mariana Mesquita
Foto Bruno Senna


QUANDO MANUELA VILASECA percebeu que faltavam apenas sete quilômetros para terminar a The North Face Endurance Challenge do Chile, que aconteceu no dia 19 de outubro, seu sorriso era de puro orgulho. Não era para menos: ela estava prestes a vencer a dura prova de 80 quilômetros e 7.288 metros de desnível acumulado que cruza as montanhas da região de Santa Martina, perto de Santiago. Manu, como é conhecida pelos amigos, concluiu a competição em 9h56min51s, reduzindo em 44 minutos seu tempo de 2012, quando ficou 20 minutos atrás da chilena Marlene Flores – que, neste ano, saiu-se vice-campeã, completando a prova em 10h29min39s.

Com mais essa conquista, a carioca de 34 anos comprovou que figura entre os grandes nomes da corrida em trilha no Brasil. Garra para abocanhar outras vitórias, Manu já mostrou que tem de sobra. Depois de sofrer com o cansaço e andar em boa parte do percurso da edição 2012 da prova chilena, ela decidiu retornar ao evento neste ano com muito mais preparo físico e mental. A autoconfiança havia ganhado um reforço em agosto, quando a corredora ficou na oitava posição geral entre as mulheres na famosa Ultra-Trail du Mont-Blanc, na Europa, uma das competições de trail running mais tretas do planeta – são 168 quilômetros, com 9.600 metros de desnível positivo. Foram 30h17min pelos Alpes percorridos de uma só tacada, enfrentando subidas amedrontadoras e variações de temperatura que foram dos 7º C aos 25ºC. “No fim, eu não conseguia nem caminhar até o hotel de tanta dor. Treinei muito para conseguir esse bom resultado”, diz ela, formada em desenho industrial e que, hoje, toca a empresa da família.

Manu não é novata nos esportes outdoor. Após uma adolescência dedicada ao hipismo, com 20 e poucos anos ela caiu de amores pela corrida de aventura, modalidade que, na época, vivia seu auge no Brasil. Da primeira provinha, em Mangaratiba, no Estado do Rio de Janeiro, a moça buscou desafios cada vez maiores. Integrou a equipe Merida de mountain bike, pela qual ganhou títulos como o de campeã feminina na Supertravessia TransPortugal (1.000 quilômetros durante oito dias) em 2009. Participou de duas edições do Ecomotion Pro e foi bicampeã, em 2011, da Tierra Viva, corrida de montanha de 500 quilômetros na Patagônia. Manu até se arriscou como triatleta em Ironman.

Foram anos dedicados a diversas modalidades, quando, em 2011, Manu passou a focar apenas na corrida em trilha. “A partir daí, evoluí muito porque concentrei todas as minhas forças em apenas um esporte.” Naquele ano, ela participou – e venceu – sua primeira prova de longa distância, a La Mision Race, de 168 quilômetros e 8.000 metros de desnível acumulado. Depois do sucesso, ela e seu treinador, o carioca Iazaldir Feitosa, decidiram que era a hora de filtrar o calendário de provas. Foram selecionadas as competições que a corredora mais tinha vontade de participar, mas sempre tendo como grande meta a Ultra-Trail du Mont-Blanc.

Para a energética Manu, estar longe das trilhas é como ficar sem ar. Ela, que nasceu no Rio de Janeiro e divide o tempo dos treinamentos com o trabalho de administradora, diz que não vive sem esportes e natureza. “A primeira vez que vi uma montanha de perto, fiquei de queixo caído. Tive certeza de que queria estar ali, e esse amor só foi aumentando”, conta ela, que inclui em sua lista de “coisas para se fazer antes de morrer” chegar ao cume do Everest (8.848 metros de altitude), a mais alta montanha do mundo.

Seu programa de treinamento é puxado: treina sete vezes por semana, dependendo da temporada. Em geral acorda cedo, lá pelas cinco da manhã. Depois, trabalha em sua empresa até o fim da tarde, e não raro treina de novo. Para fortalecer os músculos, faz funcional com Iazaldir pelo menos duas vezes por semana, nas praias do Rio. Nos dias de folga, gosta de dar uma volta de bicicleta ou skate pela cidade, fazer um “almojanta” no final de tarde e curtir um cinema. Vira e mexe, ela viaja para a região serrana do Rio, onde tem uma casa e aproveita para descansar o corpo e tranquilizar a alma.

Mesmo após conquistar grandes sonhos da corrida de montanha, Manu continua acalentando novos desafios. Independentemente das competições de trail running, na vida dessa corredora o destino final nunca foi o principal objetivo. Para ela, é sempre a jornada e o prazer de se estar numa montanha o que realmente importam.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2013)







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