Orgulho em Kona

Em sua estreia no Ironman do Havaí, o catarinense Igor Amorelli torna-se o brasileiro com o menor tempo na história da mais dura prova de triathlon do mundo

Por Mariana Mesquita


DE AÇO: Igor posa em Kona, dois dias após o Ironman
(Foto: Thierry Sourbier)

FOI UMA ESTREIA HISTÓRICA. Em sua primeira participação no Mundial de Kona, a mais famosa etapa do circuito de triathlon Ironman, o catarinense Igor Amorelli tornou-se o mais rápido brasileiro na história dessa prova, que rolou em outubro. Aos 28 anos, o atleta chegou na 13a colocação geral masculina, completando os 3,8 quilômetros de natação, 180 quilômetros de ciclismo e 42 quilômetros de corrida da competição em 8 horas, 34 minutos e 59 segundos. Quebrou, assim, a melhor marca verde e amarela até então, de 8h49m15s, conquistada pelo carioca Alexandre Ribeiro em 1993. Mesmo com tempo maior que o de Igor, no entanto, Alexandre ainda detém a melhor colocação brasileira no Havaí (12º lugar).

Igor, que trabalha como professor de educação física, pratica triathlon há nove anos, mas faz esportes desde criança. Em triathlon olímpico (com percurso de 1,5 quilômetro de natação, 40 de bike e 10 de corrida), consagrou-se campeão sul-americano em 2009. Logo depois, em 2012, começou a experimentar os desafios do Ironman – chegou em 6º lugar na etapa 70.3 da Flórida e, neste ano, ficou com a vice-liderança em Florianópolis.

Essa experiência toda foi fundamental para Igor aguentar o sol escaldante e os fortes ventos do Iron do Havaí, no qual só competem os atletas mais bem ranqueados nas 27 etapas classificatórias, que acontecem ao longo do ano em países como Canadá, México, China, Alemanha e França. “Antes da prova, comentei com amigos e técnico que só queria fazer o meu melhor. Tanto que optei por não usar relógio durante a competição”, diz ele, revelando uma tática impensável para grande parte da galera que encara um Ironman e costuma medir cada minuto da performance.

Ficar para trás de 12 dos 55 concorrentes da categoria elite da prova não foi nada fácil. A começar pela natação, durante a qual Igor penou para fugir da muvuca e conseguir uma boa posição. Saiu da água após 51 minutos, em 6º lugar. Era então a vez de enfrentar o calor do asfalto e a famosa ventania havaiana: fez a etapa de ciclismo em 4h35m16s, terminando na 12ª colocação. A parte mais dura, porém, estava por vir. Durante a maratona, as pernas começaram a pesar, e o rendimento, a cair. “Nos últimos sete quilômetros, eu estava bem cansado. Já não conseguia raciocinar direito. Nesse momento, cheguei a perder três posições”, relembra. Finalizou a corrida em 3h04m.

Em uma performance surpreendente, o belga Frederik Van Lierde foi o grande campeão do Ironman do Havaí de 2013, com 8h12m29s de prova. Desde sua primeira edição, em 1978, o Mundial de Kona vem presenciando uma forte queda nos tempos – em 1983, o campeão completou a prova em 9h05m57s; já em 2011, o australiano Craig Alexander conseguiu a melhor marca até hoje, fechando o percurso em 8h03m56s. “A tecnologia à disposição dos atletas e treinos cada vez mais sofisticados têm contribuído muito para essa melhora na performance”, diz Igor. “Por isso, é preciso ter paciência e autoconhecimento para saber se comportar bem e não sucumbir à ansiedade quando se compete ao lado desse grupo de atletas.”

Depois de pisar no tapete vermelho da chegada do Ironman e ser recompensado com um visual incrível, uma animadíssima torcida e a deliciosa sensação de desafio vencido com louvor, Igor agora espera seu corpo se recuperar completamente de tamanho esforço, e até já pensa em algumas provas marcadas para este mês de novembro no Brasil. Parar, definitivamente, não é uma palavra muito usada por ele.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2013)