Sangue, suor e vista para o mar

Pelo segundo ano consecutivo, monstros do universo outdoor se reunirão em novembro no Rio de Janeiro para disputar o Rocky Man, prova multiesportiva em equipes onde a estratégia é tão importante quanto a força


Por Maria Clara Vergueiro


QUEM ESTAVA NA CAPITAL CARIOCA no primeiro fim de semana de novembro do ano passado viu: eram 20 equipes formadas por homens e mulheres que exploraram todo o potencial natural da Cidade Maravilhosa, sobre duas rodas, com as próprias pernas, em cima de pranchas, dentro de embarcações. Já de largada, o Rocky Man – competição concebida e realizada pela editora Rocky Mountain, que publica as revistas Go Outside e Hardcore – contagiou as pessoas nas ruas e na orla do Rio de Janeiro. Com os olhos atentos, elas acompanharam de perto atletas que se lançavam em uma bateria de surf no Arpoador, cruzavam o Parque Nacional da Tijuca correndo e pedalando e despencavam de parapente da Pedra da Gávea para chegar à Praia de São Conrado. Foi um espetáculo multiesportivo e itinerante, de um dia inteiro, com nomes consagrados dos esportes outdoor dando o sangue pela vitória.

Na primeira edição da prova, participaram quatro integrantes por equipe, incluindo ao menos uma mulher, que se alternavam em provas de surf, mountain bike, stand-up paddle, corrida de montanha e parapente, para depois remarem juntos 15 quilômetros em uma canoa polinésia e correr outros dez até a linha de chegada. O desafio de cada time foi encontrar esportistas ecléticos o suficiente para desempenhar competitivamente na sua modalidade e nas etapas coletivas. Cris de Carvalho, capitã do Núcleo Aventura (equipe vice-campeã em 2012 e melhor colocada brasileira na competição), optou por fazer dois de seus atletas atuarem em duas provas cada um: Alessandro Matero, especialista em stand-up paddle, disputou também a etapa de surf, enquanto o triatleta de cross-country Alexandre Manzan participou do mountain bike e da corrida de montanha. “Só temos boas lembranças do ano passado, portanto os integrantes do time continuarão muito parecidos”, conta Cristina, que volta a capitanear o Núcleo Aventura nessa segunda edição.


FRENÉTICOS: Atletas do Rocky Man revezaram-se em diversas modalidades da prova em
2012

(Foto: Thiago Diz, Henrique Pinguim e Alexandre Cappi)


Em 2013, a batalha no Rio de Janeiro já tem data marcada (09 de novembro) e trará novos desafios aos atletas do Brasil, Canadá, Argentina, Nova Zelândia, Espanha e Estados Unidos – este último país venceu o Rocky Man 2012, sob o comando de Paul Romero. A prova de parapente, que saía da Pedra Bonita e aterrissava em São Conrado, foi substituída por uma de escalada em rocha, ainda sem local e critérios de pontuação definidos. Nesta segunda edição, as mulheres ganharam uma disputa só para elas e vão queimar as panturrilhas em um dos dois trechos de corrida de montanha da prova. A etapa extra resultou em um aumento no número de integrantes por equipe: no ano passado, eram quatro, agora serão cinco. “Adorei a ideia do trail running feminino”, vibra Rafael Campos, capitão da equipe Quasarlontra, quinta colocada em 2012. Outra mudança que vai interferir diretamente na estratégia montada pelos capitães está no surf, que nesta edição terá mais impacto no tempo total da equipe, o que deve obrigar as equipes a incluírem um atleta, no mínimo, experiente para disputar a modalidade.


Esse verdadeiro “xadrez físico e mental” vai desafiar as 20 equipes (cinco delas estrangeiras) do Rocky Man 2013, seus 100 atletas e mais uma enorme estrutura que vão, outra vez, transformar o Rio de Janeiro em uma arena multiesportiva. “Já estamos quebrando a cabeça para montar o melhor time possível”, diz Anderson Langeloh Roos, capitão da equipe catarinense Sulbrasilis, que está considerando assumir a escalada da prova e retomar à prática que ele deixou adormecida nos últimos anos. Além da mudança de algumas regras e critérios de avaliação, o percurso desenhado em 2012 – que contemplava 35 quilômetros de mountain bike, 30 de corrida de montanha, 10 de corrida de rua em equipe, 15 de remo e 4 quilômetros de SUP, além das baterias de surf e da etapa de parapente – também sofrerá alterações. Ainda assim, todos os caminhos continuarão fazendo do Rocky Man um dos eventos esportivos mais eletrizantes do Rio de Janeiro. “A estreia do Rocky Man foi muito bem-sucedida. Tudo o que deu certo será reafirmado este ano, com a vantagem de podermos valorizar ainda mais a disputa entre esses atletas fantásticos e o evento de modo geral, com pequenas novidades e ajustes”, diz Caco Alzugaray, publisher da editora Rocky Mountain.


MATAGAL:No último trecho, as equipes correram juntas por terra, asfalto e areia até a
linha de chegada

(Foto: Alexandre Cappi)


As modalidades deste ano

>Surf

>Mountain bike

>Corrida de montanha (etapa feminina e etapa masculina)

>Stand-up paddle (SUP)

>Escalada em rocha

>Canoa polinésia


Duelo de gigantes

Confira as equipes e os capitães que se enfrentarão na prova

> Núcleo Aventura (SP)

Capitã: Cris de Carvalho
Referência em treinamento físico de montanha no Brasil, é dona d
a melhor colocação de uma brasileira na Ultra-Trail du Mont Blanc e a atleta do país que mais vezes venceu o El Cruce Columbia até hoje. Já foi campeã do Iron Man de Kona, no Havaí, e venceu duas vezes o Ecomotion Pro, com as equipes Atenah e Mamelucos.

> Quasarlontra (SP)

Capitão: Rafael Campos

Atleta de corrida de aventura desde 1999 e maior campeão brasileiro da modalidade, além de campeão da Between Two Continents, Between Two Oceans, uma das mais desafiadoras corridas de aventura do mundo.


> Selva (SP)

Capitão: Caco Fonseca

Tem no currículo participações em algumas das principais provas de aventura do mundo, entre elas a Patagonia Expedition Race e oito edições do Ecomotion Pro


> Ecomotion (SP)

Capitã: Shubi Guimarães

Organizadora da maior corrida de aventura do Brasil, o Ecomotion Pro, e atleta fundadora da equipe de aventura Atenah, formada só por mulheres.


> Terra de Gigantes (RJ)

Capitão: Philipe Campello

Carioca, Philipe está acostumado a conciliar o trabalho na área de turismo com treinos puxados para competir em provas de aventura e organizar a própria, a Expedição Terra de Gigantes. Em 2012 e 2013, sua equipe esteve entre as primeiras colocadas no Ecomotion.


> XTerra (RJ)

Capitão: Bernardo Fonseca

Organizador de principal circuito de triathlon cross-country do país, o XTerra; já completou provas duríssimas, como a Maratona da Antártica e a Maratona de Sables.


> Start (RJ)

Capitão: Alexandre Maximiliano

Dono de diversos títulos dentro e fora do país, incluindo um terceiro lugar no Ironman Havaí na categoria até 24 anos.


> Sulbrasilis (SC)

Capitão: Anderson Langeloh Roos

Já participou de quase todas as edições do Ecomotion Pro e de diversas provas internacionais, como o Desafio dos Vulcões, na Patagônia.


> Gantuá (BA)

Capitã: Diana Gomes

Atual campeã baiana de mountain bike e top 10 entre as duplas mistas da ultramaratona Brasil Ride de 2012 de MTB. Sua equipe foi campeã da Maratona de Canoagem Brasil Wild em 2011.


> Brasília Multisportes (DF)

Capitão: Alexandre Carrijo

Já foi atleta da seleção brasileira de handebol, tornou-se corredor de aventura e hoje é organizador da competição Brasília Multi Sport (BMS).


> Canoar SOS Mata Atlântica (SP)

Capitão: Zé Pupo

Já foi técnico da seleção brasileira de canoagem na Olimpíada de Barcelona, duas vezes vice-campeão sul-americano e tricampeão brasileiro de rafting.


> Alexandre Ribeiro (RJ)

Capitão: Alexandre Ribeiro

Seis vezes campeão do Ultraman, competição de triathlon mais longa do mundo, o equivalente a dois Ironman.


> 4Any1 (SP)

Capitã: Gabriela Carvalho

Paulista, participou de três edições do Ecomotion Pro, tendo sido terceira colocada com a equipe Lobo Guará em uma delas. Já foi campeã do EMA (Expedição Mata Atlântica) e da Chauás 300K, em 2008.


> Chauás (SP)

Capitão: Francisco Perez

Criado na água, foi campeão sulamericano de vela, competiu em provas de triathlon e biathlon, e desde que começou nas corridas de aventura, em 1998, já contabiliza mais de 130 provas, 5 delas de mais de 500 quilômetros. É diretor técnico da Confederação Brasileira de Corridas de Aventura.


> Team USA

Capitão: Paul Romero

Referência quando o assunto é aventura e treinamento especializado, esteve no pódio das maiores corridas expedicionárias do mundo.


> Team New Zealand

Capitã: Nora Audrá

Uma das mais respeitadas atletas de aventura do Brasil, tem mais de 100 provas de aventura na bagagem e é organizadora de eventos de orientação em Christchurch (NZ).


> Equipe Argentina

Capitão: Alito Luchini

A experiência em competições de aventura o levou a coordenar os próprios eventos na Argentina. Praticante de tetrathlon na neve, esteve em três edições do Ecomotion Pro (2006, 2007 e 2008) e venceu provas como a La Mision (2009) e a Sol a Sol (2010)


> Equipe Espanha

Capitã: Barbara Bonfim

Desde 2012 a brasiliense se divide entre Brasil e Espanha, país da equipe Columbia Vidaraid, que já foi bicampeã do Ecomotion Pro (2012, 2013) e está entre as 10 melhores no ranking mundial de corrida de aventura.


> Equipe França

Capitão: Laurent Garnier

Há sete anos no Brasil, este engenheiro francês é atleta de corrida de aventura e ultramaratonista. Já foi ginasta da seleção francesa, tem 15 anos de prática de mountain bike e ainda brinca em diversas outras modalidades.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2013)