De onde vem a inspiração para enfrentar os perrengues?
PRIMEIRA VEZ: Karina, colunista do site Go Outside, alcança o topo do Everest
No último dia 17 de maio, às 7 horas da manhã, a brasileira Karina Oliani, 31 anos, estava no cume do monte Everest, a mais alta montanha do mundo, com 8.848 metros de altitude, localizada no Himalaia. Com o feito, ela cravou seu nome na história do montanhismo brasileiro, se tornando a mulher mais jovem do país a alcançar o teto do mundo – sem um guia de alta montanha.
A escalada de Karina foi marcada por dificuldades, como uma avalanche presenciada nas proximidades do “acampamento-base” e uma noite na chamada “zona da morte”, um acampamento a 8.000 metros de altitude.
Colunista do site da Go Outside (leia seus artigos aqui), Karina é a única médica da América Latina a ter o título de especialista em Wilderness Medicine concebido pela Wilderness Medical Society (WMS). Ela também é apresentadora de programas de esportes extremos na TV.
Em 2010, Karina participou da expedição em comemoração aos 25 anos do primeiro Seven Summits (a emblemática série de conquistas cujo objetivo é vencer a montanha mais alta de cada continente) organizada pelo escalador norte-americano Dick Bass. Com isso, se viu inspirada por esta aventura e, de lá para cá, já esteve no topo do Aconcágua (na Argentina, com 6.962 metros de altitude), do Kilimanjaro (na África, com 5.895 metros) e do Elbrus (na Europa, com 5.642 metros).
Direto de Kathmandu, Karina conversou com a Go Outside Online, falou sobre sua mais recente expedição e a futura intenção de se tornar a primeira mulher brasileira a vencer os sete cumes mais altos de cada continente.
SOBE: Depois do Everest, Karina já sonha com os Seven Summits
GO OUTSIDE: Depois de anos nas montanhas trabalhando como médica, quando surgiu a ideia de tentar se tornar a primeira brasileira a conquistar os Sete Cumes?
KARINA OLIANI: Surgiu exatamente em 2010, quando fui contratada para ser a médica da equipe do senhor norte-americano Richard Bass (Dick Bass), que foi o primeiro a concluir os sete cumes. Depois ele até escreveu um livro sobre a aventura. Naquela época, fiquei bastante tempo com ele e sua família, e naquela época ele me contou histórias emocionantes e inspiradoras de cada montanha. Tudo isso despertou o meu interesse em fazer os Seven Summits.
Qual a situação mais difícil que você enfrentou durante a subida ao Everest?
Na verdade foram várias: primeiro porque estamos com as garrafas de oxigênio contadas e também porque no dia de cume as temperaturas estavam ainda mais baixas, com ventos de 65 milhas por hora. Não foi nada fácil.
Em algum momento você pensou em desistir?
O único momento em que eu falei para o Pemba Sherpa que iríamos voltar foi quando, durante a madrugada, encontrei um homem que tinha perdido a visão (estava muito frio e vento e ele não usava nenhum tipo de proteção) e não conseguia voltar. Eu ia levá-lo ao acampameto 4 e desistir da minha escalada — a vida vem sempre em primeiro lugar, mas antes mesmo de eu terminar os primeiros socorros, outras três pessoas da equipe dele apareceram e disseram que iriam assumir a situação. Foi muito bom, porque ele também não falava inglês e isso ia dificultar nossa descida. Depois não tive mais notícias dele e nós continuamos nossa viagem.
Desde criança eu vou em busca de desafios e me coloco em situações que não estou acostumada para sair da zona de conforto. Por isso, tenho algumas técnicas, e uma delas é parar de pensar na dor e observar a beleza do lugar. Mas quando o negócio fica feio mesmo costumo pensar no que me deixa com mais medo, que é perder meu pai ou minha mãe — acho que nunca contei isso para ninguém. Quando esse pensamento toma conta da minha cabeça a situação se torna menos ruim e eu continuo.
Como tem sido a preparação para os Sete Cumes (tempo, treinos, viagens)?
Estou fazendo tudo conforme o possível, e aos poucos. Não tenho nenhuma necessidade de ser a primeira mulher brasileira a fazer, mas quero viver essa experiência incrível. Eu sei que tenho muito trabalho e não sei dizer quantos meses — ou anos — ainda vou levar para concluir o desafio.
Dos sete emblemáticos picos, qual você tem mais vontade de subir?
O Everest, por um motivo óbvio: desde 2009, a primeira vez que vim ao Nepal, me apaixonei pela beleza e pelo poder dessa montanha. Também tem algo aqui nos Himalaias que me encanta e eu não sei explicar bem por que, mas eu amo esse lugar.
Qual a maior dificuldade deste projeto até agora?
Acredito que seja viabilizar a verba para escalar cada montanha. Por incrível que pareça é a parte mais demorada e trabalhosa do projeto.
Qual sua opinião sobre a polêmica de pagar expedições para alcançar o cume?
Na verdade acredito que cada pessoa tem que se adaptar à cultura do país que está indo. Aqui no Nepal é assim: se você quiser escalar o Everest, tem que pagar os US$ 10 mil de permissão para o governo nepalês e começar a pensar em vir para o local. Caso contrário, você está ilegal. Não é uma escolha nossa, tem que ser pago e pronto! E isso fez parte do "desafio Everest" para mim porque levei três anos para captar esses recursos e poder estar aqui agora.
Na sua opinião, o que falta para que os brasileiros consigam mais marcas na alta montanha?
Eu acho que a cada ano estamos conquistando feitos mais legais em esportes outdoor distintos. O Brasil nunca vai deixar de ser o "país do futebol", mas é questão de tempo nos tornarmos um dos grandes ícones dos esportes de aventura: já estamos no caminho certo.