Documentário conta a história de cinco brasileiras apaixonadas pela escalada em rocha e que estão ajudando a expandir os limites do esporte entre as mulheres do país “TRABALHO PARA MANTER MEU VÍCIO.” Essa frase pode ter diferentes interpretações, mas vindo das protagonistas do documentário Elas na Pedra possui apenas um sentido: viver escalando por aí. O filme, que deve ser lançado até a metade de 2013, conta a história de cinco brasileiras de diferentes regiões do país que lutam diariamente para conciliar a rotina de uma vida “normal” com a paixão de treinar e estar na rocha desafiando os próprios limites.
A idealizadora do projeto é a escaladora Ana Lígia Fujiwara. Nascida em Piracicaba, no interior de São Paulo, ela tinha uma carreira frenética como engenheira agrônoma quando, às vésperas do nascimento de seu primeiro filho, percebeu a necessidade de desacelerar o ritmo e buscar mais qualidade de vida. Quis o destino que, naquele momento, Ana estreitasse seus laços com a escalada. “Eu sempre escalei. Mas, justo nesse período, comecei a sentir muita falta do esporte. Além disso, curiosamente, passei a escalar bem melhor após ter meu filho que antes da maternidade”, diz.
No mesmo ano, o marido de Ana, o também escalador Rafael Rodrigues, teve a ideia de criar uma revista digital para ajudar a divulgar a escalada no interior de São Paulo. Juntos eles lançaram a página EscaladaINT (escaladaint.com.br). Em 2011, pela primeira vez o casal começou a cogitar a possibilidade de produzir um documentário. Um dos fatores que afastaram a dupla do projeto por um período foi o desconhecimento: eles não tinham experiência e muito menos o equipamento necessário para produzir um filme de qualidade.
Desde então, Ana manteve-se ocupada com o trabalho, a manutenção do site, o filho e os treinos, porém sempre acalentando o sonho secreto de registrar as escaladoras brasileiras. “Só no ano passado, depois que investimos em uma câmera melhor, uma DSLR da marca Canon, decidimos desengavetar a ideia”, lembra. No começo, o projeto seria um álbum de fotos de meninas escalando pelo interior de São Paulo, mas aos poucos foi ganhando o formato de documentário. “Queríamos mostrar aos apaixonados pela modalidade as dificuldades e motivações das mulheres ao se dedicar a esse esporte”, diz Ana, que começou a escalar com um grupo de amigos quando tinha 20 anos.
Segundo ela, é cada vez mais comum ver homens dividindo vias de escalada com mulheres, que por sua vez estão se aperfeiçoando e tomando gosto pelo esporte. Em 2008, Ana visitou pela primeira vez a serra do Cipó, em Minas Gerais, e reparou em duas garotas chegando sozinhas. Elas equiparam uma via de nono grau de dificuldade técnica e escalaram-na de forma totalmente independente. “Aquela situação mudou minha vida. Percebi que não precisava ficar procurando uma via previamente equipada para escalar, nem pedir para fazerem isso por mim. A partir daquele momento, evoluí na escalada para poder equipar meus próprios projetos. Quem sabe, com esse filme, não conseguimos inspirar outras mulheres para que façam o mesmo?”, diz.
Aos poucos Elas na Pedra foi ganhando forma: decidiu-se que as protagonistas seriam mulheres escalando em diferentes regiões do país, cada uma com sua história e característica de atleta. “O mais difícil foi selecionar as regiões. Por final, decidimos que eu filmaria minha rotina de escaladora em São Paulo, e depois incluímos Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Rio de Janeiro. Além de serem lugares incríveis para se escalar, encontramos neles mulheres muito comprometidas com o esporte”, explica Ana.
Entre as personagens, estão a administradora baiana Daniela Santos, a professora mineira que vive no Espírito Santo Diandra Pittella, a analista de sistemas carioca Flavia dos Anjos e a arquiteta mineira Marcella Romanelli. Todas dedicam-se à escalada por prazer, e sempre que podem escapam para explorar a natureza e as rochas. “A escalada ocupa bastante meu tempo: se eu não estou escalando, estou conversando sobre o assunto ou sonhando com isso”, diz Marcella, que já conquistou mais de 40 vias em Minas Gerais.
Uma curiosidade do filme: todas as escaladoras foram responsáveis por suas próprias filmagens, a partir de diretrizes do casal de diretores, que ficou encarregado de toda a edição. Isso não apenas deixou a linguagem mais informal como minimizou, com criatividade, a logística e o custo de produção.
Um trailer com as primeiras imagens do documentário acaba de ser lançado, e a ideia é concluir o filme a tempo de participar de festivais como o Rocky Spirit, que acontece em São Paulo, e a Mostra Internacional de Filmes de Montanha, no Rio de Janeiro. “Independentemente disso, nosso objetivo é levar mais escalada para este mundão, por puro prazer e paixão pelo esporte”, vibra Ana.
* Para saber mais sobre o lançamento do filme e assistir ao de Elas na Pedra, acesse escaladaint.com.br
Matéria publicada originalmente na revista Go Outside nº 95 (abril/2013)
Por Mariana Mesquita
MULHER DE ROCHA: A baiana Daniela Santos escalando
em Igatu, em seu estado natal (FOTO: Igatu escalada)
GIRL POWER: A mineira Macella Romannelli; acima, a paulista Ana Lígia Fujiwara,
idealizadora do documentário, na via Velha Virgem (8c), em Minas Gerais
(Foto: de cima para baixo, Marcella Romanelli e Felipe Belisário)
CONCENTRAÇÃO: A professora Diandra Pitella escalando em Calogi (ES)
(Foto: Naoki Arima)