Um acidente quase fatal envolvendo o big rider californiano Greg Long e uma prancha a motor pilotada pelo havaiano Garrett McNamara reacende um debate sobre quem tem razão nas ondas gigantes: a tecnologia ou a remada
VIVINHO DA SILVA: Greg na Califórnia; abaixo, no dia do resgate Por Chris Dixon
EM DEZEMBRO PASSADO, 14 dos maiores surfistas de grandes ondas do mundo boiavam no outside de Cortes Bank, uma famosa montanha marinha localizada a 160 quilômetros de San Diego, na Califórnia, onde um swell vindo do norte do planeta prometia um mar enorme. No lineup estavam feras como o californiano Greg Long, de 29 anos, líder do movimento para ressuscitar o surf de grandes ondas na remada (sem a ajuda de jet skis para rebocar os atletas), e o havaiano Garrett McNamara, de 45, conhecido por caçar as maiores ondas do planeta – incluindo um paredão de água de 30 metros de altura, pego de tow-in (ou seja, com jet ski) e que virou atração mundial em jornais e redes sociais em janeiro deste ano. Quando uma série colossal de cinco andares de altura se aproximou, Greg e Garrett tentaram pegar a mesma onda. Greg estava em posição para pegá-la, e Garrett usava uma nova prancha chamada WaveJet, que tem um motorzinho a jato movido a bateria para dar um empuxo a mais para o surfista. Garrett disparou em linha reta e, acidentalmente, entrou bem na rota de fuga de Greg. Os surfistas afundaram quando a onda quebrou e tiveram que acionar seus coletes infláveis de emergência. O de Garrett funcionou, mas o de Greg deu defeito, e ele teve que encarar três ondas debaixo d’água, perdendo a consciência. Greg não se lembra de seu resgate, só do som distante de vozes e pedidos desesperados para que acordasse, vindos de um dos membros de sua equipe que o tinha puxado da água usando um jet-ski. O choque arrebentou milhões de vasos capilares dos pulmões de Greg, que só recuperou a consciência depois de quase um minuto. O surfista cuspiu um gêiser de sangue e água salgada. Cinco horas depois, a guarda-costeira local o levou de helicóptero até um hospital de San Diego. Tanto Greg como Garrett estavam preparados para um desastre como esse. Embora cada um tivesse sua própria embarcação à disposição, eles trabalharam juntos no planejamento para situações de emergências, unindo recursos como oxigênio, desfibrilador, pranchas de imobilização e kits de primeiros-socorros. “A principal preocupação desde o começo foi com a nossa segurança”, conta Garrett. Mas, após o quase-afogamento de Greg, muita gente pôs a culpa em Garrett. “Garrett é amigo meu”, diz Mark Healey, que estava em um barco fretado por Rusty Long, irmão de Greg. “Mas esse era um erro fácil de se evitar, e ele faz esse tipo de coisa o tempo todo. É muito descuidado.” Mais importante ainda: o incidente adicionou uma nova rusga no debate sem fim entre os defensores do tow-in e os puristas da propulsão humana – o surf de remada ou “paddle-in”. Diferentemente dos jet-skis que os surfistas vêm usando desde o início da década de 1990, as pranchas WaveJet oferecem só uma pequena ajuda a mais – cerca de 10 quilos de empuxo, em comparação aos milhares a mais dos jet-skis. E esse é basicamente o empurrãozinho que um surfista de paddle-in precisa para pegar uma onda que, de outra forma, teria de deixar passar. Ou seja, a WaveJet introduz um novo tipo de surfista no lineup. O problema é que as regras de comportamento no mar ainda precisam ser adaptadas a essa nova tecnologia. O surfista de grandes ondas Shawn Dollar, de 31 anos, criticou o uso da prancha motorizada por Garrett. “Parece mais com surf a reboque.” Já Greg é mais tolerante. “Não tenho nada contra as WaveJets”, explica. “Elas têm sua hora e lugar para serem usadas, e Cortes não é um local para isso. São pranchas mais difíceis de manobrar que as normais para ondas grandes.”
Garrett, que já pediu desculpas a Greg, discorda, alegando que a prancha a motor é similar às pranchas de ondas grandes e que ela permite que o surfista resgate a si mesmo, já que a WaveJet tem a capacidade de se afastar da zona de impacto das ondas por conta própria. “Eu usei minha WaveJet nesse dia justamente para não precisar depender do jet-ski”, conta. Pode até ser, mas, como lembra Greg, quando se está surfando em ondas gigantes, o risco é inevitável. “Aquele tempo com as ondas me segurando debaixo d’água foi algo para o qual treinei”, diz. “De certa forma eu falhei, já que não consegui voltar à superfície. Mas por outro lado também tive sucesso, já que em lugares como Cortes você pode se ver numa situação de emergência da qual não dá para se livrar sozinho. É por isso que você precisa de um time de apoio do seu lado. Fiz o que precisava fazer. E ainda estou aqui.”
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2013)