Treta no Everest


NO CANTO ESQUERDO DO RINGUE: Ueli Steck, Jon Griffith e Simone Moro no acampamento 2 do Everest, antes da briga

O suíço Ueli Steck, conhecido como o escalador mais veloz do planeta (leia mais aqui
), o alpinista italiano Simone Moro, que pilota helicópteros de resgate e tem quatro cumes do Everest no currículo, e o fotógrafo britânico Jonathan Griffith estavam há semanas se aclimatando no Everest, onde tentariam chegar ao cume por uma nova via na face sudoeste, no lado nepalês. A expedição seria em estilo alpino, o que significa que a intenção era ir rápido, leve e sem oxigênio suplementar.

Porém, um problema inusitado – talvez inédito na alta montanha — obrigou o trio a abandonar a expedição: um desentendimento sério entre os ocidentais e os sherpas, que culminou em socos e pontapés a mais de 7.000 metros de altitude.

Segundo relatam vários sites de montanhismo internacionais, tudo começou quando os europeus ignoraram o pedido dos guias sherpas para que não passassem pelo local onde os sherpas estavam trabalhando para fixar as cordas que serão usadas por todos os montanhistas em seu caminho ao cume este ano. Ueli, Simone e Jonathan seguiram em frente e, segundo os sherpas, deslocaram pedras de gelo que teriam atingido os nepaleses. Esse
acidente teria sido o estopim de um confronto que chegou às vias de fato no acampamento 2, a 7.200 metros de altitude.

Em entrevista ao site
Planet Mountain, Simone deu a seguinte explicação:

“A história do montanhismo no Everest começou com a parceria entre um sherpa e um estrangeiro. Quase 60 anos depois, esta parceria tem mudado e muito: era um dia frio e chuvoso. Acredito que eles ficaram nervosos em ver três alpinistas naquelas condições. Que fique claro que nenhum de nós estava provocando ninguém. Em um momento duro, precisamos de ajuda, e eles começaram a gritar e ameaçar e deixaram de lado as duras condições que nos encontrávamos. Acredito que hoje o Everest movimenta milhões de dólares e, apesar da beleza e da dificuldade da escalada, os sherpas parecem não aceitar fazer parte deste comércio. Óbvio que vamos abandonar a expedição. Depois da confusão, nos encontramos com eles, e ficou tudo bem. Mas essa violência matou o nosso sonho de escalada”.

Enquanto a maior parte da mídia dava voz ao trio europeu, o site do montanhista norte-americano Alan Arnette procurou saber o ponto de vista dos sherpas, e divulgou o email enviado pelo montanhista Garrett Madison, líder de expedições da agência Alpine Ascents, que estava no local no momento da confusão. Falando em defesa dos sherpas, Garrett afirmou que os europeus quebraram o protocolo de fixação de cordas em uma seção exposta entre os acampamentos 2 e 3, e se negaram a receber ordens dos sherpas, que tiveram que voltar ao acampamento dois. Simone teria ainda xingado os sherpas em nepalês, pessoalmente e pelo rádio em frequência aberta.

De volta ao acampamento dois, Simone se recusou a pedir desculpa pelo incidente e, enquanto ele um sherpa batiam boca, um escalador ocidental, que nem fazia parte da expedição, agrediu fisicamente um sherpa, o que desencadeou uma briga generalizada entre europeus e nepaleses. Um grupo de guias ocidentais e mais alguns sherpas ajudaram a esfriar os ânimos e reestabelecer a paz. No dia seguinte, Simone pediu desculpas aos sherpas e desceu pacificamente ao acampamento-base.

Posteriormente ele reconheceu a importância da comunidade nepalesa no montanhismo, e ambas as partes assinaram um acordo de paz. Ueli, Simone e Jonathan deixaram o acampamento base ontem, dia 30, de helicóptero. E agora escaladores ocidentais esperam que o respeito mútuo seja mantido e que esta confusão não interfira na relação com o povo local em futuras escaladas.







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