Uma nova era nas filmagens outdoor está começando com a chegada das drones, as câmeras com jeito de helicóptero de brinquedo que podem voar longe para registrar a mais dura das escaladas ou o mais nervoso dos drops de surf
Por Joe Spring
UM PÁSSARO, UMA ARANHA?: A nave-câmera não tripulada Cine Star 9, da Freefly Systems EM JULHO PASSADO, o fotógrafo norte-americano Corey Rich estava pendurado em uma parede da Trango Tower, montanha de 6.250 metros do Paquistão, filmando os escaladores austríacos David Lama e Peter Ortner enquanto eles tentavam escalar um trecho de granito de 900 metros. Após algumas tomadas, Corey guardou sua câmera e chamou pelo rádio o piloto Remo Masina, um suíço que aguardava numa encosta pedregosa a cerca de um quilômetro e meio de distância. Remo pegou um controle remoto e ligou seu quadricóptero Dedicam – uma espécie de câmera-aeronave tipo drone (não-tripulada), do tamanho de um cortador de grama e parecida com uma aranha, cuja cabeça é uma GoPro e as hélices ficam na extremidade de cada perna. Remo ficou no chão enquanto pilotava a drone, usando uma máscara especial que o permitia ver o que a GoPro filmava. O quadricóptero fez três tomadas sobrevoando os escaladores, depois aterrissou, antes de a bateria morrer. A geringonça realizou quatro voos desse tipo durante as dez horas de escalada da equipe (na tomada final, gravou Corey, David e Peter acenando lá do cume coberto de neve). Em setembro, o vídeo chegou ao Vimeo, onde foi acessado 450 mil vezes em dois meses, graças, principalmente, à novidade tecnológica. As aeronaves não-tripuladas, antes utilizadas apenas por exércitos de alguns países, como os Estados Unidos, durante operações de guerra, agora se tornaram obrigatórias no mundo da aventura. Essas câmeras são usadas em diversas situações – do monitoramento de orangotangos ameaçados na Indonésia até esforços de busca e resgate em estações de esqui do Colorado (EUA) – e se tornaram especialmente populares entre os produtores de vídeos de esportes de ação. Em parte porque, ainda que seu aluguel possa custar US$ 5 mil dólares por dia, o valor ainda é uma fração do que se cobra pelo aluguel de um helicóptero. E elas ainda conseguem se aproximar de atletas sem levantar neve ou poeira. Nos últimos anos, essas máquinas vêm captando cenas inovadoras de surfistas na Austrália, de mountain bikers na Inglaterra e de esquiadores na Europa. Atualmente, há mais de cem empresas no mercado das drones, com produtos que variam de um modesto modelo de US$ 300 da marca francesa Parrot até um helicóptero militar adaptado de US$ 1 milhão. A maioria desses equipamentos, incluindo a Dedicam, que custa US$ 3 mil, ainda exige um profissional experiente no comando, como Remo, que aprendeu a pilotar helicópteros por controle remoto quando era criança. Mas isso pode mudar, graças a uma ajuda improvável: Chris Anderson, ex-editor-chefe da revista Wired, que começou a mexer com drones como um hobby em 2006. Três anos depois, Chris fundou a empresa 3D Robotics. Em dezembro passado, após receber um investimento de US$ 5 milhões, a companhia lançou uma nave com GPS chamada FollowMe, que elimina a necessidade de um piloto remoto. A FollowMe vem com uma caixa à prova d’água que se comunica via rádio com o quadricóptero. Um surfista com a caixa pode apertar um botão e chamar a drone, que então voa até ele e grava-o pegando a onda. Quando a drone está com a bateria fraca, automaticamente retorna ao ponto de lançamento. Chris é o primeiro a vender o combo amador de drone-e-caixa, por cerca de US$ 800. “A ideia é oferecer um produto tão simples que dispensa treinamento especial.” Mas não espere um enxame de drones flutuando acima dos picos mais famosos de surf – pelo menos ainda não. Apesar de as drones de Chris possuírem uma câmera com estabilizador giroscópio, como o modelo top de linha Dedicam, elas contam com uma bateria que dura apenas 15 minutos – aproximadamente 1,5 quilômetro de voo. E, por não terem tecnologia para evitar obstáculos – como uma parede, por exemplo –, trabalham apenas em áreas bem abertas, como um pasto ou uma praia. A popularização desses equipamentos terá de passar, ainda, por temas desagradáveis, como privacidade e segurança. De acordo com as leis dos Estados Unidos, por exemplo, os produtores não-comerciais de filmes podem usar as drones, desde que gravem em áreas sem população, que mantenham a aeronave abaixo dos cem metros de altura e à vista de todos. Mas, de acordo com as regras da FAA (a agência nacional de aviação civil dos Estados Unidos), produtoras comerciais estão proibidas de utilizar a máquina. No ano passado, um projeto de lei foi aprovado no Congresso norte-americano para que a FAA atualize seus regulamentos até 2015, e assim novas leis deverão abrir caminho até mesmo para drones de manuseio mais amigável. “Tenho uma fantasia de que a Apple um dia entrará no mercado de drones e colocará sua Siri [um aplicativo criado pela empresa que funciona como uma espécie de assistente pessoal] a bordo de uma dessas coisas”, diz Matthew Waite, professor de comunicação da Universidade de Nebraska-Lincoln (EUA), que estuda o uso de drones na transmissão de notícias. “Aí basta dizer: ‘Siri, venha comigo’ para que ele vá até onde quisermos.”
Todos os olhos
Momentos-chave na produção de filmess com as câmeras drones
2008
O produtor Vincent LaForet e o piloto de drone Tabb Firchau usam uma nave não tripulada de US$ 20 mil acoplada a uma Canon 5D Mark II para filmar Jamie O’Brien surfando em Pipeline, no Havaí.
2010
Após gravar surfistas dropando ondas em Byron Bay, na Austrália, Bri Moreau e Chris Vogelzange sobem o filme no YouTube, como um link para vendas de seu quadricóptero Aerosurfcam. Tornam-se assim os primeiros produtores de vídeo a comercializarem drones. 2011
Holger Buss, co-fundador da empresa MikroKopter, filma a si mesmo fazendo wakeboard num lago da Alemanha com uma drone de US$ 6 mil feita sob encomenda e que o segue automaticamente.
2012
O fotógrafo e cineasta Corey Rich lança um curta-metragem de sete minutos com o canoísta Dane Jackson, a mountain biker Rebecca Rusch e o escalador Alex Honnold – gravado com um octocóptero Cinestar de US$ 5 mil feito com exclusividade para ele –, para promover a nova Nikon D4.
2013
As produtoras Brain Farm e Snaproll Media, responsáveis pelo filme Art of Flight, começam a gravar com uma Schiebel Camcopter S-100, equipada com uma câmera Cineflex de US$ 500 mil que voa a mais de 190 km/h.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2013)