Paraíso perdido

O atol de Bikini, um pequeno anel de ilhas a meio caminho entre o Havaí e a Austrália, é um dos melhores destinos para mergulho e pesca no Pacífico. Por que, então, não há turistas por lá? Bem-vindo ao paraíso, onde os vestígios do inferno se encontram logo abaixo da terra

Por S. C. Gwynne

Fotos Corey Arnold


INACREDITÁVEL: Bunker abandonado dos Estados Unidos estraga a paisagem da
paradisíaca ilha Namu


ALSONKELEN ESTÁ SENTADO CONFORTAVELMENTE sobre o túmulo de sua tia-avó, na longínqua ponta oriental da ilha de Bikini, em um ponto isolado do vasto e super-azul oceano Pacífico. Ele está contando a história de um paraíso perdido, de uma vida que existiuali muito tempo atrás. Hoje com 44 anos, Alson é um homem baixo, de costas largas, careca, pele morena, com elaboradas tatuagens espalhadas pelo corpo, e dono de um sorriso que desarma qualquer um. O mundo que ele descreve é exuberante e adorável, quando ele tinha apenas 10 anos de idade. Brincava com seus amigos aqui, em meio a estescoqueirais e nas coloridas águas da lagoa. Bebiam água de coco e comiam fruta-pão e os frutos de pandanus(uma espécie de palmeira muito comum na costa do Pacífico, cujas folhas são usadas para fazer cestas e telhados). Moldavam anzóis com pregos comuns, os incrementavam com iscas de caranguejo ermitão e pescavam quantos peixes conseguissem carregar. “Todos os dias era uma aventura”, diz. “Nós nadávamos na mais azul das águas. Podíamos cozinhar e comer os peixes debaixo das árvores, e nossa rotinase resumia a pescar, nadar e cozinhar. Era uma época bonita.”

Aparentemente, este lugar continua sendo um paraíso na Terra. Aqui no Cemitério Ancestral de Bikini, com sua respeitável cerca branca e sepulturas desgastadas, a ilha de 5,5 quilômetros quadrados parece continuar exatamente como Alson a descreve. O céu é de um profundo azul cobalto; coqueiros de troncos laranja e franjas amarelas balançam impulsionados pelos constantes ventos alísios. Ainda há árvores de fruta-pão, palmeiras pandanus e árvores de fogo (ou metrosíderos) com o vermelho brilhante de suas flores. Menos de 200 metros em direção ao norte, um recife de coral se encontra com toda a transparência e a violência das águas azuis do Pacífico.
Há apenas um problema, e é possível nunca vê-lo de perto mesmo passando a vida toda nestes coqueirais. O solo debaixo de seus pés, de um cinza esbranquiçado e salpicado de corais, contem um isótopo radioativo chamado Césio-137 (o mesmo do acidente de Goiânia de 1987, lembra?). Em doses altas, ele pode queimar a pele e matar rapidamente; em doses menores, apenas demora mais para cumprir seu trabalho, que culmina em câncer. Não é perigoso tocar o solo em si. O perigo está na vida vegetal e animal que sobrevivem dele, como os enormes caranguejos-dos-coqueiros da ilha que comem plantas. O Césio-137 é uma poeira radioativa, uma palavra apresentada ao mundo durante as sistemáticas explosõesde 23 armas nucleares detonadas pelo exército dos Estados Unidos no Atol de Bikini, entre 1946 e 1958.

Durante o curso de um exílio nuclear que durou 66 anos, o povo de Bikini foi realocado cinco vezes. Eles quase morreram de fome. Viram desaparecer seus costumes e seu estilo de vida. Assistiram à invasão de sua ilha por cientistas nucleares tentando calcular os danos que as bombas tinham lhe causado. Lutaram contra o governo dos Estados Unidos em batalhas legais que chegaram até a Suprema Corte daquele país. Alson fazia parte de uma das três grandes famílias que voltaram para a ilha na década de 1970 depois que ela foi declarada livre de perigo atômico. Ele curtiu uma vida maravilhosa, como descreveu para mim, mas logo depois ficou sabendo, após a descoberta do horripilante Césio-137, que ele e sua família teriam que partir. Há outros homens como Alson, um antigo prefeito dos bikinianos realocados. A maioria deles vive agora em Marujo, capital das ilhas Marshall, e na ilha de Kili, mas querem voltar ao lugar que, acreditam, lhes foi dado por Deus.

Talvez a parte mais cruel do exílio para bikinianos como Alson seja a atual assombrosa beleza do atol, 54 anos depois do fim dos testes atômicos. Logo atrás da cerca do cemitério, a lagoa está transbordando de peixes; os corais são florescentes; as ilhas desabitadas das extremidades do atol são um gigantesco viveiro de aves marinhas; as praias de areia branca são perfeitas e as plantas, densas e exuberantes. Bikini voltou a ser um paraíso, mas com um asterisco.


SUJEIRA ETERNA: Na ilha de Bikini, um pedaço de avião não deixa as marcas do
passado se apagarem

VISTAS EM UM MAPA, AS ILHAS MARSHALL parecem um amplo vazio, um grande oceano azul salpicado por insignificantes pontinhos de terra. Esta também foi a impressão que tive ao sobrevoá-las a bordo de um antigo Dormier 228 turbo-hélicede 17 lugares, mais de 3.000 metros acima das espumas brancas das ondas do Pacífico equatorial. As dimensões físicas das ilhas Marshall te dizem tudo sobre o lugar: 29 atóis de coral e cinco ilhas que ocupam uma área de mais 110 quilômetros quadrados em um trecho de mar de 1,2 milhão de quilômetros quadrados. Entre elas, fica o atol de Bikini, que consiste em um grande recife de formato oval e 23 pequenas ilhas, incluindo Bikini. Ocupa uma área total de 370 quilômetros quadrados. Há mais de 200 quilômetros de mar aberto entre o atol e a ilha habitada mais próxima.

Acompanham-me neste vôo de meados de abril cinco bikinianos, todos descendentes de pessoas que abandonaram a ilha por ordem do governo dos Estados Unidos em 1946, antes do primeiro teste atômico. Três deles – BitenLeer, de 49 anos, Wilson Note, de 50, e Banjo Joel, de 62 – são membros eleitos do Conselho do Governo de Bikini, agora localizado em Majuro. Jackson Laiso, de 79 anos, e AlsonKelen cresceram na ilha de Bikini (Laiso durante a década de 1940 e Kelen durante a abortada repatriação dos anos 1970). Também estão conosco o cineasta japonês MasakoSakata, que está trabalhando em um documentário sobre Bikini, e o fotógrafo Corey Arnold.

Nosso anfitrião e tradutor (nem todos osbikinianos falam bem inglês) é Jack Niedenthal, um figuraça de 54 anos nascido nos EUA. Barbudo, de estatura média e com ombros deex-nadador, Jack veio para as ilhas Marshall em 1981, como professor do Peace Corps (uma organização criada pelo presidente Kennedy para espalhar valores norte-americanos em nações estrangeiras através da expatriação de jovens para vários cantos do mundo). Ele viveu lá por mais de 30 anos, fala marshalês fluentemente e é casado com uma mulher bikiniana. Seu intrigante cargo – “intermediário de confiança e representante do povo do Atol de Bikini” – significa que ele administra o fluxo dos fundos de crédito dos Estados Unidos, que tentam compensar os bikinianos por seu sofrimento e ajudar a limpar o lugar. Ele é amigável, bem relax e um bom contador de histórias, com um repertório de causos sobre seus 30 anos pelos mares do sul.
Todos nós nos conhecemos às 8h da manhã no aeroporto de Majuro, uma ilha de 25 milhabitantes que, em alguns pontos, tem menos de 280 metros de largura. Nosso vôo está nos levando outros 800 quilômetros a noroeste. Chegar a Bikini não é fácil – para a maioria das pessoas, é praticamente impossível. Em 2010, a companhia aérea Air Marshall Islands, conhecida localmente como AirMaybe (maybequer dizer “talvez”, em inglês), esteve com seus três aviões em terra firme por um total de 568 dias por infinitas razões, que foramde problemas de bússola até “paralisação não comandada do motor”. A rotaparaBikini, que até 2008 fazia um vôo por semana, agora é praticamente inexistente. Nosso temperamental avião Dornier foi considerado digno de vôo apenas no último minuto.

Mas a viagem é divertida para meus companheiros. Depois de um vôo de três horas, aterrissamos na ilha de Eneu, no extremo sul do atol – um lugar histórico, mas demaneira macabra e apocalíptica. Com um decadente bunker de aço e concreto perto do aeroportodeserto, Eneuera antigamente campo de provas dos testes de bombas atômicas do exército norte-americano.

De lá, nós subimos em um barco para os últimos 13 quilômetros até a ilha de Bikini. Conforme nos dirigíamos à protegida lagoa do atol, passamos por bóias que marcam os lugares onde navios de guerra foram naufragados durante os testes das bombas, eque agora estãoapodrecendo cerca de 50 metros debaixo d’água, mas com seus canhões ainda intactos. Ali está o Nagato, o principal navio da marinha imperial japonesa, de onde o almirante Isoroku Yamamoto deu ordens para o ataque a Pearl Harbor, durante a Segunda Guerra Mundial. Finalmente atracamos na única doca da ilha e somos cumprimentados por alguns dos homens que vivem lá, parte da esquelética força militarde cinco homens paga pelo cônsul de Bikini para tomar conta da infra-estrutura restante.

Nossos quartos, que estão assentados sobre uma imaculada praia de areia branca de pouco mais de três quilômetros de comprimento, são simples, mas bastante decentes; com água corrente, banheiros, duchas e ar condicionado. Eles são relíquias do que um dia foi a bem-sucedida, mas hoje defunta, BikiniAtollDivers, uma operadora comercial de mergulho criada para ser a pedra fundamental da retomada econômica da ilha.

Saímos de nossos quartos emergulhamos com empolgaçãona água, de 30oC. Os únicos sons que escuto vêm das aves marinhas voando em círculos sobre mim e do vai-e-vem das ondas sobre a areia. Tartarugas marinhas vagam longe da costa, perto dos recifes repletos de brilhantes peixes coloridos. Se existe alguma praia mais encantadora em algum lugar do planeta, eu não a conheço.


APESAR DA BELEZA NATURAL, é impossível caminhar por Bikini sem lembrar de sua história de pesadelo. Todos os objetos feitos pelo homem que se vê foram usados ou para os testes atômicos, ou para tentar ajudar, de algumaforma frustrada, os bikinianos a retornarem a seus lares. Há antigos bunkers construídos para proteger máquinas das explosões; construções levantadas pelo departamento de energia norte-americano como parte de seu programa de medição da radioatividade; casas construídas pelos Estados Unidos durante a década de 1970 para os bikinianos que retornavam; caminhões abandonados, escavadoras, tanques de combustível e empilhadeiras,muitos deles em decomposição e cobertos pela vegetação. Há um edifício de madeira compensada, quase despencando, com uma placa apodrecida que diz Laboratório Rei Juda, estabelecido para fornecer testes de radiação para os bikinianos repatriados. Há uma placa na qual se lê “Nós podemos consertar qualquer coisa menos coração partido”.


A lagoa Azul, na ilha de Bikini


Veículos abandonados no atol

A operação Crossroads, o mais espetacular e caro experimento científico da história, foi proposta inicialmente em agosto de 1945, apenas algumas semanas depois de os Estados Unidos lançarem bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. O presidente Harry Truman tinha ordenado ao exército e à marinha que conduzissem testes adicionais de armas nucleares. A razão, que soa implausívele ridícula hoje em dia, era ver se as bombas atômicas que atingiam navios os faziam afundar ou não.
Os Estados Unidos tinham tomado o controle das ilhas Marshall dos japoneses depois da Segunda Guerra Mundial, e o Atol de Bikini foi escolhido como marco-zero. Seus 167 residentes, que viviam em cabanas, pescando e velejando suas canoas da mesma maneira por séculos, foram persuadidos a deixarem seus lares “para o bem da humanidade e para o fim de todas as guerras mundiais”, como o governador local militar lhes fez acreditar. Eles foram levados até o atol de Rongerik, 200 quilômetros a leste, e receberam alimento para algumas semanas e a garantia de que poderiam voltar assim que os testes terminassem.


Jackson Laiso, um dos 34 nativos nascidos em Bikini que ainda restam no mundo
Enquanto isso, o atol de Bikini se tornava a peça mais importante de uma colossal operação militar. No verão de 1946, havia no local 42 mil pessoas, entre militares e civis, com 242 navios envolvidos nos testes, 156 aviões, mais de 300 câmeras e 18 toneladas de filmes. Como o xis da questão era afundar navios, uma armada de 95 deles – o equivalente à sexta maior marinha do mundo naquela época – foi atracada nas águas da lagoa de Bikini, totalmente carregada com armas e combustível. Para ver o que as bombas seriam capazes de fazer às coisas vivas, 3.350 ratos de laboratório, cabras e porcos foram sacrificados nas plataformas. Soldados tosaram uma parte deles e colocaram protetor solar sobre suas peles expostas à intempérie para ver se isso, de alguma forma, atenuaria os efeitos da radiação gama.

A primeira explosão, apelidada deAble, foi detonada no dia 1o de julho e, porque o artilheiro errou o alvo, resultou de certa forma em fracasso. O lançamento de Baker, no dia 25 de julho, no entanto, foi um monstruoso sucesso. Detonada debaixo da superfície do oceano, ela impulsionou uma coluna de água de 600 metros de extensão em direção aos céus em menos de um segundo. Poucos momentos depois, milhões de toneladas de água e recifes pulverizados colapsaram em direção à lagoa, e uma onda gigantesca provocada pelo choque se deslocou pela água afundando um navio de batalha de 26 mil toneladas e 562 pés; e levantando 15 metros acima do nível do mar a popa do enormeSaratoga, de 880 pés. A onda provocada pelo choque dispersou quantidades enormes de radiação, um fenômeno que não era amplamente compreendido naquela época. A200quilômetros de distância, os bikinianos, recém-reassentados em Rongerik e já a ponto de ficarem sem comida, ainda pensavam que voltariam a seu atol. E em breve.


CRISTALINO: Caçando polvo na piscina natural

NO ATOL DE BIKINI, a sensação é de se estar no fim do mundo – sensaçãoestabastante acentuada quando os dois motores de popa de 150 cavalos de potência de nosso barco 28 pés param de funcionar simultaneamente no meio da lagoa repleta de tubarões. Esta é precisamente a situação na qual nos encontramos no quarto dia de viagem: à deriva, a 25 quilômetros de nosso alojamento em Bikini, abastecidos com água suficiente para apenas um dia, em um lugar onde pessoas sem água não sobrevivem por muito tempo em barcos abertos. Embora tenhamos um rádio e três homens estejam na ilha, nosso barco é o único veículo que funciona.
Nossa potencial salvação é um mecânico filipino que usa uma bandana ao redor do pescoço e atende pelo nome de Benjamin “Bai” Maloloyon, um dos cinco homens que compõem a mão de obra de Bikini. Agora ele está olhando atentamente para os motores e balançando a cabeça. Bai parece capaz o suficiente, mas fala uma mistura capenga demarshalês e inglês que é difícil de entender até mesmo para os nativos da ilha. Um pouco mais cedo, naquele mesmo dia, Jack tinha lhe perguntado sobre levar o barco à doca, eBailhe deu uma longa resposta sobre a preparação de um churrasco de porco para o jantar.

Até então a expedição de hoje estava sendo emocionante, e de uma maneira boa. Depois de deixar a ilha nesta manhã, navegamospela parte protegida do grande recife, sem avistar terra firme por um longo período de tempo, com grandes ondas azul turquesa colidindo ao nosso redor. Tínhamos saído com a intenção de explorar algumas das ilhas mais afastadas do atol. Nosso destino principal era a pequena ilha de Nam, aproximadamente 40 quilômetros a oeste de Bikini, onde aconteceu um dos momentos mais seminaisdo desenvolvimento das armas termonucleares.

Conforme nos deslocávamos pela lagoa, nossos companheirosbikinianos, que vestiam shorts, bonés de times de basebol e carregavam uma rede de tarrafa e uma grande variedade de varas de pesca, nos explicaram que as ilhas mais externas do atol eram áreastradicionais de pesca e caça de aves. Era lá onde eles um dia velejaram com suas notáveis canoas polinésias de 30 pés, que podem chegar a mais de 30 quilômetros por hora de velocidade e que impressionaram os primeiros europeus que as viram. As canoas definiam o antigo modo de vida bikiniano, viajando de ilha em ilha dentro dos limites da protegida lagoa; as canoas podiam também percorrer grandes distâncias em mar aberto.


SERÁ RADIOATIVO?: Edward Maddison segura um caranguejo-dos-coqueiros
Então, de repente, estávamos lá: um pedaço de escuridão em meio às transparentes e rasas águas da lagoa. Era a cratera Bravo, de 1,6 quilômetro de comprimento por mais de 60 metros de profundidade, um lugar que coloca à prova a imaginação humana. A bomba de hidrogênio que foi detonada exatamente neste ponto no dia 1o de março de 1954 criou uma bola de fogo de 6,5 quilômetros de largura e elevou a temperatura da lagoa a 55.000oC. A explosão foi mil vezes mais poderosa que a da bomba de Hiroshima e quase três vezes mais forte do que seus criadores esperavam. Ela fez tremer ilhas que estavam a 400 quilômetros de distância. Pulverizou três ilhas do atol. E matou todas as vidas existentes no ar, na terra e no mar por quilômetros e quilômetros ao seu redor.

Três a quatro horas depois da explosão, os 64 habitantes do vizinho atol de Rongelap assistiram espantados às cinzas de Bravo caírem como neve sobre sua ilha, alcançando uma altura de mais de cinco centímetros. As crianças brincaram sobre as cinzas. Pessoas beberam água saturada dela. Logo eles começaram a vomitar e a ter fortes diarréias, seus olhos se queimaram e os pescoços, braços e pernas incharam. Os norte-americanos não tinham se dado ao trabalhode avisar aos habitantes do atol de Rongelap o que estavam pretendendo fazer.

Com esses pensamentos surreais em mente, lançamos nossas linhas de pesca na enorme cratera aberta pela explosão. Passamos algumas horas em Nam e em Aomen, a ilha vizinha. Havia aves marinhas por todos os lados, milhares delas. Em quase todas as árvores que vimos, havia dois ou três filhotes de andorinha, mergulhão ou tesourão. Em determinado momento, os homens bikinianosdeixaram de buscar sua comida na natureza, uma atividade que lhes dava muito prazer. Majuro, onde eles vivem, é densa e urbana; e seus habitantes compram alimentos em supermercados. Aqui ainda há algo de selvagem, livre e eterno. Alson se lembra da época em que viveu no atol quando criança: “Meu avô era o líder da comunidade”. Ele continua: “Ele reunia os homens para ir pescar ou caçar pássaros e tartarugas. A base da nossa cultura é o trabalho em equipe. Cada um fazendo sua parte”.


Uma hora mais tarde os homens retornam da estreita faixa de selva com um amplo sorriso no rosto e carregando dúzias de caranguejos-de-coqueiro – grandes e assustadoras criaturas que parecem ter sido criadas pelos testes nucleares. Eles contêm Césio-137, mas em uma quantidade cujo consumo ocasional é inofensivo. Foi um momento maravilhoso: um grupo de homens de culturas absolutamente diferentes reunidos para celebrar juntos o antigo e universal sucesso de uma caçada – neste caso, de caranguejos radioativos. Os bikinianos, com enormes sorrisos de ponta a ponta de seus rostos, já estavam planejando um banquete para aquela noite.

Porém, poucas horas mais tarde, aqui estamos, boiando dentro do nosso barquinho quebrado. Baiestá coberto de graxa e suor, metido dentro do tanque de combustível do barco. Agora estamos vivenciando – eu estou, pelo menos – outro sentimento humano universal: o medo. Tentando parecer casual, pergunto a Jack qual é nosso plano B. Ele sorri, examina a enorme arrebentação das ondas chocando-se contra o recife e os mares agitados ao nosso redor, e responde:“Esperança”. No leme, Edward Maddison, outro membro da tripulação que cuida da ilha em tempo integral e antigo instrutor de mergulho da BikiniAtollDivers, brinca: “Se estivéssemos em uma canoa à vela, já estaríamos em casa agora”. Alson ri e balança a cabeça concordando. Finalmente, uma hora mais tarde, escutamos um dos motores Honda de 150 cavalos resmungar: poderíamos atravessar a lagoa de volta.


TRADIÇÃO: Kelen com saia típica de Bikini


TRADIÇÃO: Alson Kelen com saia típica de Bikini

O QUE ACONTECEU aos refugiados habitantes da ilha depois de 1946 foi uma tragédia causada por uma negligência. Nunca houve alimento suficiente em Rongerik: os peixes do recife estavam envenenados; um incêndio tinha praticamente matado todos os coqueiros da ilha. Não havia água o bastante. Em 1948, eles estavam morrendo de fome, apesar de os Estados Unidos terem se comprometido a tomar conta deles. Em março daquele ano, os bikinianosforam transferidos para a ilha Kwajalein, sede de uma nova base naval dos EUA, onde acamparam miseravelmente em uma pequena faixa de grama ao lado da pista de pouso. Alguns meses mais tarde foram realocados de novo, desta vez para a ilha de Kili.
Isso foi um desastre também, mas de outrotipo. Kili era uma ilha de verdade, o que significa que não havia anel de coral, lagoa protegida, ou pequenas ilhas ao redor com vegetação densa perfeita para caçar e pescar; havia apenas as grandes ondas do Pacífico chocando-se contra uma costa pedregosa. Pescar era praticamente impossível. “Era apenas um pequeno pedaço de rocha no meio do oceano com alguns coqueiros”, diz Alson. Mais uma vez o suprimento de alimentos revelou-se escasso. Em determinado momento, os novos habitantes da ilha solicitaram um abastecimento aéreo de emergência. O exílio bikiniano continuou por outros 20 anos depois do lançamento da última bomba, apelidada deFig, em agosto de 1958.

Então, no final dos anos 1960, algo incrível aconteceu. Cientistas da Comissão de Energia Atômica, órgão da ONU que cuida desse tema, decidiram que os níveis de radiação no atol de Bikini “não oferecem ameaça significativa à saúdenem à segurança”. Em junho de 1968, o presidente Lyndon Johnson anunciou que os 540 bikinianos que viviam em Kili poderiam voltar a seu lar, e ordenou que eles fossem reassentados“com a máxima rapidez e eficiência”. Coqueiros, árvores de fruta-pão, arbustospandanus e outras árvores de frutos comestíveis foram plantados na ilha; os escombros foram retirados. Casas foram construídas. Por volta da metade dos anos 1970, mais de 150 bikinianos viviam na ilha.

Foi quando o governo dos Estados Unidos começou a se dar conta de que os níveis de radiação estimados estavam espantosamente equivocados. Em 1977, cientistas registraram aumentos alarmantes nos níveis de Césio-137 nos corpos das pessoas que viviam na ilha. Agora a situação era de emergência, e toda a população de Bikini foi deslocada novamente, desta vez para Kili e Majuro. “Eles trouxeram três navios e muita comida”, relembra Alson. “Eu era jovem. Eu vi os navios e pensei: ‘Vamos fazer um cruzeiro’, sem saber que aquele seria o fim da minha vida feliz neste paraíso. Eu estava correndo ao redor dos navios, mas podia ver que todo mundo estava chorando. Lembro que acenavam e choravam.”

A vida no exílio prosseguiu talvez ainda um pouco mais desesperadora do que antes. Depois de mais uma década de constantes pesquisas, os cientistas outra vez lhes ofereceram esperança. Primeiro vieram os testes de radiação do Departamento de Energia dos EUA e a contratação do Laboratório Lawrence Livermore. Por volta da metade dos anos 1980, cientistas tinham provado que, aplicando grandes quantidades de fertilizantes de potássio sobre o solo de Bikini, os níveis de Césio poderiam ser reduzidos a um décimo do que era. Os cientistas também concluíram que escavações no solo – a simples remoçãoda primeira camada de terra contaminada – poderiam diminuir ainda mais a radioatividade.


PAZ: Pesca do entardecer

Nenhuma dessas soluções era barata, mas foi por volta daquela época quealgum dinheiro de verdade chegou pela primeira vez às mãos dos bikinianos. Eles receberam uma indenização de US$ 75 milhões, em 1986, como parte do novo Pacto de Livre Associação com os Estados Unidos. E depois, em 1988, outros US$ 90 milhões, para serem usados especificamente na limpeza radiológica. O pacto também estabeleceu um Tribunal de Reivindicações Nucleares, o que significou que as reclamações pendentes dos bikinianos contra os Estados Unidos seriam escutadas por uma nova corte. Em 1987, um grupo de anciões bikinianos viajou para a ilha para redesenhar os antigos limites das propriedades; entre eles estava Jackson Laiso, que está conosco na viagem. “Você não pode imaginar a alegria que senti por saber queeles finalmente estavam nos dando dinheiro”, relembra JackNiedenthal. “A alegria de voltar com os homens mais velhos foi uma experiência única.”

As novas tentativas de retorno começaram com a limpeza de Eneu, onde um pequeno vilarejo foi construído para os trabalhadores, junto com uma pista de pouso improvisada. Logo, estavam construindo um hotel em Bikini, além de docas e estradas. Geradores, dessalinizadores e torres de energia foram instalados. Tudo parte dos preparativos para o que todos acreditavam que seria a grande e definitiva limpeza do atol.

Um componente-chave do plano foi a BikiniAtollDivers, dirigida pelos bikinianos, e que também ofereceria pesca esportiva. O objetivo era apresentar ao resto do mundo um dos melhores paraísos inexplorados de pesca e mergulho do planeta. Para os mergulhadores, havia os navios naufragados pelas explosões em 1946, localizados a apenas 50 metros da costa. Também havia os incríveis recifes.

Apesar da destruição atômica, meio séculodepois os corais já tinham se recuperado. E com os corais também vieram os peixes de recife e os peixes que se alimentam dos peixes de recife: atuns de até 23 quilos, barracudas de nove. Sem nenhum ser humano caçando por perto no atol, Bikini ofereceria aos praticantes de pesca esportiva um dos ambientes mais ricos e imaculados do mundo.

Os primeiros turistas chegaram em 1996, e não surpreendentemente a indústria turística ficou extasiada. Publicações como a Newsweeke aNationalGeographic haviam proclamado Bikini como um dos melhores destinos para mergulho do planeta. Por volta de 2000, a BikiniAtollDivers atraía 250 pessoas ao ano, e cada uma delas pagava aproximadamente US$ 4.000 pela experiência – uma boa quantidade de dinheiro para o modesto turismo das ilhas Marshall.


COMO NOSSO BARCO TEM SIDO TEMPERAMENTAL durante toda a semana, nós exploramos a ilha de Bikinitanto quanto conseguimos. Uma tarde visitamos a piscina mais perfeita do mundo. Como tudo no atol, ela tem uma história distorcida. Lá pelos anos 1990, um engenheiro precisou de suprimento de pedras para construir um aterro na ponta ocidental da ilha. Seguindo a respeitada política bikiniana de explodir as coisas, ele dinamitou os recifes da ponta oriental. Construiu um aterro, mas também criou, sem querer, uma piscina com 2,5 metros de profundidade, delimitada por corais no meio do recife mais afastado da ilha. Durante a maré alta, a piscina e os corais são invisíveis. Quando ela baixa, os recifes emergem e ela aparece no meio deles. Calma e espetacularmente limpa, a piscina é rasa demais para os tubarões e excelente para a prática de snorkel.

Nós chegamos quando a água estava no seu recuo máximo. Mergulhamos imediatamente. Quaisquer que tenham sido os efeitos das dinamites no local, elesforam revertidos: as enormes formações de coral hospedam peixes incrivelmente coloridos. Enquanto nado entre eles, Alson caça polvos, como fazia quando era criança. Segura um cabo de uns 60 centímetros com um afiado anzol na ponta. Ele encontra um polvo em uma pedra e, depois de uma breve batalha e diversas explosões de tinta, Alson vence.
Um pouco mais tarde, a maré muda e começa a subir apressadamente, eagora grandes ondas se chocam contra o recife, enviando poderosas correntes de água fria para dentro da quente lagoa. Os tubarões de recife – negros, brancos e cinzas – logo estarão de volta, então saímos e voltamos nossa atenção à pesca: os homens lançaram suas redes em busca de tainhas e cavalas.

Os peixes são absurdamente abundantes por aqui, e nossos companheiros de viagem estão obcecados em capturá-los. Um peixe mordia a isca em quase todas as nossas tentativas de pegar algo. Pescamos vários atuns bluefin e um pargo magnífico. Também fisgamos um pequeno barracuda, que, lutando por sua vida, dobrou a vara pela metade. Depois os tubarões apareceram, negros, de provavelmente 1,2 metro de comprimento, e a brincadeira se transformou em tentar agarrar o barracuda antes que os tubarões o destroçassem em pedacinhos. Tudo isso aconteceu em uma água tão limpa que pudemos ver todos os detalhes da batalha.


Família de refugiados bikinianos em Majuro

Tubarões são uma constante por aqui. A água é adorável, mas você está sempre espiando por trás do ombro. A garantia de observar tubarões foi um dos atrativos das operadoras de mergulho, ainda que ocasionalmente elas recebessem mais visitas dos peixes predadores do que gostariam. “Nós não costumávamos fazer mergulhos noturnos”, diz Jack, que conduzia as operações. “Mas em um determinado momento o líder dos instrutores de mergulho decidiu tentarum mergulho desses em um dos porta-aviões naufragadosnos testes atômicos, pois alguns clientes lhe pediram insistentemente. Eles carregaram um bote, juntaram seus equipamentos e submergiram na escuridão. Quando acenderam suas lanternas, tudo que conseguiram ver foi uma parede de globos oculares de tubarões cintilando sinistramente por toda água que os rodeava. O mergulho durou um total de dez minutos, e nunca mais se tentou nada parecido.”
Perto do final da viagem, estávamos comendo nosso almoço no barco quando alguém jogou uns ossos de frango na água –lançandodesavisadamente uma apetitosa isca. Um tubarão-branco de 1,5 metro apareceu. Nós o vimos se virar agressivamente em direção a Corey, que estava na água colocando seu equipamento de snorkel. “Tubarão!”, todos gritamos, e então passamos os próximos 30 segundo convencendoCorey de que não estávamos puxando sua perna por brincadeira.

“Eu ainda não vi tubarão nenhum”, disse Corey, ainda duvidando de nós, quando finalmente conseguimos arrastá-lo para dentro do barco.

É DIFÍCIL DE DIZER quando exatamente a épica tentativa de retorno dos bikinianos perdeu fôlego. Segundo Jack,começou em 1995, quando o conselho local descobriu que o valor padrão limite para radiação da EPA (a Agência de Proteção Ambiental norte-americana) era significativamente mais baixo que os valores que os cientistas do Departamento de Energia dos EUA vinham utilizando (15 e 100 milirems, respectivamente). Isso elevou muito o custo potencial de uma limpeza nos padrões da EPA.
Havia também outras razões, mais imediatas. O mundo bikiniano estava se transformando. Sua população, que havia crescido rapidamente (os 167 residentes originais agora chegavam a 4.800), era pobre para os padrões norte-americanos, e precisavade uma ampla gama de serviços sociais. Cuidar dessas necessidades começou a ser mais importante. “Eles tinham um fundo de crédito e duas preocupações diferentes”, conta Jack. “Tinham que tomar conta de seu povo onde estavam vivendo agora: moradia, subsídios alimentícios, saúde, educação, bem estar. E o outro objetivo era a limpeza de Bikini, e isso deixou se ser prioridade.”

Depois vieram as sucessivas crises econômicas de 2001 e 2008, sendo que a segunda delas cortou pela metade a ajuda financeira. Os fundos se recuperaram de certa maneira e hoje totalizam pouco mais de US$ 150 milhões. Pode parecer muito, mas, com todos os gastos, a grana permite que o governo de Bikini pague um pouco menos de US$ 15 mil por família por ano – e não deixa praticamente nenhum dinheiro para a limpeza. Os grandes trabalhos públicos iniciados em Eneu no começo dos anos 1990 foram suspendidos. A cidade dos trabalhadores agora é fantasma. Em 2008, a companhia aérea Air Marshall Islands se tornou tão duvidosa que as operações de pesca esportiva e de mergulho tiveram que ser canceladas.

O sopro final da devastação veio em 2010, quando os bikinianos perderam seu maior processo contra o governo norte-americano. Em 2001, o Tribunal de Reivindicações Nucleares outorgou aos bikinianosUS$ 563 milhões como indenização. Mas o tribunal nunca teve fundos o suficiente para pagar por uma reivindicação daquele tamanho. Os bikinianos entraram com outro processo para forçar o pagamento, mas o esforço falhou quando a Suprema Corte se recusou a cuidardo caso em 2010, alegando que não tinha o direito de decidir sobre acordos internacionais. As cortes dos Estados Unidos agora estão fechadas para eles. “Foi absolutamente devastador”, afirma Jack. “Nós sempre tivemos a ideia e a esperança de que estávamos lutando por algo. Quando recebemos a rejeição final da Suprema Corte, nos sentimos acabados.”

É irônico que, mesmo com os infortúnios financeiros, as perspectivas de reduzir a radiação até níveis aceitáveis são hoje melhores do que nunca. A avaliação de março de 2012 do Laboratório Lawrence Livermoreé impressionantemente otimista. Uma de suas recentes descobertas é que os níveis de Césio-137 estão caindo muito mais rapidamente do que o previsto. Apesar de a meia-vida dos isótopos radiológicos ser de 30 anos, sua meia-vida no ambiente atual de Bikinié de apenas nove anos.

“As condições realmente mudaram em Bikini”, diz Terry Hamilton, diretor científico das avaliações da Livermore nas ilhas Marshall. “Eles estão melhorando a uma taxa bastante acelerada. Usando a opção de combinar a remoção da camada superficial do solo com adições de potássio, nós podemos chegar bem perto dos 15 milirem padrão. Agora, sim, os bikinianos que quiserem poderiam voltar.”

Essas descobertas os nativosnuma espécie de limbo cultural, científico e financeiro. Considerando o histórico do governo norte-americano, é difícil culpá-los por estaremcéticos. Mas mesmo se tivessem o dinheiro para um último esforço de limpeza, o retorno seria difícil. Há apenas 34 bikinianos ainda vivos entre os que nasceram na ilha. Apesar de muitos, como Alson, ainda desejarem voltar para seus antigos lares, a maioria dos jovens bikinianos não tem mais esse sonho. Eles nunca estiveram em Bikini. Para eles, o atol é um mito. Com 40% de taxa de desemprego nas ilhas Marshall e uma taxa de crescimento da população de 4%, um número cada vez maior de pessoas está partindo para outros países.

No entanto, Jack, que passou as últimas três décadas tentando ajudar os bikinianos a realizar seus sonhos, não pensa em desistir. “Se viesse alguém e dissesse que o atol deBikini, de repente, é seguro, você não veria todas as 4.800 pessoas da ilha saltando para dentro de um barco”, ele concorda. “Mas eles também vêem o atol como um presente de Deus. Ainda são bikinianos e pensam sobre si mesmos dessa forma. Nosso dever é dar-lhes a opção de voltar, se quiserem.”


VOLTA POR CIMA: Sobrevoando a ilha Eneu


DURANTE A ESTADA DE SETE DIAS em Bikini, nossas vidas seguiram um ritmo preguiçoso: caminhadas pela selva em direção ao lado norte da ilha, almoços com os peixes que pescávamos, viagens a ilhas do sul do atol – tudo temperado com a maravilhosa liberdade de não ter celular nem internet.
Pescar era uma constante. Todas as tardes os bikinianoslançavam suas enormes redes – redondas, com cerca de seis metros de raio e argolas nas extremidades, por onde passa um cabo para fechá-las depois que se afundam dentro d’água – com muita habilidade e precisão. Eu seguia alguns homens ao longo da praia, sem fazer a menor ideia do porquê deles, de repente, gritarem e correrem até as margens. “Nós vemos os peixes”, diz Edward Maddison, apontando para um cardume a menos de 15 metros das margens, que eu, mais uma vez, não consegui ver. “Você só tem que olhar.”

Em duas noites, pescando com isca de polvo, eles capturaram um pargo vermelho de 135quilos. Nós comemos peixe todos os dias: cru ou cozido, frito ou assado em fogueiras a céu aberto. Comemos ceviche de cavala no almoço. Uma vez soube que tinham pescado um pargo mediano na praia. Quando pedi para vê-lomais tarde, eles sorriram. O peixe tinha sido consumido na mesma hora.

Em uma de nossas últimas noites, fizemos um churrasco debaixo do céu incrivelmente limpo do Pacífico central. Estou conversando com Jackson Laiso, de 79 anos, a pessoa mais velha do nosso grupo e um dos 34 nativos de Bikini ainda vivos. Ele fala detalhadamente sobre como velejava quando era garoto em canoas polinésias com os homens mais velhos. Depois descreve os últimos dias em que esteve em Bikini, em 1946. “Lembro quando os americanos chegaram, juntaram os homens mais velhos e lhes explicaram o que precisavam fazer”, ele conta. “Nós tínhamos que nos mudar para que eles pudessem testar suas armas. Era uma questão difícil, mas nos sentimos como se não tivéssemos escolha.”Esta será provavelmente a última vez que este homem vê seu atol.

Poucos minutos mais tarde, cincobikinianos se reúnem debaixo de uma árvore de fruta-pão para cantar o hino de Bikini, escrito por LoreKessibuki enquanto ele vivia os horrores de Rongerik, em 1946. Logo estamos escutando sua doce, triste e perturbadoramente bela harmonia:


Já não posso mais ficar, é verdade

Já não posso mais viver em paz e harmonia

Já não posso mais descansar sobre minha esteira e meu travesseiro

Por causa da minha ilha e da vida que uma vez nela conheci

Este pensamento é esmagador

Enche-me de desamparado e grande desespero


Eles estão cantando praticamente no mesmo lugar onde seus avós subiram a bordo dos navios da marinha dos EUA tanto tempo atrás, de volta aos dias nos quais o paraíso era algo real e ninguém imaginava, nem mesmo por um momento, que eles jamaisretornariam.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2013)







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