Uma (jovem) repórter no Cruce

Entre os dias 7 e 9 de fevereiro, 2.500 corredores estiveram no Chile para participar da 12ª edição do Cruce de Los Andes, prova de 100 quilômetros que percorreu a cordilheira dos Andes até o outro lado da fronteira, na Argentina


Durante a primeira largada do Cruce de Los Andes 2013

Por Mariana Mesquita

Na última quinta-feira (dia 7 de fevereiro), 2.500 corredores estiveram na pequena cidade de Pucón, no sul do Chile, para dar início ao Cruce de Los Andes 2013. A renomada prova de corrida de montanha foi realizada, como de costume, em três dias e percorreu 100 quilômetros pela cordilheira dos Andes até chegar em solo argentino, no dia 9 de fevereiro.

Durante a prova, que pode ser feita em dupla ou individualmente, os atletas sobem e descem montanhas, entre mato, pedreira e até neve. No percurso deste ano, os atletas enfrentaram variações altimétricas que chegaram até 1.922 metros acima do nível do mar. Fora isso, durante os três dias de competição, os ultramaratonistas passaram por três vulcões andinos: o Villarrica, no primeiro dia, o Quetrupillán, no segundo e o Lanín, no terceiro.


VISUAL: Este ano, durante o percurso os atletas enfrentaram muito calor

O Brasil foi o segundo país com mais atletas na competição, ficando atrás apenas da Argentina. No fim do desafio, os brazucas fizeram bonito e, das cinco primeiras duplas na classificação geral, nada menos que quatro eram verde e amarela. Clique aqui e confira o resultado completo. Veja abaixo os nomes dos bravos corredores brasileiros.

1) Iazaldir Feitoza e José Virginio de Morais (equipe Carioca Runners) – segundos colocados na geral e também na categoria dupla masculina “caballeros A”

2) Tessa Roorda e Miguel Mitne Neto (equipe Núcleo Aventura/Quasar Lontra) – terceiros colocados na geral e primeiros na categoria dupla mista “mixtos A”

3) Rafael Campos e Fabrizio Giovannini (equipe Quasar Lontra) – quarto lugar na classificação geral e primeiro na categoria dupla masculina “caballeros B”

4) Cristina Carvalho e Cilene Santos (equipe Núcleo Aventura e Projeto Mulher) – quinto lugar na geral e primeiro lugar na categoria dupla feminina “damas A”

Assista ao vídeo abaixo e entenda melhor o que foram os três dias de prova pelos Andes.

Impressões de uma novata
A repórter Mariana Mesquita, da Go Outside, fez neste ano sua estreia no Cruce. Abaixo, ela conta como foi participar da competição.

"O Cruce de Los Andes é fantástico." Ouvi esta frase quase que como um hino entre amigos e treinadores, por isso não tive dúvidas de agarrar a oportunidade de participar da prova. Resultado: a maior experiência esportiva da minha vida, pelo menos até agora.

PREPARAÇÃO

Antes da prova, eu só conseguia pensar e falar sobre o Cruce. Eu e minha dupla, Isabel Sicherle, sofremos com os treinos infinitos pré-desafio, mas que fizeram toda a diferença durante o duro percurso. A competição requer também um bom "planejamento" de equipamentos, porque dentro da montanha nem sempre tudo funciona como o esperado e o tal "kit obrigatório" é essencial.

DIAS DE PROVA
A chegada em Pucón já mostrava um pouco do que esperar da competição: centenas de pessoas ansiosas para a largada e observadas de perto pelo vulcão Vilarrica (2.843 metros de altitude), o primeiro desafio dos corredores nesta edição. Apesar de estarmos bem preparadas com roupas de frio e todo o equipamento necessário para qualquer situação indesejada, durante a prova passamos muito calor.

Diferentemente das outras edições, neste ano os corredores não largaram do camping da prova, mas de seus próprios hotéis e, com isso, em vez de três noites os atletas passaram apenas dois dias acampados.


RELAXANDO: Depois do dia de corrida, atletas descansam no acampamento da prova
(Foto; Thiago Diz)

A largada aconteceu bem cedo, no dia 7 de fevereiro. Um ônibus levou os participantes até o ponto inicial do desafio, a cerca de 40 minutos de Pucón. No primeiro dia de prova, percorremos 31,5 quilômetros e contornamos o Vilarrica. Não preciso nem dizer que o visual foi incrível. Um diferencial da nossa participação foi a alimentação: batatas e "azetunas", além de muita hidratação. Como disse, estava muito calor e estes cuidados foram diferenciais para manter a energia.

Na segunda etapa, foram mais 41 quilômetros. Desta vez, a paisagem teve como pano de fundo o vulcão Quetrupillán. Este dia foi o mais cansativo, pois além de muito longo foi o que exigiu maior força física e psicológica.

Já no último dia de prova, os ultramaratonistas enfrentaram um percurso menor, mas que depois de dois dias de prova não se mostrou tão fácil. E, logo depois de atravessarmos o último vulcão, o Lanín, fomos recebidos pelo solo argentino.

Os pernoites aconteceram em um camping, com barracas montadas pela organização, com as principais refeições servidas "à moda do exército". Os banhos foram em lagos próximos ao acampamento, que de tão gelados serviam como "crioterapia".

O FIM
Não existe palavras para descrever o fim da prova. Fica na pele as lembranças, dificuldades e a sensação ter concluído o desafio. Como disse uma amiga um pouco antes de começar o segundo dia de prova, "nosso corpo é mais forte do que imaginamos". Dito e feito. Depois do trabalho árduo, foi indescrítivel poder aproveitar um fim de tarde sentada no píer em algum lugar de Pucón e pensar que, junto com aquele dia, acabava um grande desafio.
Ali tinha a certeza de que todos os corredores ampliaram demais suas fronteiras de vida.