Existe vida fora da Terra?

Existe vida fora da Terra? Como surgiram os planetas, estrelas e galáxias? O que podemos encontrar além do Sistema Solar? Todo ser humano, alguma vez, já se fez pelo menos alguma dessas perguntas. E há aqueles que as fazem diariamente, como os astrônomos e astrofísicos do consagrado Observatório Europeu do Sul (conhecido pela sigla, em inglês, ESO). Criada em 1962, a organização é fruto da união de países da Europa e se tornou um dos mais importantes centros de pesquisa de astronomia no mundo.

Parte de suas instalações está localizada sob o límpido céu do Cerro Paranal, no deserto do Atacama, no Chile, e abriga alguns dos maiores e mais avançados telescópios já construídos. Lá, a grande atração é o Very Large Telescope, composto por quatro telescópios individuais que conseguem, ao trabalharem juntos, aproximar imagens a uma distância equivalente a dois metros da superfície lunar.

Entre a seletíssima equipe de pesquisadores do ESO, está o brasileiro Dimitri Gadotti. Escalador nas horas vagas e curioso inveterado, ele é apaixonado, desde pequeno, por desvendar um das últimas grandes fronteiras da aventura: o espaço sideral. A repórter Mariana Mesquita conversou com ele, por telefone, para entender o que acontece no renomado observatório.


GO OUTSIDE: O que exatamente você faz no ESO?

DIMITRI GADOTTI: Eu sou o que se chama de Astrônomo de Suporte. Hoje os telescópios são muito complexos, por isso é preciso treinamento para utilizá-los – nem todo mundo consegue manuseá-los. Temos quatro tipos de telescópios, um diferente do outro, e cientistas do mundo inteiro para nos ajudar a mexer com eles. Devido à demanda global, duas vezes por ano acontece uma competição por “tempo” no telescópio, para decidir que pesquisadores podem usar nossos equipamentos. Os vencedores encaminham seus projetos para pessoas como eu. Nós realizamos o contato delas com as máquinas. O pesquisador não precisa vir até o observatório, porque fazemos isso para ele. Tenho que passar 80 noites por ano no observatório, em diferentes turnos. É muito interessante, mas cansativo, porque as noites podem durar 14 horas, dependendo da época do ano.


Quais as descobertas mais importantes já realizadas pelo Observatório de Paranal?

Existem duas descobertas muito importantes, que são também as minhas favoritas. Primeiro a de que realmente existe um buraco negro no centro da galáxia. A ciência levou 14 anos para confirmar o fato. Só conseguimos explicar o movimento das estrelas se for considerado a presença desse buraco. Até então só conhecido em teoria, esse buraco no centro da galáxia tem a massa de um milhão de vezes a do Sol. As estrelas próximas a ele são sugadas e causam explosões fortíssimas. Isso pode caminhar em direção à Terra, mas felizmente estamos longe do centro e não há problema. A outra descoberta importante é o estudo de exoplanetas – planetas fora do sistema solar. O Paranal foi um dos pioneiros nesse tema, porque os telescópios são muito bons e têm a capacidade de detectar planetas ao redor de outras estrelas. Há 20 anos não se conhecia nenhuma referência no assunto, e hoje constatamos a existência de mais de 400. Agora a ideia é tentar conhecer melhor esses planetas e, quem sabe, encontrar vida em algum.

Quais as consequências práticas de uma possível descoberta de vida em outros planetas para nós, da Terra?

Nosso objetivo é tentar encontrar um planeta que tenha condições de se desenvolver, assim como foi com a Terra. Buscam-se também sinais de vegetação, já que é a base da cadeia alimentar. Descobrir que um planeta tem plantas fazendo fotossíntese seria muito importante. Influência imediata em nossas vidas, de fato, não haverá. Mas acredito que, se isso acontecer, olharemos para nós mesmo com outra perspectiva. Acho muita arrogância pensar que somos a única vida no universo.

Em agosto, a Agência Espacial Norte-americana (Nasa) enviou um jipe-robô, chamado de Curiosity, à Marte para explorar a possível existência de vida no planeta. Podemos ficar mesmo esperançosos em encontrar algum organismo vivo fora da Terra?

Provavelmente existe vida simples como, por exemplo, uma bactéria. Agora, para se ter uma vida complexa e inteligente como a nossa se levam bilhões de anos de evolução, como se passou na Terra. Pode-se dizer que aqui é um lugar especial devido à “tranquilidade”. O Universo é muito violento, e estamos em uma posição satisfatória para a evolução. E isso é difícil de encontrar em outros lugares. Porém se a Curiostity que posou em Marte encontrar vida simples já será revolucionário.


Por que esse tipo de estudo sobre vida extraterrestre é tão importante?

Muitas vezes me pergunto isso também. Que diferença vai fazer para a nossa vida? Mas acredito que, como disse Albert Einstein, uma das coisas mais nobres que podemos fazer é nos questionar sobre como funciona o mundo ao nosso redor. É preciso satisfazer essa curiosidade humana e tentar entender como as coisas realmente são. É importante porque é parte da característica do ser humano.