Depois de esperar por melhores condições climáticas, os brasileiros Angelo Corso, Mario Vidal e Aladir Murta (que recebeu nosso Prêmio Outsider deste ano) começaram mais um grande desafio em suas vidas de aventureiros, desta vez na Amazônia. A equipe terá que remar, andar e velejar por lugares exuberantes da região, como o pico da Neblina — a montanha mais alta do Brasil –, e o rio Negro, um dos mais importantes afluentes do rio Amazonas. No total, eles irão percorrer 2.500 quilômetros no meio do mato (saiba mais AQUI)
De quebra, o trio aproveita a viagem para protestar contra os maus tratos do homem contra a maior floresta do planeta. A equipe transporta do Rio de Janeiro para a Amazônia aproximadamente uma tonelada de equipamentos.
Só no site da Go Outside, semanalmente, você acompanha todas as novidades da equipe. Neste primeiro relato, Angelo escreve sobre os primeiros passos do grupo:
Por Angelo Corso
Ao chegarmos a São Gabriel da Cachoeira, município do extremo norte brasileiro e fronteira com Colômbia e Venezuela, deparamos com uma realidade sociocultural magnífica, surpreendente e atípica, ao menos para, como dizem aqui, um "branco do sul". Encontramos uma população, em sua maioria indígena, extremamente carinhosa e receptiva. Nossos anjos da guarda local foram João Neto e Marino Lima (apesar do nome de branco, são dois indígenas). Ambos possuem uma história de luta de se tirar o chapéu em defesa da saúde de seus parentes. É dessa forma que se tratam, consideram-se naturalmente parentes, assim solidarizam-se e cuidam uns dos outros. Já estão na cidade faz tempo, mas não abandonaram as raízes, buscam na cidade nada mais que conhecimento e melhor estrutura para assistirem seus parentes. Precisávamos de um bom guia para nos apresentar ao rio. A navegação no rio Negro, ao menos para nós, marinheiros de primeira viagem por essas águas, não seria fácil. É um dos maiores afluentes do rio Amazonas, com mais de 1.000 km de labirintos, ilhas, lagos, outros afluentes, igapós, igarapés, alguns trechos de cachoeira e pedras, inúmeros furos e paranas (braços de rios) que podem te levar para fora do leito principal. E pelo caminho teríamos que navegar os dois maiores arquipélagos fluviais do planeta, Mariuá e Anavilhanas. Perder-se por essas águas é mais fácil do que se pensa, e a navegação pode ser um pouco complicada. Em nossa condição de remadores, pode representar horas e até dias de remadas em busca do caminho certo.
(FOTO: Marcelo de Paula) Temos bons mapas e GPS, mas a tecnologia aqui não adianta muito. Com a variação do período das secas e cheias, ilhas e canais aparecem e desaparecem com a mesma rapidez e formam os tais labirintos. Assim nada mais seguro e necessário que o instinto aguçado e o conhecimento de um guia local. E o que havíamos acertado para nos conduzir parte do trajeto não apareceu no dia e na hora marcados. Estávamos ali em frente à ilha de Camanaus, em São Gabriel da Cachoeira, com os equipamentos ajustados, preparados ao longo de três dias na cidade. Os caiaques já boiavam na margem do rio, eu e o Mario Vidal com os remos nas mãos ansiosos na linha de largada, prontos e aquecidos, mas não pudemos partir. Há males que literalmente vêm para o bem, e muito para o bem. Nossos anjos da guarda, João Neto e Marino Lima, estavam ali para nos desejar boa sorte e imediatamente saíram em busca de um novo guia. Disseram-nos que algumas vezes os guias ficam com medo de saírem em longas jornadas com desconhecidos, e de certa forma tem alguma razão nisso. Nossa solução estava na própria ilha de Camanaus. Adiamos a partida para o dia seguinte. Simpatizamos muito com nosso novo guia, um senhor indígena da etnia Tariana, de 59 anos. Ele nos inspirou muita confiança, serenidade e sabedoria. Já havia guiado por dois anos uma médica e inúmeros outros forasteiros e, assim como nós, possui espírito aventureiro. Acertamos os detalhes e marcamos a partida para o dia seguinte. Despertamos ainda pela madrugada, e logo depois nosso guia Leonardo Teles Carneiro chegou. Colocamos os barcos na água, e enfim a primeira remada se deu e, como o rio, começamos a fluir.
Para mais informações e fotos da expedição acesse o blog oficial de Angelo Corso (angelocorso.com.br)
O COMEÇO: Angelo Corso em suas primeiras remadas pelo Rio Negro
(FOTO: Marcelo de Paula)
Mario Vidal, Marino Lima, João Neto e Angelo Corso na linha de largada