Novas tecnologias, confiança e foco são a base para um treinamento à distância bem-sucedido e cada vez mais personalizado Por Maria Clara Vergueiro
QUANDO DECIDIU TROCAR O BRASIL PELA BÉlGICAe assumir um novo lar para chamar de seu, há mais de um ano, a administradora de empresas Patrícia Lobão Peres mudou a vida, mas não mudou o treino de triathlon. Acostumada às lições do seu mestre Reinaldo “Tubarão”Bassit,Patrícia adotou o sistema de remotecoachingou treinamento à distância. Modelo bem difundido nos Estados Unidos por ícones como o ex-atleta e treinador ChrisCarmichael, dono de uma marca poderosa desse tipo de serviço, o remotecoaching faz uso de plataformas tecnológicas para orientar o atletaem qualquer parte do globo e pode incluir acompanhamento nutricional e planilhas de diversas modalidades. “Sou totalmente fã dessa proposta”, conta Patrícia. “Tenho uma comunicação muito eficiente com o Reinaldo e já estava habituada ao nosso treinamento. Ele conhece, como nenhum outro treinador, meus pontos fracos e fortes, como eu reajo aos treinos e como sou nas provas”, pondera a triatleta. Assim, de longe, os dois mantiveram o padrão de resultados sem precisar de uma assessoria presencial ou uma turma para compartilhar a rotina. A receita é boa para atletas que já têm base e não precisam de atenção extra para corrigir a parte técnica e para aqueles com repertório suficiente para diferenciar um trote leve de um ritmado ou um tiro forte de um moderado, por exemplo. “Além disso, para dar certo o aluno precisa ser autossuficiente. Não pode ser do tipo que precisa ser levado pela mão”, explica Fernando, dono da Tempo Run Assessoria, especializada em treinamento online, com um site voltado para quem quer flexibilidade nos treinos e preços mais acessíveis. “Notei que muita gente buscava planilhas prontas de revista, que são bastante impessoais. Muitas vezes as pessoas querem orientação mas não têm tempo, horário fixo ou verba para treinar”, diz Fernando, que monta cerca de 20 planilhas mensais, que podem ser alteradas e atualizadas a cada 15 dias. “É bem diferente de seguir uma planilha prontade alguma publicação especializada, porque está aberta a ajustes e é direcionada às necessidades específicas do aluno”, completa. Tudo o que você precisa saber antes de aderir a este modelo de treino
>> Faça uma auto-análise honesta de si mesmo: se você é um ser extremamente social e precisa de estímulo para treinar, prefira assessorias esportivas próximas de você, com amigos que cobrem a sua presença e te estimulem a participar de treinos e competições.
>> Para aderir aos treinos monitorados à distância, você precisa conhecer bem o seu nível técnico e físico e ter passado da primeira fase. É necessário ter conquistado uma base razoável, que te permita ter boa percepção do seu corpo e ritmo.
>> Quem gosta de ter outros atletas como referência e costuma competir até treinando pode ficar um tanto frustrado de se ver apenas na própria companhia.
>> Sehorários fixos não são com você e a rotina mais entedia do que organiza a sua vida, experimente administrar a própria planilha, reservando um tempo para os treinos de acordo com a sua conveniência.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2012)
Ilustrador: João Pirolla
As tecnologias de monitoramento também permitem que o treinador, onde quer que esteja, acompanhe todo o desempenho do atleta: oscilações de freqüência cardíaca, distâncias percorridas, velocidade, evolução ao longo do período. Depois de treinar, o aluno baixa todos os dados registrados peloaparelho preso à bike ou ao pulso, que depois será lido pelo técnico do outro lado do mundo. “Dá até para treinar com o treinador ao telefone dizendo ‘mais força!’, ‘diminui o ritmo!’”, conta a dentista e triatleta Lícia Elias de Oliveira, que mantém seus treinos em dia com o técnico Marco Antônio de Oliveira. Há quatro anos vivendo em Xangai, na China, Marco coordena de lá os mais de 70 alunos que ficaram no Brasil. Com a ajuda de email, skype e dos tais dispositivos eletrônicos, ele capricha na atenção e mantém fiéis atletas como Lícia. “Fomos nos conhecer pessoalmente depois de dois anos de treinos à distância. Acredito que pelo fato de estar longe, ele é ainda mais criterioso. No fim das contas, tenho certeza de que o meu treino é mais personalizado e especial do que qualquer outro”, derrete-se a aluna, que não faz questão de ficar ao telefone com Marco Antônio, mas é atenta aos diários online, onde ela conta exatamente o que sentiu em cada dia. “Recentemente conseguimos avaliar o meu aproveitamento em uma prova que fiz em 2009, graças aos registros que temos de cada um dos meus treinos e competições.”
Aos 39 anos, Fabio Rosa trabalha há 20 como treinador e é sócio da MPR Assessoria Esportiva, que atende alunos no mundo inteiro. Executivos que pulam de um continente para outroao sabor das negociações, alunos dedicados que querem manter a mesma linha que começaram no país e até estrangeiros que conhecem os desgarrados brasileiros e querem aderir ao remotecoachingcanarinho – qualquer que seja a razão que separa o treinador de seu pupilo, há sempre uma saída, estratégia e recursos para uni-los. “Eu tenho um aluno em Phuket, na Tailândia, que tem uma filha que vive em São Francisco, nos EUA. Preciso estar atento à conveniência dessas pessoas e aos calendários de provas do mundo inteiro para motivá-los”, conta o treinador, que preparou as planilhas de seu aluno com base em uma prova na cidade tailandesa e outra na Califórnia, quando ele estiver visitando a filha. Fabio tem 50 alunos fora do Brasil e vive administrando os mais diferentes fusos horários para conversar virtualmente com todos eles. Pode parecer um árduo trabalho, mas ele garante que tem gente aqui pertinho que demanda muito mais do seu expertise. “Trabalho mesmo dão aqueles alunos iniciantes, que me encontram no treino e querem tirar 200 dúvidas porque não se satisfazem com nenhuma das minhas orientações”, brinca.
Manual do aluno distante