Bombinhas em duas rodas

Por Mariana Mesquita

Depois de pensar na melhor maneira de acompanhar de perto os detalhes da quarta edição da K42 Bombinhas Adventure Marathon, que rolou no sábado (dia 18) em Santa Catarina, a Go Outside decidiu percorrer o trajeto de uma maneira um tanto quanto diferente: de bicicleta. Com uma câmera na mão e uma magrela emprestada, pedalamos pelos quatro cantos de Bombinhas a fim de registrar os melhores momentos da prova de corrida em trilha.

A etapa brasileira faz parte do circuito K42 Adventure Marathon Series, que acontece nos quatro continentes e termina na Argentina. Organizada pelos nossos hermanos da Patagonia Eventos (patagoniaeventos.com), a competição começou às 8 horas em ponto. O dia estava nublado e com uma temperatura baixa, ideal para quem quer sair por aí correndo ou de bike – como era o nosso caso. A largada aconteceu em frente ao hotel Ilha do Farol (referência na região), em Bombinhas, e seguiu para Bombas, sentido Porto Belo.

Largaram ao mesmo tempo os atletas para o revezamento (2x21km) e os maratonistas. Entre a empolgação e o caminho do trajeto, eu e meu parceiro Paulo (aficionado por bikes e escalada) buscamos uma maneira de nos infiltrar no percurso sem atrapalhar os competidores. Logo nos primeiros cinco quilômetros, os inscritos correram por um trecho de piramba e muita terra, na estrada da Antena, a caminho do canto de Zimbros. Enquanto eu pedalava e contava ao Paulo minha frustração de ter sido afastada da competição depois de sofrer uma lesão no joelho semanas antes, as pessoas olhavam para as bicicletas e brincavam com a situação: “E ai, vocês podem dar uma carona?” ou “Ah, assim não vale”.


SOBE, SOBE!: Atletas se esforçam para vencer piramba do começo da K42, a baixo, equipe da Go Outside com as magrelas

Perto do quilômetro 7, fomos impedidos de continuar pelo trecho de trilha, porque as bikes iriam atrapalhar os corredores. Então, descemos tudo de novo. Enquanto os atletas se aventuravam, eu tentava me manter nas duas rodas. Era fácil incentivar outras pessoas a continuar subindo. Mesmo assim, correr em uma descida de terreno irregular é perigoso para inexperientes, pedalar também – como era o meu caso, uma atleta iniciante de corrida e o que dirá das duas rodas. Por isso, mais do que incentivar precisei me concentrar no meu próprio desafio.


CASCA GROSSA: Diego Ferrari, campeão da categoria 25-29 anos, mostra seu óculos, que quebraram durante a prova

Conseguimos chegar por outro caminho ao canto dos Zimbros, uma vila de pescadores de cultura açoriana com uma baía de água tranquila e profunda, ideal para plantação de mariscos. Estacionamos a bike e esperamos os primeiros colocados terminarem o trecho, que durou 11 quilômetros. Quando eles apareceram, era comum estarem sujos de terra ou com manchas nítidas de um tombo. “Eu precisei ir devagar para não cair, mas teve gente que socou a bota – dessa maneira é inevitável escorregar”, conta Tatiana Domingues, que participou da categoria de revezamento. Em seguida, os competidores correram por mais cinco quilômetros pela areia até chegar ao Canto Grande – meia volta na península, e ponto de troca das duplas.

Os atletas utilizavam um número de peito na camiseta e um chip preso ao tornozelo. Nos 21 quilômetros, quem participava do revezamento precisava tirar o chip e passar para a dupla que já emendava a corrida que começava por outra montanha casca grossa a caminho de Mariscal — uma das mais populares praias da região conhecida pelas ondas perfeitas. Também fomos proibidos de colocar nossas magrelas na montanha, então tivemos que pedalar na areia — o que também foi um desafio.


RÁPIDO: Momento do revezamento, no quilômetro 21

Depois de algumas horas de prova, um homem chamou a atenção de todos. Alto, cor de pele bem morena, de sunga (!) e nos pés um Vibram FiveFingers (calçado para corrida minimalista), Daniel Mayer, 30 anos de idade, percorreu os 42 quilômetros em 3h43min. Além de se destacar pelo estilo da corrida, o catarinense é vegan (não ingeri qualquer alimento de origem animal). “Quando eu tomei essa decisão eu queria ser mais saudável, hoje sou adepto desse estilo de vida por ideologia”, diz.

No fim de Mariscal, os atletas correram sentido Retiro dos Padres e, de lá, juntaram forças para concluir a competição. Foram mais 10 quilômetros de montanha e trilhas escorregadias até a chegada em Bombinhas – no mesmo lugar do ponto de partida.


INVICTO:
Pela quarta vez consecutiva, o catarinense Giliardi Pinheiro leva a melhor na prova


Diversão a parte, para muitos a prova foi um verdadeiro desafio. O catarinense Giliardi Pinheiro foi recebido com muita emoção pelos moradores de Bombinhas, depois de vencer a maratona com um tempo recorde de 3h09min e se consagrar campeão pela quarta vez consecutiva. “Apesar de eu conhecer o terreno como a palma de minha mão, o título este ano foi muito importante e especial, porque consegui superar o Alexandre Manzan, triatleta que representa o país em várias competições. Um ídolo”, diz o Gill, como é conhecido.

O fim da competição mostrou clima de festa. Ao cruzar a linha de chegada, cada participante comemorava de uma maneira diferente. Muitos caíram no mar, no chão, de chorar ou rir. “Tivemos corredores de vários lugares do mundo e acredito que melhoramos muito na organização nos últimos quatro anos. Profissionalizamos e a competição está bem melhor e maior”, diz o Juan Carlos Asef responsável pela prova.


A tarde caia em Bombinhas, e restavam poucas pessoas na chegada quando dois curitibanos chamaram a atenção por conseguir concluir o desafio minutos antes do tempo de corte (9 horas). Eles foram os últimos colocados. “Eu era sedentário e fiz pelo menos cinco cirurgias cardíacas, por isso não posso achar ruim chegar em último lugar. É perfeito!”, diz Roberto, 63 anos de idade, que conheceu Paulo Estante, de 55 anos de idade, há alguns anos em uma corrida. “Já queremos nos inscrever na etapa da Patagônia”, completa ele, que inclui o parceiro de “ribeira” na próxima empreitada.







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