Mãe de Bernardo Collares diz que corpo não foi encontrado no local do acidente


Bernardo Collares, que morreu em janeiro

Em uma carta emocionada recém-publicada na página de Bernardo Collares no Facebook, a mãe do escalador que morreu em janeiro no monte Fitz Roy revela que o corpo do filho não foi encontrado no lugar onde foi visto pela última vez. Berna, como era conhecido, perdeu a vida ao cair enquanto descia da montanha argentina. A amiga e companheira de aventura Kika Bradford estava com ele e contou tudo o que aconteceu em um relato para a Go Outside. A carta de Heliane Damiano Collares contesta ainda a versão de que as condições no Fitz Roy estavam tão ruins a ponto de as equipes de resgate locais decidirem não tentar buscar Bernardo. O corpo ainda não foi localizado pelas autoridades argentinas.

LEIA NA ÍNTEGRA A CARTA DA MÃE DE BERNARDO COLLARES:

"Após todo o sofrimento pelas tentativas frustradas de salvar o Bernardo, após tantos "nãos" para nossos apelos pelo resgate, recebemos a notícia de que o corpo do MEU FILHO não se encontra no local onde sua parceira o deixou VIVO, em 03/1/11.

Fotos tiradas em fevereiro constataram que, no local, só permanecem algumas barras de cereal, uma corda (identificada pela Kika como sendo a da ancoragem de Bernardo), o cantil, um bujão de gás para fogareiro, um stopper, uma piqueta e um par de sapatilhas de escalada.

Inexplicável!

Várias indagações podem ser feitas a partir desse fato.

Será que o estado de saúde de Bernardo não era tão ruim quanto as previsões pessimistas que o condenaram, e ele arrumou a mochila, abandonando alguns itens, tentando salvar-se, ante a demora do resgate, tendo queda fatal em outro lugar? Quanto tempo ele esperou? O que sofreu?

Será que saqueadores estiveram lá (onde nos diziam que ninguém conseguiria ir para ajudá-lo), levando o que tinha de valor e empurrando o corpo no precipício?

Como, após tantos dias, barras de cereal permaneceram num lugar em que nos falaram de terríveis ventos que inviabilizavam vôos de helicópteros?

Como nos propusemos a falar somente do que podemos provar, aqui nos limitamos a lançar as interrogações, que permanecem como facas nos nossos corações.

As fotos foram encaminhadas ao Itamaraty, com requerimento no sentido de que se reabra processo judicial que tramitou na Argentina, com novas investigações e resgate do corpo. Na carta, informamos, ainda, que, pelas informações preliminares recebidas dos montanhistas locais, o corpo deve se encontrar no glaciar, a 1000 metros abaixo, próximo à "grande canaleta", em local que pode ser atingido inclusive sem escalada e onde foram resgatadas duas pessoas no ano passado.

E agora, aqueles que nos falaram com tanta certeza de que Bernardo morrera nas primeiras horas do acidente, de hipotermia, teriam as respostas de que nós precisamos para dormir em paz?

E eles, será que têm a consciência livre da culpa por seu amadorismo ter concorrido para a morte de uma pessoa?

Heliane Damiano Collares (mãe do Bernardo)