Não me aqueça neste inverno

Pela defesa da estação mais fria do ano contra os efeitos das mudanças climáticas, a organização norte-americana Protect Our Winters atrai grandes atletas e marcas ligadas ao mundo da neve

Por Denise Mota


ELE É O CARO: O snowboarder norte-americano Jeremy Jones, fundador
da ONG Protect Our Winters

NÃO IMPORTA SE VOCÊ SÓ ESQUIA EM JOGO VIRTUAL ou se tem contato regular ou permanente com neve de verdade. A Protect Our Winters (POW) quer chegar a todo e a qualquer um dos sete bilhões de habitantes da Terra – para essa organização norte-americana, somos todos responsáveis e vítimas das consequências do aquecimento global. Sem neve, não tem esqui, nem snowboard, muito menos Olimpíadas de inverno ou escalada em gelo, simples assim. Em outras palavras, sem a estação mais fria do ano perdemos parte da graça que move o mundo outdoor.

O foco da POW, como seu nome deixa bem claro (“proteja nossos invernos”, em tradução livre), é a preservação de lugares frios. Para conscientizar as pessoas, a organização não mediu esforços e foi atrás dos nomes mais conhecidos dos esportes de neve e das principais marcas que fabricam produtos para se usar na montanha. Assim, a POW virou queridinha de todos aqueles que importam e fazem a diferença nesse meio, ganhando espaço graças a campanhas bem-feitas, logotipos criativos e linguagem visual moderna – sem nunca esquecer sua ideia central, que é envolver empresas e atletas ligados à neve nas discussões e decisões contra o aquecimento do planeta.

Tudo começou cinco anos atrás, quando a lenda viva do snowboard Jeremy Jones passou a presenciar, de forma cada vez mais frequente, o fechamento de estações de esqui devido à falta de neve suficiente. Nascido nos EUA, Jeremy é reconhecido como um dos talentos do snowboard praticado em altas montanhas e foi eleito nove vezes o melhor atleta do ano pela Snowboarder Magazine.

Em vez de botar a prancha embaixo do braço e buscar outros lugares para andar de snow, o californiano decidiu juntar forças para lutar contra o aquecimento global. Reuniu os amigos, foi atrás de ajuda financeira, aprendeu as estratégias do Terceiro Setor e criou a POW em 2007. Desde então, a organização já investiu milhares de dólares em projetos de educação e combate direto às mudanças do clima causadas pelo desenvolvimento humano. Grande parte do investimento vem de marcas como The North Face, Patagonia, Vans, Clif Bar e Fundação Quicksilver.

Ainda que a organização tenha conseguido importantes parceiros e apoiadores, é ainda grande a luta de seus integrantes para vencer uma corrente cada vez mais na moda, especialmente nos EUA, que nega qualquer influência do ser humano nas alterações climáticas do globo. Para essa linha negacionista, a Terra sempre sofreu mudanças de temperatura, e nada do que fazemos afeta isso. “Continuamos a gastar muito tempo lutando contra pessoas que, quase sempre motivadas por razões políticas e econômicas, não querem acreditar nas inúmeras evidências científicas”, diz Chris Steinkamp, diretor-executivo da Protect Our Winters. “Mas temos esperança de que, com o tempo, essa galera perceba que de nada adianta ficar negando fatos óbvios e que todos temos de nos concentrar na busca de soluções.”


EMOÇÃO DUPLA: Acima, Jeremy em ação e estudantes da Aspen High
School, que participaram de projetos da POW

Entre as atividades regulares da ONG, estão visitas de snowboarders como Jeremy e Forrest Shearer a escolas, em um programa espirituosamente chamado de Hot Planet/Cool Athletes (Planeta quente, Atletas “cool”, que em inglês significa tanto frio como bacana). “Outro dos desafios que temos é pensar continuamente na melhor maneira de fazer a diferença. A mudança climática é um tema que está ficando cada vez mais complexo, então o que funciona hoje pode não ser a melhor estratégia amanhã. Nossa missão é sempre a mesma, mas a estratégia está sempre mudando em cada região onde trabalhamos.” As estratégias mencionadas por Chris vão desde a produção de curta-metragens (um deles, batizado de Generations, contabiliza mais de 200 mil visitas na internet) até a instalação de painéis solares em estabelecimentos de ensino. Além disso, há ainda doações a projetos de educação ambiental e saneamento em resorts nos Alpes franceses, além de trabalhos de reciclagem em Bariloche, na Argentina.

A POW também vai onde o poder está. Todos os anos, ela promove encontros de atletas de esportes de inverno com congressistas em Washington, onde fica a sede do governo norte-americano, para lhes pedir empenho na aprovação de leis sensíveis ao desequilíbrio ambiental. “Acho que todos estávamos muito otimistas em 2008, quando o presidente Obama chegou, mas depois de não obter nada em Copenhague e do fracasso em aprovar qualquer legislação referente ao carbono em 2010, ficamos bastante desanimados. É um tema incrivelmente difícil de discutir por conta dos milhões de dólares que são gastos pelo lobby do petróleo e do carvão. Estão simplesmente passando por cima de nós, então nossa estratégia precisa ser a de mostrar que o debate ainda está acontecendo”, afirma Chris.

No ano passado, sob a liderança da POW, foi entregue um abaixo-assinado que pedia para que os senadores norte-americanos apoiassem a EPA (agência ambiental federal norte-americana) e sua autoridade para regular o carbono como poluente sob o Clean Air Act (lei que regulamenta emissões de poluentes no ar). Também promoveram exibições de Generations em várias partes do mundo, incluindo o bairro de Capitol Hill, em Washington. “Infelizmente o dinheiro corporativo é o que guia as agendas políticas em várias partes do mundo. Temos consciência disso, e até chegamos a mudar nossa mensagem para algo como ‘Proteja o turismo’. Mas jamais desistiremos de lutar pelos invernos, em qualquer esfera que seja”, diz Chris.

>> Ao menos faça sua parte
Os seis passos da POW para quem se preocupa com o aquecimento global

1. Aja politicamente > Cobre ações dos políticos em que votou;
2. Eduque-se > Leia sobre mudanças climáticas e converse com as pessoas a respeito;
3. Use seu talento > Você é professor? Trate do meio ambiente em suas aulas. Conhece alguém poderoso? Fale com ele sobre a importância desse tema;
4. Converse com os amigos > Nem todo mundo se interessa sobre esse assunto, mas você pode introduzi-lo na conversa com amigos e familiares;
5. Informe-se sobre marcas e empresas > Veja o que suas empresas favoritas (incluindo onde você trabalha) estão fazendo sobre o tema e prefira estabelecimentos comerciais que tenham preocupações ambientais;
6. Mude de vida e economize dinheiro > Faça o que puder para diminuir o impacto de seu próprio dia a dia, como andar mais de ônibus e trocar as lâmpadas por modelos mais econômicos;

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2012)