Dunas para que te quero


DE FIBRA: Leonardo nas dunas da ultramaratona, Brasil Running Adventure Race

FORAM 24 HORAS de dura corrida. O calor e as grandes subidas pelas dunas diminuíam as forças do mineiro Leonardo Leite. Para continuar foi preciso um trote alternado com caminhada e, ao mesmo tempo, o cuidado de administrar a diferença de tempo dos adversários. Dali a pouco subiria ao lugar mais alto do pódio da Brasil Running Adventure Race, uma prova de corrida de montanha com 160 quilômetros percorridos sem parar no deserto do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, nordeste do Brasil. Com isso, ele defendeu a bandeira verde-amarela na competição, uma vez que não existia nenhum outro atleta nacional inscrito na prova, que aconteceu no mês de maio.

Nascido há 30 anos, Leonardo não demorou muito para perceber que sair em busca de aventuras seria sua grande paixão. Quando garoto, ele morava em um sítio no interior de Minas Gerais. Durante o tempo livre, ele gostava muito de atividades ao ar livre, principalmente andar por trilhas e estradas nas proximidades da casa, além de descobrir cachoeiras e correr pelos campos. “Estar em contato com a natureza sempre me chamou muito a atenção pela sensação de liberdade e desafio”, explica Leonardo.

Mas o primeiro teste em corrida demoraria um tempo para acontecer. Aos 18 anos, se mudou para a cidade de Ouro Preto para estudar engenharia de minas. Dedicado à profissão, ele foi trabalhar, em 2007, em Jacobina, interior da Bahia próximo à Chapada Diamantina. “Fiquei impressionado com o número de pessoas que corriam na região. Então resolvi experimentar”, diz ele. Poucas semanas depois participava da sua primeira competição. “Naquele momento descobri o quanto eu gostava de correr e a partir de então passei a treinar com mais determinação em busca de parques maiores”, diz.

Depois de deixar o lugar que o apresentou à corrida, Leonardo voltou a Belo Horizonte. Como a maioria dos iniciantes na modalidade, o atleta sofreu diversas lesões nos primeiros anos, principalmente por participar de quase todas as competições da região. A mais grave, uma fratura por estresse, o afastou da corrida por quase cinco meses. “Foi nessa época que eu conheci a bicicleta e a natação”, conta o corredor. Com o passar do tempo, e já autorizado a voltar a correr, foi questão de tempo para que experimentasse o triathlon.


SEDE: O corredor brasileiro em pausa para água

O projeto de competir na Brasil Running Adventure Race começou depois da experiência frustrada do Ironman Brasil, em Florianópolis. “Eu participei da prova em 2010, mas percebi que estava no esporte errado. Minha grande paixão é mesmo a corrida de longa distância”, diz.

Bastou um treino da modalidade, em Belo Horizonte, para ele encontrar seu caminho. “Já nos primeiros treinos eu percebi que era aquele meu esporte. Aquilo que fiz durante minha infância de maneira despretensiosa: colocar um tênis e sair correndo pelas trilhas com a natureza como companheira”, confessa.

A primeira prova do atleta foi a Ultramaraton de Los Andes, em Santiago, no Chile. Foram apenas cinco meses de treinamento, mas Leonardo venceu os 80 quilômetros e 3 mil metros de desnível completando o desafio na 11º colocação na classificação geral. Pouco tempo depois, com treinos mais específicos, os resultados começaram a surgir. Depois de uma participação na Patagônia Run, ele voltou ao Chile e conquistou o 3º lugar no pódio. “Foi sem dúvida um momento muito especial para mim”.

Estas competições foram apenas uma preparação para o que demorou pouco mais de cinco meses para acontecer: o Brasil Running Adventure Race. Leonardo precisou se adaptar ao calor extremo, ao esforço físico de correr na areia e ao peso da mochila, visto que nesta prova os atletas recebem apenas água a cada 20 quilômetros. “Fiz um treinamento muito exaustivo correndo em média de 160 quilômetros a 220 quilômetros por semana”, explica Leonardo que também precisou realizar treinos de musculação e exercícios funcionais específicos, visando um maior fortalecimento dos músculos e ganho de resistência.

Durante a competição, o mineiro enfrentou muito calor. “Tratei de não pensar nas dificuldades. São momentos que você precisa ser realmente forte e manter a concentração”, explica o atleta. Mas depois de um dia correndo, o resultado apareceu. “Foi uma mistura de dor e felicidade por alcançar um grande sonho”, diz.

Mesmo após a conquista do pódio de uma ultramaratona duríssima, Leonardo já tem novos desafios na agenda. Entre eles, a BR135, uma das provas de corrida de montanha mais difícil do Brasil, com cerca de 217 quilômetros (ou 135 milhas, daí o nome). A competição brasileira integra a Badwater World Cup, da qual também fazem parte a Europe 135, realizada na Alemanha, e as norte-americanas Arrowhead 135 e Badwater 135. Pela competência e garra que mostrou até agora, Leonardo vai longe pelas trilhas do país e do mundo.

*Leonardo Leite não possui patrocinador