Elemento X


BARBARA BOMFIM com a e
quipe espanhola na linha de chegada do Ecomotion Pro 2012

(FOTO: Wladimir Togumi)

Por Mariana Mesquita

Ao norte do estado de Goiás, a Chapada dos Veadeiros foi palco do Ecomotion Pro 2012. Em maio, 140 pessoas — sendo a maioria atletas brasileiros — percorreram cerca de 600 quilômetros em pouco mais de 108 horas de intensas e difíceis caminhadas, pedaladas e remadas.

Os participantes enfrentaram chuva e trechos casca grossa por um "simples" motivo: completar a maior prova de corrida de aventura do país. Dos 36 quartetos participantes, 22 cruzaram a linha de chegada.

Com um dos integrantes da equipe machucado e a base de remédios, a equipe espanhola Columbia Vidaraid se consagrou campeã do Ecomotion Pro 2012. Mas isso depois de o quarteto ficar um bom tempo perdido num dos trekkings.

A Columbia Vidaraid acumula títulos em provas de aventura desde 2005, quando foi formada. No ano passado, foi campeã da Costa Rica Expedition Race, uma das etapas do circuito mundial. Para o Ecomotion Pro eles contaram com uma ajudinha verde e amarela. A brasiliense Barbara Bomfim, atleta experiente nesse tipo de prova, completou o time como integrante feminina, e defendeu o primeiro lugar conquistado em 2011com a equipe Oskalunga.

Em entrevista à Go Outside online, Barbara conta como foi competir na maior prova de corrida de aventura do país este ano.


FORÇA: Barbara rindo à toa, depois de quase 108 horas de Ecomotion Pro 2012
(FOTO: Alirio de Castro)

GO OUTSIDE: Como foi o seu primeiro contato com a equipe Columbia Vidaraid?
BARBARA BOMFIM
: Disputei contra a Columbia Vidaraid na Costa Rica Adventure Race 2011, quando fui convidada a competir como integrante da equipe Buff Thermocool. Depois de muita disputa, a Vidaraid foi campeã, e a Buff terminou em segundo lugar. Em seguida, nos encontramos na Tasmânia, onde fui com a Oskalunga, por termos sido os campeões do Ecomotion 2011. Depois da corrida conversamos bastante e trocamos contatos, vendo inclusive a possibilidade de competirmos junto. Eles mostraram interesse em vir ao Brasil e conseguiram viabilizar com a Columbia a participação no Ecomotion 2012. Como seria na "minha casa", me convidaram. Para participar de uma corrida desse porte, é necessário patrocínio. Também topei o desafio pela oportunidade de competir com uma equipe de grande nível. Estávamos treinados e com vontade de fazer uma boa prova, mesmo sabendo do alto nível de pelo menos cinco equipes brasileiras.

E como foi o treinamento para este Ecomotion?
O treinamento começou em 2001, pois para uma corrida longa assim conta muito a bagagem e experiência. Especificamente para essa prova, comecei a treinar no carnaval — meados de fevereiro. Treinei muita bike e trekking, mas quase nada de canoagem. Priorizei as duas modalidades por conta do ritmo forte da equipe na bike e no trekking, e por eu ter uma bagagem superior a deles na canoagem. Eu já havia participado de todos as edições do Ecomotion com a [equipe] Oskalunga. Em 2011 fui campeã da prova.

Entre os quase 600 quilômetros de prova, qual trecho você considerou o mais difícil?
O primeiro rio, o Tocantinzinho, mas que foi o mais legal também. Exigiu técnica e trabalho em equipe — só os que souberam trabalhar em equipe saíram bem de lá. O mais difícil e doloroso foi o último trekking, pois meus pés estavam ruins, e eu não conseguia correr direito. Com certeza foi o mais sofrido para mim.


QUE PAÍS?: Barbara e os espanhois levantam a bandeira do patrocinador
(FOTO: Wladimir Togumi)


Você se lembra de como foi seu primeiro contato com esporte?
Pratico esportes desde pequena. Passei por várias modalidades, incluindo o triathlon, até chegar à corrida de aventura. Comecei a nadar devido a problemas respiratórios — em Brasília o clima é muito seco. Mas a verdade é que desde sempre percebi a necessidade de me movimentar, seja correndo com minhas amigas ou saindo de bike. Gosto de esporte e sinto necessidade em suar. As competições me motivam a treinar mais e com mais afinco. Caso contrário, treino somente por prazer, o que já é muito bom. Fiz minha primeira corrida de aventura aos 18 anos, em Pirinópolis, Goiás, no circuito centro-oeste de corrida de aventura, em 2000. Em 2001, com a Oskalunga, entramos no Circuito Brasileiro de Corridas de Aventura, organizado pelo Alexandre Freitas, e desde então não parei mais. Em 2007, quando estive na Califórnia, dei uma pausa nas competições. Mas em 2008 voltei com tudo e conquistei o 4° lugar no Campeonato Mundial, de novo com a equipe Oskalunga.

Vocês tiveram alguma estratégia?
Nossa estratégia foi fazer nossa prova independente dos outros, competimos contra nós mesmos. A equipe normalmente começa a corrida devagar e depois vai aumentando o ritmo. Mas saímos do rio em segundo lugar, e isso acarretou em uma mudança de planos. Seguimos nosso ritmo sem acelerar, pois sabíamos que a prova seria bem longa. Erramos bastante nos trekkings, mas vimos que outras equipes erraram mais, então conseguimos seguir em frente abrindo vantagem, mas sem acelerar mais do que podíamos. No final da prova acabamos relaxando demais e dormimos 5 horas no [retiro] Osho Lua. Quase perdemos nossa vantagem. Aprendemos muito com isso, e não repetiremos o erro.

O que você pensava nos momentos mais difíceis?
Que já havia passado por coisas piores. Sofri tanto na Tasmânia que vai demorar até eu fazer outra prova tão difícil. Depois da Tasmânia, tudo ficou mais fácil. Eu sempre penso que "logo mais" estarei em casa, comendo pão de queijo da minha mãe. Sempre acontece isso, quando vejo já estou deitada no sofá. O sofrimento é muito rápido.

Qual a sensação de vencer a prova?
Boa pergunta! É engraçado, pois não sinto nada demais. Sou ótima vencedora e ótima perdedora, pois não me abalo muito nem por um nem por outro. Não fico tirando onda com a cara de ninguém e nem fico chorando dizendo que não foi justo. Fico feliz em ter alcançado um objetivo, mas não saio dando estrelinha por ter vencido. Vejo que falhei em muitos detalhes e quero fazer outra prova sem cometer os mesmos erros. Assim creio que ficarei mais feliz. O resultado é uma consequência. O que me deixa feliz é ter a oportunidade de competir e seguir explorando locais novos. A organização nos enviou a lugares mágicos na Chapada, e isso realmente me deixou feliz e realizada.

Quais serão os próximos desafios?

Eu quero principalmente defender minha dissertação de mestrado. Sou formada em Engenharia Florestal e quero caminhar para um doutorado. Enquanto isso, vou competir em provas de MTB, duathlon, corrida de montanha e canoagem. Quero me manter em forma. Minha próxima corrida de expedição pode ser o mundial na França, mas ainda não está nada certo. Quero também ver se a Shubi [Guimarães, organizadora do Ecomotion Pro] se anima em voltar a competir, para montarmos uma equipe feminina.