Cometa Haley

Com apenas 27 anos, o norte-americano Colin Haley — um dos convidados de destaque da Semana Brasileira de Montanhismo, realizada no Rio de Janeiro, que aconteceu entre 23 de abril a 1 de maio — ganha rápido destaque mundial por suas escaladas alpinas de altíssimo nível

Texto: Pedro Hauck // Fotos: Rolando Garibotti


SHOW ALPINO: Colin na Patagônia, em uma de
suas perigosas ascensões que misturam escalada
em rocha com alta montanha

A ESCALADA ALPINA É UM DOS ESTILOS mais difíceis do montanhismo, pois mistura técnica em gelo e rocha com ascensão em alta montanha. Nela, há sempre grande incerteza – cada passo deve ser bem calculado para evitar acidentes fatais. Geralmente esse tipo de escalada é enfrentado por escaladores mais velhos e, obviamente, mais experientes. Porém Colin Haley, um jovem norte-americano de apenas 27 anos, se tornou o nome de maior destaque nesse estilo da atualidade, mostrando que, no seu caso, pouca idade não é impedimento para o sucesso. O escalador foi um dos convidados ilustres da 1ª Semana Brasileira de Montanhismo, que rolou no fim de abril no Rio e que promoveu debates, encontros e palestras sobre o assunto.

A história de Colin nesse esporte começou muito cedo, ainda nas montanhas Cascade, no noroeste dos Estados Unidos, onde ele mora. Logo o prodígio percebeu que queria expandir ainda mais seus limites, e então passou a encarar montanhas selvagens e difíceis no Alasca, na Patagônia e no Paquistão, conquistando algumas rotas extremas e fazendo travessias entre cumes gelados.

Uma das maiores peripécias de Colin aconteceu em 2008, quando, na companhia do argentino Rolando Garibotti, ele realizou a travessia do Cordón do Cerro Torre, na Patagônia – chegando ao cume de diversas montanhas que, individualmente, costumam ser “a escalada da vida” de muitos montanhistas experientes. Meses atrás, uma polêmica no próprio Cerro Torre trouxe Colin de volta às manchetes de veículos especializados no tema, quando uma dupla de montanhistas eliminou proteções fixas dos anos de 1970 após chegarem ao topo desse pico. Apesar de se dizer a favor da retirada, Colin não gosta de alimentar polêmicas, defendendo apenas que um montanhista precisa treinar e evoluir sempre, e não é a montanha que deve ser facilitada para que se possa chegar até seu topo. Conheça abaixo um pouco mais desse surpreendente montanhista de fama meteórica.


NO TOPO: Colin no cume do Cerro Torre

GO OUTSIDE: O que te motivou a praticar montanhismo desde tão cedo?
COLIN HALEY:
Meu pai começou levando meu irmão e eu para escalar montanhas quando eu tinha apenas 9 anos. Eu sempre amei o esporte desde o início. Com 14 anos, eu já era obcecado por escalada.

Por que você se enveredou pela escalada alpina? Quando percebeu que era esse seu estilo?
Escalada alpina é o que sempre pratiquei desde sempre. Eu só comecei escalar em rocha mais tarde. Acho que a escalada alpina proporciona mais aventura. Além disso, o ambiente das montanhas é muito mais espetacular.

Você conquistou várias rotas de escalada nas Cascade. Lá é seu lugar favorito? O que as Cascade têm que a tornam um local tão especial para a escalada alpina?
Em nenhum lugar dos Estados Unidos, com exceção do Alasca, as montanhas são tão grandes e têm tantos glaciares. São as montanhas mais impressionantes e contagiantes do meu país. Eu cresci escalando as Cascade, pois são as montanhas próximas da minha cidade natal, Seattle. Considero-me muito sortudo por haver crescido perto de montanhas como essas. Não dá, claro, para comparar as Cascade com o Alasca, a Patagônia ou o Himalaia. Outras cadeias montanhosas fora dos Estados Unidos são maiores e mais difíceis que as Cascade, por isso fui atrás delas. Comecei a explorar outras áreas de escalada assim que tive a oportunidade de fazer isso. Foi quando eu estava com uns 16 anos.

Você é protagonista de alguns dos maiores feitos da escalada alpina da atualidade, como a travessia de todos os cumes do Cordón do Cerro Torre. Como surgiu a oportunidade de fazer essa travessia e como se preparou para a aventura?
Essa travessia foi uma experiência maravilhosa e, com certeza, uma das melhores escaladas que eu já realizei. Na época meu parceiro, Rolando Garibotti, estava muito mais forte do que eu e com muito mais experiência. Então considero essa escalada mais uma realização dele do que minha. Mas mesmo assim tenho muito orgulho de mim mesmo!

Recentemente você se envolveu na polêmica da retirada dos grampos da via do Compressor do Cerro Torre. Para muitos escaladores, aquelas proteções eram um patrimônio histórico do local. Você, que estava lá, o que acha disso tudo?
É uma história muito complicada, e fica impossível explicar meu ponto de vista em um só parágrafo. Mas, sim, eu acho maravilhoso que a escadaria de grampos da via tenha sido finalmente removida. Pela primeira vez em 40 anos, o Cerro Torre demanda o devido respeito numa escalada com dificuldade extrema como essa.

Para viajar pelo mundo e escalar com dedicação exclusiva, é preciso ter dinheiro. De onde vem seu apoio financeiro?
A maior parte da minha renda vem do meu principal patrocinador, a marca de artigos outdoor Patagonia. Além disso, ganho dinheiro com fotografias e textos que produzo sobre escalada. Na verdade, é pouca grana, e acabo vivendo abaixo do que os Estados Unidos definem como “linha de pobreza”. Vivo de forma bem barata, com poucos confortos. Todo dinheiro que ganho vai direto para meu próximo projeto de escalada.

Como você enxerga o Brasil no cenário do montanhismo e escalada no mundo?
Não posso comentar sobre o Brasil porque é minha primeira vez visitando o país. Vocês não têm grandes montanhas para escaladas alpinas de alto nível. No entanto, pelo que sei, há muitíssimas escaladas em rocha de alta qualidade, além, é claro, de escaladas alpinas incríveis nos vizinhos Peru, Chile e Argentina.

Qual é o recado que você daria às pessoas que almejam um dia serem escaladores profissionais como você?
Primeiramente eu diria para elas evitarem sonhos de “prestígio”, pois não há nenhum nesse meio. Há somente um motivo para se perseguir a escalada em nível profissional: é preciso ser absolutamente fascinado por ela e querer escalar em todo o tempo livre, ano após ano. Esta precisa ser sua maior prioridade na vida. Além disso, você deve ser extremamente dedicado e preparado para sacrificar coisas como vida social, relacionamento sério, segurança financeira e família.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de maio de 2012)